“Don´t Be Cruel”, essa peça é de matar!

 

Elvis, para sempre Elvis…
E por mais que o tempo passe, ele sempre ocupará o espaço de um dos maiores artistas norte-americanos para o mundo.
Infelizmente ele declinou para as drogas e perdeu o foco, mas brilhou com imensa intensidade no seu tempo.

Tenho um livro, “Cartas extraordinárias”. Uma dessas cartas é do Elvis para o presidente Nixon, onde pede um distintivo da polícia federal, para lutar contra as drogas (conseguiu). Uma dicotomia interessante quando olhamos para o fim do artista. Não há filosofia, conceito ou poesia que nos faça entender a cabeça do homem, é o que aprendi diante de fatos como esse.

O Rei do Rock – O Musical” esbanja a essência do artista, possui uma equipe criativa com uma abordagem única e surpreendente e uma direção musical excepcional, que conseguem, em mais de três horas de espetáculo, convencer toda a plateia a cada segundo que valeu a pena sair de casa.

Sinopse

O espetáculo é permeado por todos os momentos fundamentais da história de Elvis Presley, desde sua primeira gravação aos 18 anos, quando ainda era um jovem tímido de Tupelo no Mississippi, até o auge de sua fama e o triste final de sua vida aos 42 anos. Cada etapa de sua trajetória é representada com sensibilidade e rigor histórico, sem deixar de lado o impacto cultural que o cantor teve no mundo da música e na sociedade na totalidade.

 

A obra foi concebida em 2017 e desde então a luta pareceu render frutos expressivos para o idealizador Beto Sargentelli, detalhe, indicado ao prêmio APCA ao lado do forte candidato Tuca Andrada com a obra “Let´s Play That, ou Vamos Brincar Daquilo”, o que confesso que eu não gostaria de estar entre os jurados, porque no mínimo eu quebraria o troféu em dois, isso não é da boca para fora, ambos dançam, cantam e trouxeram suas narrativas com entrega, devoção demasiada, algo que os sangram a ponto de se tornarem um com seus personagens.

A montagem foi indicada pelo colega Gilberto Bartholo, crítico, que me mandou um áudio dizendo: não deixe de assistir “Rei do Rock”, a obra é maravilhosa”

Logo, abro minha página social e vejo Cristina Cavalcante (uma das maiores incentivadoras do teatro musical Rio/São Paulo), revelando que estava assistindo à obra pela terceira vez.

Confesso que quando soube do tempo de espetáculo, fiquei bem desanimada, mas ao assistir “Gabriela”, do mesmo diretor, disse para mim mesma: vou!

E agradeço a essa tomada de decisão, porque foi mais que assertiva, foi um presente que me dei. Não senti o tempo passar e deliciei-me a cada cena, cada aprendizado, entre eles, saber que o empresário de Elvis era um latino, que me fez entender ainda mais como o artista seguiu livre, embora a censura tenha chegado, risos.

A obra conta com uma equipe criativa bem selecionada, Paulo Cesar Medeiros, que trouxe um desenho de luz empolgante, certo para a obra, inclusive movies e canhões de luz muitíssimo bem colocados. O figurinista Namatame NUNCA erra. E assim segue…

Quanto aos artistas, tenho três colocações a serem feitas. Todos estão ótimos, mas Danilo Moura como B.B. King é tão bem executado, que provoca prazer ao assistir. Trata-se de um artista que tem em suas mãos o prêmio Bibi Ferreira, o conheci em “Dom Quixote”, dirigido pelo Farjalla, onde ele deu vida ao Sancho Pança. Danilo me ganhou para todo sempre, amém, nesse trabalho dele. O artista tem o dom musical, deve ser uma encarnação de Lúcifer. Para quem não sabe, o capeta era um anjo musical antes de descer para o inferno. Há uma semelhança… Danilo também é abrasado e abrasa em suas notas.

A querida Stella Rodrigues trouxe toda sua maturidade ao palco, não peca. A atriz comemora quarenta anos de carreira para o nosso bem. Sempre no palco, atuando com devoção e majestade e nesse espetáculo seguiu a mesma linha de execução. Perfeita!

E não posso deixar de mencionar Tati Christine, que conheci quando a mesma atuou em “Nina Simone”, quando a atriz cantou “Pata Pata” na personagem Miriam Makeba, ela me levou ao delírio, por sua voz e desenvoltura no palco.

Dessa vez, conheci Carol Olly, que entra na minha lista de favoritos, Que voz, caros leitores! Que voz!

Dos maracas e sombreiros mexicanos, dos filmes que cheguei a assistir na Sessão da Tarde, onde Elvis protagonizava o mocinho, às ulas havaianas, estava tudo lá, contando a história dessa lenda do rock.

Acredito que essa crítica não terá mais tanto alcance, entendendo que já chegamos ao fim do ano e a temporada está encerrada, mas serve como um carinho para todos esses trabalhadores do teatro brasileiro. Quem trabalha com a arte cênica, sabe bem, como é difícil realizar uma obra como essa, tendo ou não fomento, ensaios desgastantes, cobranças e aperfeiçoamento o tempo inteiro. Então que esse texto cumpra a função de dizer como valeu a pena.

