
Foto: Divulgação
E Bruce foi!
Foi assertivo, como aquele Bruce Gomlevsky que conhecemos, focado, diferenciado e determinado, trazendo a Cia Esplendor ao lugar de UMA DAS MELHORES CIAS DO RIO DE JANEIRO!
Quando saí da peça, o diretor me questionou porque eu gostava dessas colocações, e respondi como deveria. Nós que assistimos a diversos espetáculos, temos a real noção das boas Cias, das boas atrizes, dos bons atores e, especialmente, das boas montagens.
Não é fácil quando assistimos obras que nada nos dizem. É ainda pior, que parecem nunca terminarem, porque quando é ruim, parece que o diabo nos sacaneia e as minutagens parecem eternas…
A obra “Hamlet” não pode ser des qualificada, entendendo que o senhor Gomlevski, escolhe a dedo os artistas que traz para o palco, a Cia. que ele administra é tratada com total cuidado, posso dizer até esmero. Exatamente por isso e por outros quesitos, as obras trazidas são impactantes.
E “Hamlet” conta com um elenco fantástico. Só por isso já se pode afirmar que o tal diabo não irá nos irritar.
A questão é como que os mais engessados, ou pouco contemporâneos, irão digerir as ideias do diretor. Temos robôs, celulares e audiovisual (bem executados) no espetáculo, que estão acompanhados dos versos na íntegra do dramaturgo Shakespeare, sem desconstrução, afinal, como disse o produtor Gabriel Garcia, que em nada discordo:
“… desconstruir um dramaturgo que mesmo após seiscentos anos continua sendo encenado é complicado. E mais, como desconstruir se não se tem a capacidade de ler a obra na íntegra? Não a estudar?”
A leitura shakespeariana foi inscrita em outro tempo, é preciso respeitar e estudar. Estudar Shakespeare é preciso coragem. O filho do luveiro inglês, parecia estar empolgadíssimo ao construir a obra.
A peça mais longa de Shakespeare é Hamlet, também conhecida como “A Tragédia de Hamlet, Príncipe da Dinamarca”. É considerada uma das obras mais importantes e influentes do autor e da literatura inglesa.
Sinopse
A peça “Hamlet” da Cia. Teatro Esplendor está em cartaz no CCBB Rio de Janeiro, com temporada até o dia 8 de setembro. A montagem, dirigida por Bruce Gomlevsky, celebra os 15 anos da companhia e traz uma nova tradução de Geraldo Carneiro. A peça explora a história do príncipe Hamlet, que busca vingança pela morte de seu pai, e promete uma experiência imersiva para o público.
Gostei do figurino da assinatura quanto ao figurino da Maria Callou. De um tempo para cá, percebo a necessidade do figurinista diminuir o valor do material para montar as indumentárias, recorrendo aos brechós, por exemplo. Acho bacana a ideia, no entanto, pôr o traje sem transformação torna-se um equívoco, empobrece o espetáculo. E não tenho certeza, mas vi roupas usadas, porem a figurinista recorreu a pedrarias, rendas e crochês, nos levando ao reinado que Shakespeare imaginou. Gostei bastante. Ainda mais com o cuidado das caracterizações da Mona Magalhães, uma característica do diretor. Estão sempre maquiados, “Tartufo”, “Pedrinha Miudinha”, “A revolução dos Bichos”, as caracterizações são sempre excelentes e contribuem enriquecendo muitíssimo os trajes.
Aliás, o blazer com o colar Elisabetano através de rendas ficou uma maravilha, uma bela sacada!
A montagem me leva a uma sala de ensaio, um experimento rebuscado, se não fosse as atuações de alto nível dos artistas.
Vamos falar dos personagens/artistas.
Hamlet é o Príncipe da Dinamarca; filho do já morto Rei Hamlet, e sobrinho do presente Rei dinamarquês, Cláudio.
Bruce, sempre muito focado no texto, que não é raso, atravessa duas horas e meia da montagem com rigor. Os versos estão presentes em suas falas, voz muito bem projetada, as expressões faciais falam, os sentimentos do príncipe estão todos muito bem representados por Bruce, que logo entendeu que havia algo de muito podre no reino da Dinamarca. Nos convencem. Como uma vertigem, uma viagem louca ao futuro, Bruce sabe trazer com deboche os objetos de cenas que são tecnológicos. Façanhas do diretor…
Cláudio é Rei da Dinamarca, eleito ao trono após a morte de seu irmão, o Rei Hamlet. Cláudio casou-se então com Gertrudes, esposa do seu falecido irmão.
Gustavo Damasceno é arrebatador, desde sua voz a expressões corporais, há no ator uma explosão cênica que grandes artistas do teatro tem. Há nobreza de sobra no trabalho do artista. Impossível não festejar sua contribuição cênica nesse espetáculo. Quando senta ao lado da Rainha para assistir o duelo entre Hamlet e o filho de Polônio, suas expressões faciais e postura corporal me levaram a outro espaço, aqueles que conhecemos através dos filmes épicos cinematográficos. Nota 10 sempre para Gustavo!
Gertrudes é a Rainha da Dinamarca, e esposa do falecido Rei Hamlet, agora casada com Cláudio, e mãe de Hamlet.
O que falar de Sirlea Aleixo? A personagem está muito bem montada. Sirlea é uma atriz que atuou na montagem “Furacão” e muitas vezes fico com receio dessa mesma personagem estar entre os outros papéis, mas não, o tecido dramático desenhado para ela, a coloca em outro patamar. A rainha shakespeariana é absoluta no corpo da Sirlea, sem contar as caras e bocas da atriz, que permeiam entre o drama e a comicidade. Ela é surreal.
O Fantasma do pai de Hamlet, que lhe aparece para falar que, na realidade, foi envenenado por seu irmão Cláudio.
Horácio é um grande amigo de Hamlet, que se moveu a Elsinore com o intuito de presenciar o funeral do Rei seu pai.
Ricardo Lopes é Horácio e, assim, o artista está no melhor momento da carreira dele. Ardente, leve, entregue e seguro de si. Por ser um artista negro, quando se encontra com Bruce/Hamlet no palco, jogam a capoeira enquanto dialogam, isso me comoveu, porque há uma história entre os dois artistas de aprendizado mútuo, que, inclusive, os levaram a um dos maiores espetáculo do ano, a meu ver, “Pedrinhas Miudinhas”. Como poucos, ambos sabem a dificuldade que é seguir com uma Cia. no Brasil, por isso festejei. Festejei ainda mais por ver um Horácio muito bem-criado.
E como o fantasma? Ricardo nos apresenta uma cena de corpo onde é apresentado o fantasma, que é visceral tano na dramaturgia quanto a encenação do artista. Ricardo parece ter chegado a 2025 pronto para o sucesso.
Polônio (“Corambis” em “Q1”) é o primeiro-ministro, conselheiro do Rei Cláudio.
Jaime Leibovitch, a voz do artista foi criada para as dramaturgias de Shakespeare. Um belíssimo ator como Polônio, a experiência do artista traz uma certa soberania às cenas, portanto quando ele encarna o coveiro, Deus do céu, diante de um texto tão real, nos derretemos, da simplicidade a grandiosidade através das palavras ditas. Inesquecível.
Laertes é o filho de Polônio, e está retornando de Paris para Elsinore.
Daniel Bouzas está expressivo demais, sentido demais, tem presença de palco, mas nota-se que o ator parece sentir mais que o personagem.

