LIVRE ADAPTAÇÃO DE CLARICE LISPECTOR, O FILME “O LIVRO DOS PRAZERES”, ESTREOU NO DIA 22 DE SETEMBRO
O ArteCult entrevistou Marcela Lordy, diretora da coprodução entre Brasil e Argentina que estreou dia 22 desse mês e traz Simone Spoladore e Javier Drolas nos papéis principais longa conquistou prêmio de melhor atriz e menção honrosa em longa metragem no 22º Bafici.
Assista o trailer:
SOBRE O FILMEo romance “Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres”, de Clarice Lispector, a roteirista e diretora Marcela Lordy estava diante do enorme desafio de transpor a prosa da escritora para a tela. Mas havia a alegria de levar para o cinema um dos maiores nomes da literatura latino americana.
Quando resolveu adaptar“O livro mostra que ainda é preciso criar espaços de poder para as mulheres e que este espaço começa dentro da gente. Além disso ele nos convida a repensar a forma como descartamos nossas relações afetivas.” (Marcela Lordy)
Com distribuição da Vitrine Filmes, uma produção da bigBonsai e da Cinematográfica Marcela, O LIVRO DOS PRAZERES chegou aos cinemas brasileiros junto com a primavera.
CONFIRA A ENTREVISTA EXCLUSIVA COM A DIRETORA MARCELA LORDY
O Cinema e Companhia (Portal Artecult) conseguiu uma entrevista super exclusiva com a maravilhosa diretora Marcela Lordy sobre o filme, confira:
1) O filme correu por diversos festivais mundo afora como foi a recepção do mesmo nas mais diferentes nações?
O filme foi muito bem recebido por onde passou. É curioso ver um filme intimista e pessoal ser universal. O cinema tem essa capacidade de envolver as pessoas através da emoção. O tema da auto superação e do amor próprio é universal. Clarice também é universal, mas o filme é outra linguagem, é uma livre adaptação para os dias de hoje que dialoga com o contemporâneo. Creio que o fato de a adaptação ser para os dias de hoje ajudou muito neste sentido.
2) De onde surgiu a idéia da concepção do projeto?
Da minha vontade de falar da posição da mulher brasileira na sociedade patriarcal ontem e hoje, de amor, e, acima de tudo, amor próprio.
3) O filme é uma Coprodução entre Brasil e Argentina e antes de estrear aqui em nosso país foi exibido na Argentina a convite da Embaixada Brasileira, você esteve presente? Poderia compartilhar um pouco sobre essa experiência?
O filme já havia sido exibido na Argentina em 2020, no 22º BAFICI (Festival Internacional de Cine Independente de Buenos Aires), onde ganhou o prêmio de melhor atriz para a Simone Spoladore e uma menção honrosa do júri de melhor longa metragem.
O convite da embaixada brasileira veio agora em comemoração aos 200 anos da independência brasileira. Foi próximo ao lançamento comercial do filme por aqui, o que foi ótimo para marcar a data do lançamento comercial por lá. El Libro de Los Placeres será lançado no dia 15 de dezembro em toda Argentina.
Eu representei as diretoras brasileiras na ocasião do bicentenário em duas sessões realizadas em parceria com o do INCAA (O Instituto Nacional de Cinema e Artes Audiovisuais), a secretaria RECAM (reunião especializada de autoridades cinematográficas e audiovisuais do Mercosul), e a embaixada brasileira na Argentina. Uma no Cine Gaumont em Buenos Aires e a outra na sala do INCAA em Jujuy, na 8ª edição do festival Cine da las Alturas. Ambas sessões especiais de filmes brasileiros dirigidos por mulheres. Foi uma surpresa ter o filme convidado e uma honra imensa. O filme foi aplaudido nas duas sessões e o Q&A com o público de quase uma hora demonstrou o interesse deles.
4) O filme possui diversas camadas interessantes e abordam temas extremamente importantes como: posição feminina na sociedade, o patriarcado, sexualidade e muitos outros. Gostaríamos que você falasse um pouco sobre o desenvolvimento dos mesmos na trama?
Lóri sente uma “dor” profunda que vem da ansiedade e vontade de se identificar como mulher independente numa sociedade patriarcal. Através dela, a escritora Clarice Lispector constrói pela primeira e única vez uma mulher-protagonista que realiza seu destino obtendo a autoafirmação e a autorrealização. Algo difícil, não só na literatura da época, mas ainda nos dias de hoje, mais de 50 anos após a publicação do livro.
Se o prazer sempre foi um tabu para a mulher, escrever ou falar sobre isso ainda hoje é problemático. Como as mulheres foram acostumadas a ler sobre o próprio corpo sob uma ótica masculina, o erotismo feminino parecia sublimado, incapaz de se expandir em direção a um crescimento individual. Por isso, esta obra publicada em 1969, em seguida da revolução cultural de Maio de 1968 e num momento crítico da política brasileira, foi extremamente ousada ao propor uma revolução feminista para o lado de dentro da mulher. Clarice escreveu o livro em pleno AI-5, o quinto de dezessete grandes decretos emitidos pela ditadura militar.
“Lóri busca aventureiramente sua identidade real, aprende a se libertar dos outros, a se despir da máscara social e a viver corpo-a-corpo com a banalidade da vida.”* Vindo de Clarice, tudo isso acontece de forma extraordinária, claro. A autora que revela em sua obra intimista um olhar extraordinário a partir do ordinário propõe aqui uma viagem ao consciente através de um processo de individuação que só se completa na transcendência através do outro, mas de um outro humano, real e não divino.
