Coluna de ROSE ARAUJO

Ligia Calheiros e a obra “Engrnagem Vital”, que é parte da instalação-exposição Andante.
Ligia Calheiros, artista plastica carioca, formada em Licenciatura em Artes, tem uma trajetória dinâmica e atuante. Sua obra é o resultado e experimento de diversos materiais, texturas, processos e rupturas, tudo sob o olhar e a magia do tempo. Apresento a vocês sua exposição/instalação denominada ANDANTE (curadoria de Jô Vigorito) que, na ocasião, estava em exposição no Espaço Cultural Correios, em Niterói.
Com vocês, Ligia Calheiros, em um bate- papo imersivo e poético, no encontro das artes…
- Exposição “ANDANTE”
- Exposição “ANDANTE”
- Rose Araujo e Ligia Calheiros
- Ligia Calheiros
- Rose Araujo e Ligia Calheiros

Rose Araujo – Ligia, seja muito bem-vinda à minha coluna A Poesia em Todas as Artes, publicada quinzenalmente no portal Arte Cult.
Eu gostaria que você revelasse-nos sobre o seu início, como foi o seu primeiro contato com a arte?
Ligia Calheiros- Obrigada pelo convite carinhoso, Rose.
Bem, desde que me conheço, sempre me envolvi em alguma forma de expressão artística. Sempre gostei de descobrir materiais, testar, sentir novas configurações, fiz até dança, em minha adolescência. Depois comecei a trabalhar com pintura a óleo, propriamente, em um projeto muito interessante, voltado ao curso livre de pintura – Colméia dos Pintores, que acontecia na Quinta da Boa Vista – o que foi uma experiência inovadora. A partir daí enveredei em outros cursos e vivências na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, onde realmente me encontrei. Fui me apropriando de técnicas específicas: do óleo ao acrílico e passei a experimentar outros materiais como colagens, um olhar sobre o ambiente, olhar sobre si, e a conscientização sobre os descartes de materiais recicláveis, sempre acrescentando, trazendo um diferencial ao trabalho.
RA – Interessante sua percepção sobre essa questão do descarte, do reciclável, já naquela época…
LC – Sim, sabe, Rose, costumo dizer que sou/somos investigadores. A minha obra, os meus projetos são resultado de curiosidade, inúmeros testes e descobertas surpreendentes de materiais possíveis, para contarem a história a qual me propus, naquela instalação.
Descubro, por exemplo, já nos anos 90, que os materiais têm sua cor própria, intransferível, e comecei a desenvolver, pesquisar, buscar experimentos-processos, que são uma característica muito presente na Arte Contemporânea….
RA – Sim, acredito que toda arte traz em si dialéticas, questionamentos, desafios constantes…
LC – E nós, artistas contemporâneos, estamos sempre reinventando o traço, a técnica, que vem da vivência, do momento, da busca de cada um. É um fazer, errar, refazer, acertar, tentar de novo e de novo e de novo. E sobretudo, sonhar. Arte é sonho também…
RA – Sim, como diz Fernando Pessoa em um de seus poemas
“Deus quer
O homem sonha
A Obra nasce…”
LC – Sem dúvida alguma.
Arte impulsiona, é busca constante, aprimoramento. Arte é trilhar, caminho, “Andante”…
RA – Aproveitando o gancho da palavra-tema da sua instalação: há quanto tempo, quais os processos em relação aos materias dessa instalação? Como vc formulou, conceituou o projeto Andante?
LC – Rose, o Andante é a própria caminhada minha, da sociedade, do planeta, da existência.
Eu, como artista sou muito processual, meu trabalho exige um fazer, uma observação e, sobretudo, lida com a parceria do tempo, da maturação, redirecionando à obra em si.
RA – Observo as singularidades da sua instalação. Chamam a atenção as cores, texturas e eu gostaria que vc nos trouxesse pelas mãos e aguçasse o nosso olhar para pequenas histórias dos seus fazeres, nessa obra.
LC – Sim, vou conduzi-los…
Há cerca de dois anos estou debruçada sobre o projeto. Como pode perceber é uma instalação, em seus objetos e desdobramentos, a qual chamei de Andante. As peças se complementam e dialogam, ocupando espaços, trabalhando interferências, vãos, objetos, histórias, marcas e memórias. O que é descartado é ressignificado, fazendo parte de uma nova forma de contar e estar no mundo.Repare, por exemplo, nessa peça: ela é um “gabarito”, uma base de uma casa demolida. Eu a nomeei de Labirinto. Ela tem uma estrutura rígida, suas marcas, construções e desconstruções. A peça a seguir (sim, é um engendramento) ja tende a suavizar tal rigidez, tanto na disposição, como no material, trazendo uma leveza. São os diálogos subjetivos, poéticos em nossa vida cotidiana, onde há os pesos, as complexidades e dicotomias, mas também há a brisa, a leveza, a poesia, inerente à nossa existência…

