Inocentes de Gaza

Inocentes de Gaza. Ilustração : ArteCult / DALL.e

INOCENTES DE GAZA

*Luis Turiba

Clique aqui para ver Luis Turiba recitando o seu poema “Os Inocentes de Gaza”. Imagem: Rose Araujo.

nada sou – se muito
um micro grão de poeira tóxica no ar de Gaza

nenhum vento me leva
nenhuma onda me afoga
nenhum quarteirão
me arrasa
pingo nenhum me atinge
demolidor no seu frio em fogo

não sei onde piso nem como resgatar meu juízo
diante dos olhos perfurados e
perdidos nesta nuvem escura de Gaza

tive um lar casa destruída por bombas teleguiadas
vestido de sangue & barro,
ferida no fundo
de minh’alma
nesta terra arrasada
por destroços
ossos aços riscos físicos
sou um carne-viva sem ter como cair morto

pedaço padeço
de endereço territorial
sou aquele menino sem pão nem pai
um despatriado sem colo nem chão
aquele quase cego
nos clarões das explosões
sem tímpanos para ouvir as sirenes do inferno
e os chamados de Abraão em pleno deserto

ah!… que Alá nos proteja
e Cristo nos guarde
novo ressuscitamento em Gaza
marchemos!
a boca seca
o rosto empoeirado

senhores donos do deserto
sem água nem remédio
sons de sinos e silvos de foguetes eletrônicos
sub-humanos
onde estão vossas crianças decapitadas antes de suas existências?

ando por edificações e nada
desarmado e mal-amado por gatilhos
de um vazio sem fio sem-terra
sem-ar & sem-mar
nenhum amor pode
me fuzilar

o que sobrou de mim
é minha terra
meus destroços meu chão minha poeira
onde planto (mais uma vez) meu coração
palestino

Revisão: Rose Araujo

Texto de LUIS TURIBA

Luis Turiba em Brasilia. Foto de Rose Araujo.

*Luís Turiba é jornalista aposentado, poeta com 3 livros editados pela 7 Letras do RJ, e outros 8 livros no campo da poesia independente e/ou marginal.É editor da revista anual de invenções poéticas Bric a Brac, criada em Brasília, em 1985. A Bric a Brac 8, última edição, saiu em 2022, uma celebração ao centenário da Semana de Arte Moderna de 1922 e ainda pode ser encontrada nas melhores livrarias de Ramos.

@luisturiba