A trajetória de Lóri é a de toda mulher em busca de autonomia. Não só da mulher, mas de toda pessoa que tem coragem de olhar para dentro e enfrentar o que nem sabe que existe. Vivemos com Lóri o encontro com suas sombras e o mergulho profundo em sua crise existencial. Da escuta silenciosa à descoberta de sua própria voz, Lóri aprende a se colocar atravessando uma jornada de autoconhecimento que culmina na expressão do seu canto de sereia. Ao mesmo tempo selvagem e suave.
A forma como as cenas de sexo foi filmada reflete o ponto de vista do prazer feminino. Estamos sempre conectados a Lóri, ao prazer dela. Se ela não está presente de corpo e alma, as cenas são curtas e performáticas, mas quando ela sente prazer e se conecta, as cenas são longas e gozamos junto com ela.
Atualizamos diversas cenas e criamos cenas novas, como as do irmão Davi, interpretado pelo ator Felipe Rocha, que representa com humor e complexidade o patriarcado brasileiro. No livro a participação dele é bem menor.
O nosso Ulisses, interpretado pelo argentino Javier Drolas, é menos pedante e machista do que a versão original, no filme ele é um machista mais descontruído.
Outra coisa importante é que Lóri amadurece pelos seus próprios passos, já no livro é Ulisses quem conduz essa transformação. No filme, tanto ela quanto ele são bissexuais, o que não acontece no livro. No livro eles demoram um ano para transar pela primeira vez, e no filme eles transam na primeira vez que se conhecem.
Temos mais cenas de escola no filme, a festa de formatura toma outra dimensão, com outro desfecho. Enfim, foram muitas transformações, seria legal alguém se debruçar sobre isso.
Agradecemos enormemente pela exntrevista!
FICHA TÉCNICA
- Direção: Marcela Lordy
- Elenco: Simone Spoladore (Lóri), Javier Drolas (Ulisses), Felipe Rocha (Davi), Gabriel Stauffer (Carlos), Martha Nowill (Luciana) e Teo Almeida (Otto)
- Participação Especial: Leandra Leal, Julia Leal Youssef e Ana Carbatti
- Produção: Deborah Osborn, Marcela Lordy, Felipe Briso e Gilberto Topczewski
- Coprodução: Hernán Musaluppi, Natacha Cervi e Marcello Ludwig Maia
- Produtoras Associadas: Camila Nunes, Simone Spoladore
- Roteiro: Josefina Trotta e Marcela Lordy
- Direção de Fotografia: Mauro Pinheiro Jr, ABC
- Montagem: Rosário Suárez, SAE
- Desenho de Som e Música Original: Edson Secco
- Direção de Som: Federico Billordo
- Direção de Arte: Iolanda Teixeira
- Produção Executiva: Marcello
- Ludwig Maia, Deborah Osborn, Camila Nunes e Rocío Scenna
- Direção de Produção: Manuela Duque
- Assistência de Direção: Renata Braz
- Produção de Elenco: Marcela Altberg e Gustavo Chantada
- Preparação elenco: Tomás Rezende
- Empresas Produtoras: bigBonsai e Cinematográfica Marcela
- Empresas Coprodutoras: Rizoma, República Pureza e Canal Brasil
- Distribuidora: Vitrine Filmes
SOBRE A DIRETORA
Marcela Lordy é diretora, roteirista, produtora e amante da literatura. Graduada em cinema pela FAAP, estudou direção de atores na EICTV, em Cuba, e trabalhou com autores relevantes do cinema brasileiro. Sua produção transita entre o cinema, a televisão, o teatro e as artes visuais como revelam seus filmes ‘Sonhos de Lulu’ (2009), ‘A Musa Impassível’ (2010), ‘Aluga-se’ (2012), ‘Ouvir o Rio: uma escultura sonora de Cildo Meireles’ (2012), ‘Ser O Que Se É’ (2018) e ‘O Amor e a Peste’ (2022), premiados em diversos festivais mundo afora.
Para a televisão dirigiu episódios da série infanto-juvenil ‘Julie e os Fantasmas’, vencedora do APCA 2011 e indicada ao International Emmy Awards 2012, ‘Passionais’ (2014), veiculada na Globosat, e ‘Turma da Mônica’ (2022) da Globo Filmes. Em 2012, fundou a produtora Cinematográfica Marcela para coproduzir os filmes de sua autoria. Professora, júri e parte da comissão de seleção de festivais e editais, em 2022 lança O LIVRO DOS PRAZERES, seu 1º longa-metragem de ficção. Segundo a revista americana Variety, o filme faz parte da safra de primeiros filmes de uma nova geração de jovens cineastas brasileiras que é um dos fenômenos mais interessantes vistos atualmente no cinema da América Latina.
Para seu próximo longa, ‘O Silêncio de Aline’, em fase final de financiamento – uma produção da Klaxon Cultura Audiovisual com a Cinematográfica Marcela -, ela pretende contar a história de uma cientista surda, comunicativa e barulhenta, vizinha recente de uma musicista que precisa de silêncio para criar, trabalhando os contrastes entre as ações de escutar e ouvir. O papel que dá nome ao filme está destinado a Leandra Leal.
Filmografia
- :: O Amor e a Peste, 2021, Brasil, 60’, ficção, Hd
- :: O Livro Dos Prazeres, 2020, Brasil, 1h40, Ficção, Dcp
- :: Ser O Que Se É, 2018, Brasil, 7′, Ficção, Hd
- :: Aluga-se, 2012, Brasil, 15’, Ficção, Dcp
- :: Ouvir O Rio, 2011, Brasil, 79’, Documentário, Dcp
- :: A Musa Impassível, 2010, Brasil, 52′, Ficção, Hd
- :: Sonhos De Lulu, 2009, Brasil, 15’, Ficção, Hd
Portal Artecult.com
Editor Chefe @CinemaeCompanhia (Canal de Cinema & Séries – Portal @Artecult) – Luan Ribeiro
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