IGNACIO JUSTO: O Brasil se despede de outra lenda, agora do Quadrinho Nacional

É com muito pesar que nós do Artecult, Editoria QuadriMundi, informamos que um dos mestres do Quadrinho Nacional nos deixou nesse último sábado, dia 17/08/2024: Ignacio Justo. Ele tinha 92 anos.

Ignacio Justo. Homenagem feito pelo Augusto Minighitti.

Ignacio Justo, ou melhor, Benedicto Ignácio Justo de Siqueira, nasceu iniciou a vida marcado por tragédias, perdendo os pais e os avós de criação ainda pequeno. Ignacio publicou sua primeira HQ no Suplemento Juvenil, com apenas 10 anos de idade. Aos 18 anos ingressou no Exército, onde chegou ao posto de Segundo Tenente. Suas paixões, desenho e aviação fizeram-no pilotar pequenos aviões e criar quadrinhos e, neste, nos deixa um legado de HQs de terror, suspense e, principalmente, de guerra (sua grande especialidade). Era conhecido por seu estilo realista e detalhista.

Homenagem de Evertom Dutra (Tom) , aluno de Ignacio Justo

Ele tinha uma habilidade marcante para criar narrativas visuais que combinavam uma forte atenção aos detalhes anatômicos e arquitetônicos com uma atmosfera dramática e envolvente. Seus desenhos frequentemente traziam uma profundidade emocional aos personagens, refletindo influências tanto de quadrinhos clássicos quanto de movimentos artísticos tradicionais.

Homenagem de Décio Ramirez, que também foi aluno do mestre Ignacio Justo

Além disso, Justo tinha um domínio técnico do uso de sombras e luzes, o que contribuía para o clima de tensão e mistério em muitas de suas histórias. Ele também trabalhou com temas variados, mas era particularmente reconhecido por suas adaptações de histórias de aventura e ficção histórica.

Homenagem do quadrinista Lorde Lobo

Seu traço era limpo, preciso, e focado em capturar a essência dos personagens e cenários de maneira que o tornava um dos grandes nomes no panorama dos quadrinhos no Brasil.

Homenagem do quadrinista Bira Dantas

Com o opoio de outro mestre das HQs, Nico Rosso, publicou seus primeiros trabalhos na Editora Continental, seguindo a carreira e desenhando HQs de terror, suspense, espionagem e guerra, sendo esse último o gênero que mais gostava e no qual faria a maior parte de sua produção.

Biografia “Ignácio Justo – Pilotando Quadrinhos” lançada pela Editora Criativo.

Ignacio tambem formou outros artistas, quando montou o “Barraco do Justo“, uma escola informal de quadirnhos. Assim, outros grandes artistas puderam evoluir na Nona Arte brasileira, tais como Pedro Mauro Moreno, Aparecido Cocolete, Ailton Elias, Wanderley Felipe e Tony Fernandes, entre outros.

Sua primeira HQ, “Aventuras de Paulinho”, foi publicada em 1942 no Suplemento Juvenil de Adolfo Aizen, quando o artista tinha apenas nove anos. Também produziu cartuns, histórias de samurais e ficção científica. Para a M&C, ilustrou A Múmia, roteirizada por Gedeone Malagola e protagonizada pelo personagem “Kharis “da série de filmes “A Múmia”da Universal Pictures.

Para a Editora Abril, ilustrou histórias sobre a Marinha e a Aeronáutica do Brasil escritas por Ivan Saidenberg, algumas delas protagonizadas por “Zé Carioca” e seus sobrinhos, “Zico” e “Zeca”, ilustrados por Carlos Edgard Herrero.

Em 2023, a Editora Criativo lançou a biografia Ignácio Justo – Pilotando Quadrinhos, contando a trajetória de vida desse importante artista do traço.

Em junho desse ano de 2024, entramos em contato com Ignacio Justo e o convidamos para participar em Junho da exposição “Os Super-Heróis Negros Brasileiros” no MUHCAB (Museu da História e Cultura Afro-Brasileira), de curadoria de Paula Ramagem, Adalberto Bernardino, Erick Lustosa e Raphael Gomide, com a obra “Karate Mão de Ferro“.

Imagem da capa de “Karatê – As Aventuras de MÃO DE FERRO”, que foi exibida em junho/2024 na exposição “Os Super-Heróis Brasileiros” no MUHCAB.