“Labirinto”, pertencente à instalação Andante, de Ligia Calheiros.
RA – Belo, Ligia…pura poesia, “poesia em todas as artes”, eu diria rs
LC – Sim…São interligadas, sempre: elevam, complementam.
O próprio nome da exposição foi inspirado pelo título de uma música de Bach. As artes dialogam…
RA – Lindo processo!
LC – Mais adiante chegamos ao processo com as madeiras que conversam entre si: madeiras que trazer registros de números, marcas e suas cicatrizes, irregulares e sobrepostas. Há um elo, mas cada um tem sua singularidade, parafraseando a própria vida…
RA – Sim, as buscas, experimentos e o olhar sobre o outro, sobre o todo, sobre nós…
LC – Veja essa instalação, eu a batizei – internamente – como “Engrenagem Vital”. Trabalhei os resíduos de carros e bicicletas, manchas e histórias ocultas, que seguem em novas histórias.

“Engrenagem Vital”, pertencente a instalação-exposição Andante, de Ligia Calheiros.
RA – Encantador, realmente encantador…
LC – E para finalizar a nossa imersão, apresento a vcs o último do “circuito”. Trata-se de um tecido com inumeras tecnicas aplicadas. Impressões, resíduos, pigmentação, remetendo a uma “escada”, propulsora de Andantes…
Toda obra, instalação, conta uma história. É um universo a ser captado.

RA – Ligia, que belo e transcendental projeto, em vivências e investigações artísticas. A arte nutre, salva e alimenta e sabemos disso.
Seu projeto traz-me a poesia do nosso querido Manoel de Barros, em suas preciosas [in]significâncias, singularidades tecendo fazeres e memórias. Muito obrigada pela imersão: andemos!
LC – Querida Rose, eu que agradeço a você e ao ArteCult pelo convite e oportunidade de apresentar a minha arte a vocês. Aproveito também para divulgar um projeto muito interessante, que acontece há muito mais de cinco anos na Galeria Meninos de Luz, na Comunidade do Pavão/Pavãozinho, onde cada artista/expositor se compromete a oferecer um workshop às criancas e adolescentes da comunidade. E o material também é exposto na galeria, promovendo a íntegração da arte com o público, transformando e ampliando o olhar, Definitivamente a arte é visionária e transformadora.
Ah, sim, o projeto chama-se Solar Meninos de Luz
RA – Sim, a arte liberta.
E por falar em artes e poesia, Ligia, fiz um poemeto, inspirado em sua exposição.
Segue abaixo:
MAGIA
A Ligia Calheiros
Forro ferro madeira tecido
escada barroca em outros sentidos
tessitura concreta
história memória
engrenagem dialética
tocos alinhados
olhar transcendente: o descarte faz obra de arte na gente
Entrevista inédita, concedida na Primavera de 2024, no Espaço Cultural Correios, em Niterói.
Veja o catálogo da Exposição “ANDANTE”:
Siga o instagram de Ligia Calheiros (@ligiacalheiros)
ROSE ARAUJO

Rose Araujo. Foto: Divulgação.

Conheça a coluna de Rose Araujo


















Maravilha !!!!Ligia e Rose.!!!!
Lindo encontro entre artistas, cujas diferentes expressões dialogam e encantam!