Em relação a João Fonseca, o diretor artístico, pode-se dizer que se trata de um verdadeiro alquimista do nosso teatro. Tudo que ele toca vira ouro, sabe fazer teatro e sabe mexer com nossas emoções, arranca sorrisos e lágrimas de nós espectadores, um grande viva a ele!
Sempre fabuloso em seu fazer teatro, tenho a sensação que por mais que eu escreva ainda não conseguirei dizer a minha admiração pelos trabalhos dele, me sinto como um vulcão que não eclode e que fica guardando lavas em mim.

Quanto ao idealizador, pode-se dizer que Beto soube trazer a história numa cronologia perfeita, passo a passo. No segundo ato, Elvis beija suas fãs no palco, transmitindo sensualidade com respeito e charme. E nos toma de gargalhadas e um sentimento maravilhoso, uma sensação de viver o que não vivemos, ao menos eu, mas muita gente da plateia pareceu ter vivido, muitas cabecinhas brancas, com os olhos brilhantes e sorrisos cativados pela verdade carregada pelo artista Beto Sargentelli.

Obra inesquecível!

Tenho algo a dizer quanto a Funarj, que abriu a porta do Teatro João Caetano (1813). Ao trazerem uma obra desse porte por um valor de R$5,00 (cinco reais), a instituição governamental me provou que o carioca gosta de teatro, somente não tem condições financeiras de assistir obras como essas no valor que geralmente trazem para o povo, elitizando o teatro como na época que João Caetano foi construído. É preciso mudar essa concepção. É preciso conquistar o público para que a arte cênica ocupe o espaço merecido, afinal, sabemos fazer teatro muito bem.

Ao aceitarem estar ali, esses trabalhadores do palco, auxiliam na democratização do teatro, virando uma página importantíssima para todos os artistas.

O teatro tem 1139 lugares e no dia que fui assistir estava lotado, com os três andares ocupados pelo povo. Isso implica no que vou dizer: Elvis não morreu e sabemos muito bem disso, mas agora sabemos também que nós cariocas amamos um bom teatro!

Vou me despedir aqui. Um Feliz Natal e Feliz Ano Novo para todos, que tenhamos paz e o teatro continue cumprindo sua missão entre nós no Rio de Janeiro, afinal precisamos de mudanças, e eu acredito que a catarse pode trazer outros significados para o ser humano!

 

Ficha Técnica:

O Rei do Rock – O Musical

Idealização, Texto e Dramaturgia: Beto Sargentelli
Direção: João Fonseca
Direção Musical: Thiago Gimenes
Direção de Movimento e Coreografias: Keila Bueno
Assistente de Coreografias: Tiago Weber
Direção Musical Residente: Leonardo Córdoba
Figurinista: Fábio Namatame
Cenografia: Giorgia Massetani
Designer de Luz: Paulo Cesar Medeiros
Designer de Som: Tocko Michelazzo
Visagismo: Marcos Padilha
Assessoria de Imprensa: GPress Comunicação por Grazy Pisacane
Direção Criativa: Eline Porto
Fotos: Stephan Solon
Comunicação Visual: Estúdio Órbita
Gestão de Marketing: Palma Comunicação
Produtores Associados: Beto Sargentelli e Gustavo Nunes
Coordenação de Produção: Gustavo Nunes
Produção e Coordenação Artística: Beto Sargentelli
Direção de Produção: Alina Lyra
Produção Executiva: Tâmara Vasconcelos
Produção: Pedro Guida
Assistente de Produção: Aricya Félix
Production Stage Manager: Caio Bichaff
Produção Administrativa: Andrea Sargentelli
Idealização e Produção: H Produções Culturais
Supervisão de Produção: Turbilhão de Ideias
Realização: Andarilho Filmes

Novidades no elenco: Nesta temporada carioca, o espetáculo traz novas adições ao elenco, a exemplo de Tati Christine, que assume o papel de Sister Rosetta Tharpe, pioneira do rock; o veterano Stepan Nercessian segue no papel do Coronel Tom Parker, o empresário que moldou a carreira de Elvis – e que lhe rendeu a recente indicação de Ator Coadjuvante nos Prêmios Bibi Ferreira e Destaque Imprensa Digital. Já Stella Maria Rodrigues retoma o papel de Gladys Presley, mãe de Elvis, Bel Moreira interpreta Priscilla Presley e Danilo Moura vive B.B. King. O elenco também conta com Romis Ferreira (Vernon Presley), Rafael Pucca (Sam Phillips/Frank Sinatra), Nathalia Serra (Ann Margret), Luiz Pacini (Scotty), Gui Giannetto (Bill), Aquiles (Milton Berle), Léo Romanno (James), Carol Olly (Penny) e Neusa Romano (Suzie Atkins).

 

Paty Lopes (@arteriaingressos). Foto: Divulgação.

 

 

 

Author

Dramaturga, com textos contemplados em editais do governo do estado do Rio de Janeiro, Teatro Prudential e literatura no Sesi Firjan/RJ. Autora do texto Maria Bonita e a Peleja com o Sol apresentado na Funarj e Luz e Fogo, no edital da prefeitura para o projeto Paixão de Ler. Contemplada no edital de literatura Sesi Fiesp/Avenida Paulista, onde conta a História de Maria Felipa par Crianças em 2024. Curadora e idealizadora da Exposição Radio Negro em 2022 no MIS - Museu de Imagem e Som, duas passagens pelo Teatro Municipal do Rio de Janeiro, com montagem teatral e de dança. Contemplada com o projeto "A Menina Dança" para o público infantil para o SESC e Funarte (Retomada Cultural/2024). Formadora de plateia e incentivadora cultural da cidade.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *