‘Explode Coração’, que chega hoje ao Globoplay, foi ao ar pela primeira fez em 1995, quando a internet em casa ainda era para pouquíssimos e os aplicativos de troca de mensagens ou de paquera soavam coisa de ficção científica
Agora, em 2020, com a web mais consolidada do que nunca, ‘Explode Coração’ chega à plataforma para ser maratonada por quem adora uma boa história, independente da geração. Como de costume, a autora Glória Perez transporta o público para uma cultura completamente diferente da sua. No caso de ‘Explode Coração’, a cultura cigana.
A trama principal parte justamente da tradição deste povo de promover contratos de casamento entre famílias, no caso os Sbano e Nicolich, que prometeram os filhos Dara (Tereza Seiblitz) e Igor (Ricardo Macchi) um para o outro quando os dois ainda eram crianças. Com o noivo prestes a chegar ao Brasil, vindo da Espanha, todos aguardam ansiosos pelo casamento, menos Dara, que não aceita a imposição. Filha do rico comerciante Jairo (Paulo José) e da passional e alegre Lola (Eliane Giardini) ela deseja estudar e ser independente para ter um destino diferente ao reservado às mulheres ciganas.
Contra a vontade do pai, Dara sonha em trabalhar e começa a fazer escondido um curso pré-vestibular, vivendo sob a tensão de ter sua origem descoberta pelos amigos. Em meio a este conflito, ela inicia uma arriscada relação pela internet com o empresário Júlio Falcão (Edson Celulari), que vive um casamento de fachada com Vera (Maria Luisa Mendonça). Depois que se conhecem pessoalmente, eles acabam se apaixonando.
No pingue-pongue abaixo, a autora Gloria Perez e o ator Edson Celulari relembram a obra e comemoram a chegada da novela na plataforma.
Gloria Perez
Eu diria que foi a primeira novela interativa. Ela nasceu da minha convivência nas redes jurássicas de então. Convivendo ali, vi pessoas se apaixonando, desfazendo namoros e até casamentos por gente que nunca tinham visto pessoalmente. Era uma versão nova do velho amor por correspondência. Isso me fascinou. Comecei a conversar com aquelas pessoas, a ouvir suas histórias, a imaginar como seria o mundo quando aquela inovação se popularizasse. Foi fácil perceber que logo teríamos cores e ilustrações. Então, imaginei uma versão do que depois viria a ser o Skype. Era um mapa mundi, onde apareciam os pontos onde pessoas estivessem conectadas naquele momento. Você apertava o ponto e começava um chat.
Porque ela fala de gente, de sentimentos humanos, da dificuldade que as pessoas têm de aceitar o diferente. Isso se potencializa quando você mostra outra cultura, outra maneira de enxergar o mundo, que não é melhor nem pior do que a nossa, mas é diferente. Diversidade, tolerância: esse é um tema recorrente em todos os meus trabalhos.
– Como surgiu a ideia da trama?
Da ideia de escrever sobre a internet. Estávamos em 1995. Não era a internet tal como conhecemos hoje, era BBS, ainda. Sem sistema de busca, sem ilustrações, nem recursos de áudio ou de vídeo. Mas dava pra antever a revolução que aquela “praça” virtual faria acontecer. Ela derrubava fronteiras, permitia que você pudesse ir a qualquer lugar do mundo e conhecer pessoas que a vida real não lhe permitiria conhecer. Foi pensando em criar um encontro muito inusitado que nasceu a ideia de fazer os caminhos de um empresário moderno, entusiasta da internet e de uma cigana se cruzarem.
As redes trazem mais rapidamente aquela temperatura que nós sempre procuramos nas ruas, quando estamos no ar. Isso é uma vantagem, mas tem seu contraponto: há que se saber ler, filtrar o que é e o que não é pra ser levado a sério.
As melhores. Na BBS conheci pessoas com quem mantenho contato até hoje. Tive uma convivência muito rica com o universo cigano, e me orgulho de ter dado minha contribuição para a redução do preconceito que sofrem.
– Como reagiu ao saber que a novela estaria no Globoplay?
A gente fica muito feliz quando um trabalho vai repetir, e todas as memórias começam a vir à tona. Essa novela foi exibida antes de o meu filho Enzo nascer. É uma novela muito rica de história, de conteúdo e muito bem produzida. Fico alegre de o público poder ter acesso à obra novamente.
Os temas tornam a novela atual. O mundo girou, já são 25 anos desde a primeira exibição. Mas será que o homem mudou tanto? Retomar qualquer conteúdo que tenha diversidade de temas como tem ‘Explode Coração’, que propõe muitas reflexões é algo muito vivo, muito atual para os dias de hoje. Acho que a liberdade de escolha, o impulso de querer conhecimento e o desejo pela independência sempre serão universais. Além disso, a novela fala de paixão. Fala da paixão que não deve ser medida para ser vivida e não pode ser impedida por medo ou receio. É bonito ver os apaixonados. Eles têm coragem.
– Quais as principais lembranças desse trabalho?
Eu me lembro de ter feito uma grande pesquisa porque o Julio Falcão, meu personagem, estava ligado a informática, o que era novidade para mim. Eu me lembro que, nas gravações, a gente tinha muito cuidado para toda aquela comunicação online parecer real, mas não era uma coisa simples. Gastamos certo tempo, principalmente no início, até criarmos uma linguagem. Também lembro que viajamos para Tóquio. Foi uma experiência incrível. Era uma turma muito divertida e tenho as melhores memórias.
Com direção de Dennis Carvalho, Ary Coslov e Carlos Araújo e direção de núcleo de Paulo Ubiratan, ‘Explode Coração’ traz ainda no elenco nomes como Rodrigo Santoro, Cássio Gabus Mendes, Renée de Vielmond, Lenadra Leal, Gracindo Júnior e Françoise Forton, entre outros talentos.