A ideia criada para Free Guy, que é tirar um personagem NPC (sigla em inglês para “Personagem Não Jogável”) da sua programação dentro do jogo virtual do qual faz parte e criando sua própria trajetória em seu mundo, de início abre diversas portas para aprofundar em diversos temas, desde livre arbítrio a inteligência artificial, e nos desperta a curiosidade de saber onde o roteiro chegará com isso, mas a história acaba caminhando para um ritmo menos contemplativo, onde a direção se preocupa mais em fazer um game cinematográfico, do que desenvolver questões um pouco mais profundas.
Primeiramente, o personagem Guy funciona pelo carisma do ator Ryan Reynolds, que interpreta seu personagem com bastante leveza. É difícil tirar a imagem do Deadpool de primeira vista, principalmente pelo seu jeito, que é praticamente idêntico, tirando a forma do personagem agir, sendo o mais certinho possível, sem machucar ninguém, o que distancia do seu personagem da Marvel.
A montagem é um pouco bagunçada, com a direção colocando um monte de acontecimentos um atrás do outro, sem dar um devido tempo par o público refletir, mas o maior problema, é que o roteiro passa tempo demais mostrando a cidade fictícia do jogo de Free City e pouco aprofundando no mundo real e nos conceitos sobre como um mero NPC criou vida própria, seria bem interessantes as discussões feitas sobre a origem desse evento, mas infelizmente perde-se a chance de se aprofundar nesse tema, dando mais espaço ao mundo dentro do jogo, mostrando a evolução e interação de Guy ao sair de sua zona de conforto.
Guy, apesar de ser um personagem divertido, conquista a atenção do público, o seu desenvolvimento acaba tendo muitas facilitações vindas do roteiro, principalmente perto do fim do segundo ato, que provoca no Guy um ótimo conflito existencial, mas a solução acaba sendo fraca.
A cidade de Free City tem uma ótima construção de ambiente, que remete bem o cenário de um jogo caótico e violento, onde as missões dos jogadores são, praticamente: matar, roubar e conquistar. Algo típico para um jogo desse estilo, o que faz Guy se destacar ainda mais dentro desse mundo, quando começa a criar seu próprio rumo, agindo de modo honesto e sem violência bruta.
O diretor Shawn Levy (“Stranger Things”) cria bem o ritmo de um vídeo game para o filme, que funciona na questão da ação e da interação, mas também aplica o mesmos elementos no enredo, o que torna a história não muito criativa, pelo menos o que se passa dentro do jogo, já que a direção acaba colocando o espectador como um jogador. Apesar da ótima experiência de imersão nesse mundo, sentimos que a trajetória não tem um objetivo, é só um monte de momentos aleatórios, como por exemplo, o romance piegas do protagonista, ou como o mundo acompanha a jornada de Guy com seu estilo diferente a de outros jogadores, que atrai os olhares do público em geral, o que atrapalha ou não contribui na crise existencial do protagonista. O roteiro apresenta ótimos argumentos, o coloca no caminho certo, mas a direção não acerta no percurso e na finalização do conceito do personagem.
Uma das coisas mais desagradáveis do filme é o antagonista, interpretado por Taika Waititi, que é o típico cara egocêntrico, mandão, se achando melhor que todo mundo, e toda essa personalidade caricata do personagem chega a nos irritar toda vez que entra em cena, apresentando planos impulsivos para destruir o protagonista, que faz o público sentir ódio por ele, não porque é cruel, mas simplesmente por ser chato.
Confira o Trailer:
Free Guy diverte pelo visual e criatividade do universo caótico criado para esse mundo, colocando boas referências de um vídeo game em sua estrutura, além de referências diretas de obras voltadas para o cinema, mas os defeitos na composição e na condução, atrapalha e desperdiça a chance do filme desenvolver melhor diversos conceitos tecnológicos relacionadas a inteligência artificial.
NOTA: 6
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