Glauce Guima e Bruce Gomlevsky em Hamlet. Foto : Divulgação
Ofélia é a filha de Polônio, e irmã de Laertes, que vive com seu pai em Elsinore. Ela é apaixonada pelo príncipe Hamlet.E podemos dizer que por fim morreu de amor.
Glauce Guima está poética, bela, com uma estética perfeita, a voz apurada e sentida. Em uma das cenas onde Hamlet se atreve a tratá-la rudemente, a atriz parece morrer como uma flor, deixando os livros de suas mãos caírem como pétalas. Em um dos atos, volta para o palco em uma mesa, morta… excelente cena, uma das melhores. A atriz carrega com ela uma Ofélia adequada, principalmente nas entonações da voz. É ma delícia assisti-la, deveria estar mais no palco, é sempre bom se deleitar nas performances dos excelentes artistas, e esse é o caso.
Duas atrizes são robôs, elas estão bem maquiadas e com movimentos muito bem executadas durante a montagem. ‘
O espetáculo tem bastante movimento, movimento da plateia e dos artistas. E para quem não curte um teatro contemporâneo, não indico, mas para aqueles que conhecem a saga da Cia. Esplendor, o potencial de criar o novo, mesmo tendo em mãos um espetáculo de outro século, vale muito assistir.
FICHA TÉCNICA
- Texto: William Shakespeare
- Tradução: Geraldo Carneiro
- Direção: Bruce Gomlevsky
- Elenco: Bruce Gomlevsky, Gustavo Damasceno, Ricardo Lopes, Glauce Guima, Sirléa Aleixo, Jaime Leibovitch, Daniel Bouzas, Maria Clara Migliora, Tamie Panet, Alitta de Léon, Aquarela Neves e Guilherme Pinel
- Cenário: Nello Marrese
- Figurino: Maria Callou
- Caracterização: Mona Magalhães
- Trilha Sonora Original: Sacha Amback
- Fotos: Dalton Valério
- Programação visual: Amarildo Moraes
- Assessoria de imprensa: Dobbs Scarpa
- Direção de produção: Gabriel Garcia
SERVIÇO
HAMLET

- Teatro III do CCBB-RJ
- Temporada 16/08 a 08/09
- Quarta a Sábado e Segunda, às 19h
Domingo, 18h - Duração: 140 min |
- Classificação etária: 12 anos
- O público precisará se movimentar no interior do teatro durante o espetáculo.

Paty Lopes (@arteriaingressos). Foto: Divulgação.

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