Principais Influências do Mestre

Ignacio Justo foi influenciado por uma ampla gama de artistas e estilos, tanto dos quadrinhos quanto de outras formas de arte. Entre as principais influências que moldaram seu estilo e abordagem como quadrinista, destacam-se:

Quadrinhos Europeus – Justo foi fortemente influenciado pelos quadrinhos europeus, em especial pelo estilo franco-belga, que preza pelo detalhamento gráfico e pela narrativa bem estruturada. Artistas como Hergé, criador de Tintin, e Moebius (Jean Giraud), conhecido por suas obras de ficção científica e fantasia, exerceram uma grande influência em sua maneira de desenhar e construir narrativas.
Realismo Clássico – Sua arte foi marcada por uma abordagem realista, em parte inspirada por mestres da pintura e do desenho tradicional, como Leonardo da Vinci e Michelangelo, que Justo admirava pelas técnicas anatômicas e pela precisão nos detalhes. Ele trazia esse realismo para o universo dos quadrinhos, criando personagens com proporções realistas e cenários bem elaborados.
Quadrinhos Americanos – Justo também absorveu influências dos quadrinhos norte-americanos, especialmente de artistas como Will Eisner, criador de The Spirit, e Alex Raymond, de Flash Gordon. O foco na narrativa visual, bem como o uso inteligente de sombras e composição de cena, são marcas que podem ser atribuídas a essas influências.
Arte Brasileira – A cultura e a história do Brasil também foram uma fonte de inspiração para Justo. Ele incorporou elementos da cultura nacional em seus quadrinhos, seja através de temas históricos ou paisagens locais, criando um vínculo profundo com as tradições artísticas brasileiras.

Com essas influências variadas, Ignacio Justo desenvolveu uma identidade artística única, combinando o realismo com uma narrativa fluida e envolvente.

Obras mais famosas

Ignacio Justo é conhecido por diversas obras importantes dentro do universo dos quadrinhos brasileiros, com destaque para aquelas que se conectam fortemente com a cultura e a história do Brasil. Essas obras contribuíram para a popularização dos quadrinhos no Brasil e ajudaram a solidificar a reputação de Ignacio Justo como um dos mestres do gênero.

Algumas de suas obras mais famosas incluem:

Além dessas, Justo trabalhou em várias editoras importantes, como a Editora Abril, Edrel, e Pan Juvenil.

Comentários de Quadrinistas sobre Ignacio Justo:

“Grande Ignácio Justo, sua partida marca o fim de uma era. Sua contribuição para o cenário cultural do Brasil é inestimável. Pioneiro e visionário, Justo não apenas ilustrou, mas deu vida a personagens e histórias que atravessaram gerações, influenciando leitores por décadas e formando artistas em sua escola, “O Barraco do Justo”. Sua obra transcendeu as páginas, refletindo a identidade e a criatividade brasileiras. O legado de Ignácio Justo permanecerá vivo, inspirando futuros artistas e mantendo acesa a chama da narrativa visual no Brasil.” (HUGO MAXIMO – @hugo_para_iniciantes)

“Uma perda significativa de um pedaço vivo da história do Quadrinho Brasileiro. O Ignácio foi responsável pela formação de toda uma geração de grandes artistas, de modo totalmente altruísta no famoso “barracão do justo”, além disso, dono de uma narrativa envolvente e um traço único que se destacava pela beleza dinâmica de suas formas. Um homem muito a frente de seu tempo.” (ERICK LUSTOSA – O Martelo Quadrinhos – @omarteloquadrinhos )

“O mundo fãs HQs nacionais perdeu um dos grandes pioneiros d a arte sequencial deste país, o Mestre Ignácio Justo.Um ser dotado de altruísmo q aí longo dos anos ajudou a firmar diversos profissionais para as HQa e para a publicidade sem cobrar um centavo por suas valiosas aulas.Foi mais dos q um pai, nós mostrou o caminho com seus ensinamentos sempre acompanhado por sua geverisi esposa, a incrível Dona Nilza, que nos tratava com amor e carinho. Justo foi um apaixonado por arte e em especial pela Nina Arte.Foi um verdadeiro herói da resistência, um gde guerreiro num.mercado difícil e instável e quase inexistente. Devemos todos seguir seu exemplo. Jamais foi arrogante. Sempre foi uma pessoa simples e atencioso com todos que o procuravam. Cumpriu sua missão e deixou um gde legado. Eu, assim como muitas outras pessoas q frequentaram o lendário “Barraco do Justo” devemos nossas carreiras a este gde Mestre. Que Deus o tenha em bom lugar e q descanse em paz.” ( TONY FERNANDES, que também foi aluno do mestre Ignacio Justo – @tonyfernandes213 )

“Lamentavelmente, nunca tive contato com o grande Ignácio Justo. Conheci seu trabalho ainda criança, quando minha avó materna Francisca de Oliveira me levava como companhia para compras de supermercado ou nas feiras livres, onde por perto sempre havia bancas de gibis novos e também usados. Sem muito dinheiro disponível, ela me comprava mais gibis de segunda-mão, entre os quais a série “Combate”, cujas magníficas capas pintadas por Ignácio Justo faziam faiscar meus olhos deslumbrados de moleque. É uma pena que a ida desse grande mestre dos quadrinhos brasileiros, nos impeça de ver mais de seus desenhos perfeitos e impactantes. Porém, fica na história das HQs nacionais a maestria da sua arte, que inspirou a minha geração e certamente inspirará as novas gerações de quadrinhistas do Brasil.” (EMIR RIBEIRO” – @emirlimaribeiro)

