Sucesso de crítica, solo de dança documental, contemplado no Programa de Fomento à Cultura Carioca (FOCA), faz curta temporada em setembro no Centro Coreográfico da Cidade do Rio de Janeiro, na Tijuca.
Um corpo que se escuta entre o passado e o presente. “Casa”, quinta criação da Companhia Gelmini, surgiu a partir da pesquisa de uma dança documental entre as memórias de um corpo maduro e seu momento presente. Interpretado por Paulo Marques, com direção de Gustavo Gelmini, o solo, que estreou em 2019, no Rio, e depois foi apresentado na França, volta à cidade para uma curta temporada, de 02 a 25 de setembro (de sexta a domingo), no Centro Coreográfico da Cidade do Rio de Janeiro, na Tijuca, onde foi criado.
O espetáculo, baseado na relação da dança com teatro do movimento, trata sobre o corpo que habitamos: a nossa casa. Mais especificamente sobre um corpo maduro que se conecta com suas memórias físicas no momento presente. Sua dramaturgia nasce do encontro de um bailarino de 58 anos, de formação clássica e um coreógrafo que traz sua experiência com a montagem cinematográfica.
“É o encontro de duas gerações. Um bailarino mais velho, com seu histórico clássico, em uma diferente abordagem das potencialidades de seu corpo, para além da virtuosidade, e eu, que trago uma forma de coreografar nada clássica, pautada em técnicas do teatro do movimento e do cinema. Dois artistas que resolveram dar eco às suas vulnerabilidades num processo de criação repleto de escuta e atravessados pela vida”, explica o diretor.
Toda a criação dos movimentos foi feita a partir de conversas, leituras e audições de música, como num jogo de quebra-cabeça. Do improviso, nasciam ideias, frases coreográficas. O material era editado por Gustavo e apresentado de volta à Paulo. Diante dos takes propostos pelo diretor, Paulo foi conectando os movimentos, que, por fim, foram montados como um filme para formar o espetáculo.
“Minha maneira de coreografar passa pela montagem cinematográfica. A montagem afeta, pois cria uma ordem de representações que geram uma imagem, uma ideia, para além da representação. Estamos falando da atração criada pela manipulação do tempo”, explica Gustavo.
A essa edição cinematográfica, soma-se a presença da luz de José Geraldo Furtado. A Casa é o corpo, mas também o palco, o teatro. O espaço está vazio, mas preenchido pela luz que atravessa este espaço habitado por seu intérprete. Como se a dança estivesse in situ no teatro. Através do vocabulário corporal particular de Paulo Marques, dentro da justaposição imaginada entre palco e espaço, o tempo é suspenso e a relação com o público é criada.
A proposta dramatúrgica se fez também pelo uso da Técnica de Alexander, que pressupõe a inibição do movimento antes que ele aconteça, dando origem a outra forma de representar a mesma ação. “A técnica fala sobre desfazer um hábito do seu corpo. O que ela pede é a inibição daquele movimento imediato para fazer de outro jeito. Isso me torna vivo, inteiro na cena e não uma repetição do que já sei e sou”, explica Paulo Marques. Segundo ele, não é sobre fazer o movimento da melhor forma, mas sim, sobre produzir uma experiência que acontece imediatamente e se materializa em cena, afirmando sua presença.
Desta forma, o que o público sente e assiste é uma espécie de cura. Um processo de autoconsciência do intérprete, que revive seu passado naquele momento e apresenta uma nova perspectiva, uma dança própria, que é só dele, mas que pode ser a de qualquer um que assiste e se afeta. Não é sobre o balé clássico, mas como o damos voz a uma corporeidade que é nossa. Por isso, “Casa” também é político. Mostra que todo corpo, apesar de suas imperfeições ou de ser considerado fora dos padrões, é capaz de afetar. “Todo o corpo emociona se você está disposto a escutá-lo”, reflete Gustavo.
“Casa” foi contemplado no Programa de Fomento à Cultura Carioca (FOCA), através da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro e Secretaria Municipal de Cultura RJ.
HISTÓRICO / PROGRAMAÇÃO
Fruto de uma residência artística no Centro Coreográfico da Cidade do Rio de Janeiro, “Casa” foi apresentado no Teatro Cacilda Becker, em 2019, sendo selecionado pelo jornal O Globo entre os melhores espetáculos de dança da temporada. No mesmo ano, foi apresentado no Colóquio Internacional du Group Arts du Geste na Universidade Paris 8 e exibido no Cité Internationale des Arts em Paris. Em 2021, com o apoio da Embaixada do Brasil na França, foi exibido no Le Centquatre-Paris, como resultado de residência artística.
A programação conta com a exibição do cinedança “Falta”, de Gustavo Gelmini, feito em Paris durante a epidemia de Covid-19, exibido nas Journées du Patrimoine 2021, na Embaixada do Brasil em Paris. Para completar, será promovida duas oficinas gratuitas de cinedança com Gustavo Gelmini e dramaturgia em dança com o bailarino Paulo Marques, ambas com duração de 4h.
FICHA TÉCNICA:
Direção e Coreografia: Gustavo Gelmini
Intérprete-criador: Paulo Marques
Dramaturgia: Gustavo Gelmini e Paulo Marques
Desenho de Luz: José Geraldo Furtado
Assistente de Direção: Fernanda Sant’Ana
Fotografia: Mauricio Maia
Mixagem: Cyril Hernandez
Fotografia: Mauricio Maia
Produção: Juliana Mattar
SERVIÇO
Local: Centro Coreográfico da Cidade do Rio de Janeiro (R. José Higino, 115 – Tijuca) – Loft
Data: 02 a 25 de setembro (sexta a domingo)
Horário: 18h
Valor: R$ 20,00
Duração: 40 m
Capacidade: 60
Classificação: 14 anos
Contato: (21) 3238-0357