Kiko Mascarenhas começou sua trajetória como ator em 1984. Acumula experiências em cinema, televisão e principalmente teatro. Contabiliza mais de 30 espetáculos teatrais em seu currículo e está aqui no ArteCult.
Kiko está para além de um excelente profissional, um artista leve e com alma, ele é humano e pode-se dizer um ser de luz.
Confira abaixo minha entrevista com Kiko!
Entrevista com Kiko Mascarenhas
1 – Compartilhe conosco a emoção de ganhar um prêmio como esse, o APCA, com um trabalho tão simples, quero dizer, sem grande produção, mas que nos leva aos sentimentos.
Fiquei muito honrado com a indicação. Estar indicado como Melhor Espetáculo entre tantos outros espetáculos incríveis em cartaz em São Paulo já foi uma grata surpresa. Esse prêmio contempla toda a equipe da peça: tradução, direção, produção… É o reconhecimento pelo trabalho de todos, de um esforço coletivo, pq durante o processo, da criação à execução, nunca estive sozinho.
2 – Quando você idealizou esse projeto esperava esse retorno tão grandiosos?
Eu sabia que aquela era uma história importante de ser contada. Sabia que o momento de encenar Todas as Coisas Maravilhosas era esse. Nossa primeira temporada foi no teatro Poeirinha, em 2019, para 70 pessoas. Depois em 2023, no teatro Poeira e ano passado no Tucarena em São Paulo. A peça foi ganhando corpo, se ampliando. Ao longo dessas temporadas foi que pude perceber o quanto essa história tocava as pessoas. A grandiosidade de Todas as Coisas Maravilhosas está na relação que se estabelece entre ator e plateia.
3 – Do Rio para São Paulo, foram plateias diferentes, pode falar sobre elas?
Ambas as plateias, em cada cidade, responderam lindamente ao jogo proposto pela dramaturgia da peça. Mas em São Paulo aconteceu algo curioso: o público estabeleceu um nível de envolvimento e uma entrega que eu ainda não tinha experimentado nem presenciado no teatro. As cenas que envolvem a participação direta da plateia ganharam força e fizeram a narrativa se expandir, crescer. Lindo de se ver! Emocionante!
4 – Atuar sem patrocínio é possível Kiko? O que tem a ns dizer sobre isso?
Produzi Todas as Coisas Maravilhosas com recursos próprios, sem patrocínio algum. Essa não era a nossa primeira escolha. Tudo seria mais fácil e mais viável com o apoio de patrocinadores. Mas chegou um momento em que não dava mais para esperar. Foram muitas tentativas de conseguir parcerias, patrocinadores e apoiadores, todas elas frustradas. Sim, é possível estar em cena sem patrocínio, mas é um risco imenso. Não há nenhuma garantia de recuperar o que foi investido e menos garantia ainda quando se pensa em lucrar. Mas quando dá certo, é uma alegria.
5- Você tem um dos melhores diretores da atualidade ao lado, fale sobre a importância de Fernando Philbert nesse trabalho.
Fernando foi uma grande descoberta nesse processo de formação da equipe de criação. A peça necessitava claramente de um diretor que a entendesse com o coração, que respeitasse a simplicidade do texto e não subestimasse a complexidade do que se daria em cena, durante a temporada. Já tinha assistido outros trabalhos do Philbert e já na primeira conversa, nos entendemos.
Foi dele a ideia de fazer com que o espetáculo ganhasse contornos de depoimento, como se aquele texto estivesse brotando da boca naquele momento, com frescor, vivo.
Fernando trouxe para essa montagem a delicadeza, a verdade para a cena. Não à toa ele é um dos diretores mais requisitados da atualidade. Um gentleman.
6 – “Todas as Coisas Maravilhosas” viaja desde 2020, e pergunto, deu vontade de parar? Qual foi o momento mais crítico desse espetáculo?
O momento mais difícil, desde a estreia, foi durante a temporada em São Paulo. Foram sete meses em cartaz e esse vai e vem de aeroporto, entra e sai de hotel, a distância de casa… Chegou uma hora em que eu pensava em parar por puro cansaço. Mas a peça tem algo de curativo, algo de esperançoso, que foi o que me manteve firme até o último dia em cartaz.
7- Podemos dizer que a meia que você usa em uma das mãos é teatro de animação? Como surgiu? Algo pessoal? Até hoje penso nela!
O recurso da meia está no texto original do Duncan Macmillan. É um elemento lúdico que entra na narrativa da peça e que funciona lindamente. Vale ressaltar que é o público que dá vida a esse elemento e faz com que o jogo de imaginar aconteça!
8 – Temos peça nova ou vai seguir levando felicidade para o mundo?
A ideia é voltar em cartaz com Todas as Coisas Maravilhosas em 2026, preferencialmente com patrocínio e apoiadores. Rio e São Paulo estão nesses planos, bem como viajar com a peça para outros estados. Mas… isso só será possível quando tivermos patrocinadores.
9 – Kiko, qual a coisa mais maravilhosa do mundo para você?
Existir.
10 – Se você voltasse no tempo, o que diria para você e que serve para nós que estamos nessa estrada?
Esteja preparado para tudo. Não ha como experimentar o sucesso sem ter conhecido fracassos, não há como aprender sem errar. A vida, assim como a carreira de artista, não é uma linha reta. Tem curvas, altos e baixos, alegrias e frustrações. Aproveite a caminhada e não pense na chegada.
11 – É uma honra para nós poder trazer você aqui, que atravessou uma pandemia, que não desistiu, que acredita no teatro. Como você vê o momento cultural que o Brasil tem tido esses últimos dias, entendendo seu trabalho no audiovisual que é imenso?
O momento é de esperança. A arte e a cultura foram desprezadas, atacadas, difamadas nos últimos anos. Mas, aos poucos, a sociedade começa a entender o valor e a importância do artista. Os teatros estão cheios, os shows, os cinemas… Sim, ainda estamos aqui, de pé, criando projetos e realizando como dá. Nós, artistas, não somos de desistir. Se a arte é a nossa vida, como desistir?
Muito Obrigada Kiko, nunca esquecerei o valor que vc deu à minha crítica e digo mais: um dia vi em um release em SP que você usou uma frase minha. Sabe, muitas vezes escrevemos por horas e não temos “um muito obrigado” e você, ao contrário, valorizou cada minuto que gastei naquele dia. E acrescento: valeu muito! Ah! Ainda Lembro de você na novela A Viagem, acompanhei um dia desses!
Muito obrigada, Kiko!