“Este final de semana ficou marcado pelo desencarne de mais um Mestre dos Quadrinhos Nacionais, o grande Ignácio Justo.
O que conforta os fãs é saber que teve uma vida longa e produtiva. Seu legado criativo é impressionante e seu nome ficará, para sempre, num lugar de destaque da história da 9a Arte Brasileira.
Que Deus conforte os corações de seus familiares e fãs!” ( Lorde Lobo – Quadrinista e editor-chefe da iniciativa Grandes Heróis BR – @grandes_herois_br)

“Os nossos grandes mestres estão nos deixando e apesar da enorme perda para os quadrinhos e arte visual, Ignácio Justo fez o que podia pela arte brasileira, deixou seu legado. Seus traços preciosos serviram muito para ilustrar o terror e a guerra durante longos anos junto a outros grandes quadrinistas. A sensação é a de um vazio de mais um grande artista que nos deixa. Mas sua obra será eterna nos corações de quem leu grandes histórias ilustradas por esse grande mestre.” (ELLYAN – MeuHerói – @ellyan.meuheroi)

“Ignacio Justo alem de ser um grande desenhista, amigo, pessoa, tbm era um enorme personagem de quadrinhos. Quem teve a honra de conviver com ele, como eu convivi sabia das inumeras aventuras que circundavam sua casa. Eram aventuras divertidissimas dirantes as aulas de anatomia e desenho. Sempre ao lado de sua maior sargenta e unico amor Nilza e seu filhos Alex e Ivan , o convivio era como familia. Ele era único, sem duvida e seus ensinamentos, ao menos para mim, não foi apenas de desenho mas de carater e vida. Eh uma perda terrestre muito grande, mas continua e continuara vivo tanto no universo quanto em nossas mentes. Desejo muita Luz e gratidão a esse que me acolheu, ja la na Topázio no bairro da Aclimação. Vida longa aonde ele estiver!” (DÉCIO RAMIREZ, que também foi aluno do mestre Ignacio Justo – @decioramirezart)

“Eu conheci Ignácio Justo em um lançamento da Ópera Graphica, organizado por Franco de Rosa e Carlos Rodrigues, na livraria Comix, em Sampa. Foi no início dos anos 2000. Estavam lá Collonnese, Zalla e Shimamoto lançando e autografando seus álbuns em Quadrinhos. E eu, verdadeiro pinto no lixo, revendo mestres como Shima (eu o conhecera no encontro de Quadrinhos de Araxá em 1987). Mas, também estava lá o notório e talentoso Ignácio Justo, grande piloto no ar e na prancheta. Na verdade, eu já o conhecia do livro A Técnica do Desenho que ganhei de Jayme Cortez em 1977, suas aulas de composição e story telling já tinham me convencido de sua maestria em reproduzir aviões de guerra, pilotos e suas indumentárias. Foi daí que surgiu minha tentativa de garimpar suas revistas “Combate” publicadas pela editora Taika. Anos depois, encontro num sebo o Almanaque Disney de 74 com a HQ “O correio aéreo nacional” com belos desenhos retratando esta instituição importantíssima. Graças ao Guia dos Quadrinhos, venho a saber que o roteiro era de Ivan Saidenberg e os desenhos eram de Carlos Edgard Herrero e Ignácio Justo. Nesta HQ, desenhada a quatro mãos, Zé Carioca conta a Zico e Zeca a história da instituição aérea. Os papagaios são desenhados por Herrero, enquanto os outros personagens são traçados por Ignácio em seu traço documental.
Eu o reencontrei algumas vezes mais, em 2006 quando recebeu, da AQC, o merecido Troféu Angelo Agostini de Mestre do Quadrinho Nacional. Em 2019, no Sketchcon III promovido pela editora Criativo, lá estava ele. Conseguiu pilotar seu aviãozinho de guerra pela pandemia de COVID que se abateu sobre nosso país e ceifou quase 700 mil vidas, metade delas facilmente evitáveis, era só ter a vacina. As editoras Criativo e GRRR! (de Marcio Baraldi) tiveram a brilhante idéia de publicar sua biografia ilustrada (Pilotando Quadrinhos), Múmia (com Gedeone Malagola) e Karate (com Minami Keize), que deveriam estar nas estantes de qualquer aficcionado por Quadrinhos brasileiros. Eu saúdo o mestre e espero que esteja pilotando nuvens com Angelo Agostini, Jayme Cortez, Henfil, Daniel Azulay, Paulo Caruso, Ziraldo e Ykenga entre os passageiros.” (BIRA DANTAS – @bira.dantas.5 )

Confira também os depoimentos em vídeos dos quadrinistas:

Lancelott Martins:

https://www.youtube.com/shorts/3gF23b3Co7E