Em 27 de março de 2020, perdemos nosso irmão mais velho (como eu costumava considerá-lo), após ficar internado por duas semanas em uma Clínica no Rio de Janeiro. Em tratamento contra a leucemia, o artista e empresário Daniel Azulay foi acometido pelo novo COVID-19 cujas complicações foram fatais para nosso ídolo.
Daniel Azulay é um nome conhecido por muitas gerações. Quem viveu a infância na metade dos anos 70 conheceu e assistiu os programas do criador da Turma do Lambe-Lambe, que nos apresentou personagens inéditos como: Gilda, Piparote, Damiana, Pita, Professor Pirajá, Tristinho, Ritinha e Xicória, que logo ganharam sua própria HQ.
Os seus quadrinhos eram repletos de cultura nacional com preocupação educativa e, por que não dizer, ética e moral, sempre com a intenção de contribuir de forma construtiva com a formação das crianças. A Turma do Lambe-Lambe invadiu a programação infantil brasileira entre as décadas de 70 e 90. O programa misturava desenho, histórias e um quadro bem popular, o “mãos mágicas” , que ensinava as crianças a criarem.
Azulay era criativo e muito sorridente e influenciou a geração dos anos 1980, que, com ele, aprendeu a desenhar, construir brinquedos com a sucata doméstica e a importância da reciclagem e sustentabilidade em defesa do meio ambiente. Tinha um bordão inesquecível: ALGODÃO DOCE PRA VOCÊS!
Daniel Azulay, por definição, foi desenhista e educador. Mas também foi pintor, músico, escritor, ilustrador de livros infantis e bacharel em Direito por formação. Acima de tudo, um artista completando quarenta anos dedicados a desenvolver a arte e educação para crianças e jovens. Daniel sempre foi um dos maiores incentivadores da leitura, desde o início de sua carreira, produzindo Livros, Quadrinhos, Álbuns de Figurinhas e outras publicações voltadas para o público infantil e juvenil. Através dessas publicações, a criança desenvolvia o gosto pelo hábito da leitura, identificando-se com o imaginário representado nas lendas e costumes do povo brasileiro.
Confira um trecho do seu programa de TV:
A Turma do Lambe-lambe foi uma das grandes criações do Daniel e se tornou um marco nos anos 80, sendo tão conhecida como os personagens da Turma da Mônica de Maurício de Souza.
Revistas publicadas pelas editoras Abril, Block e Coquetel
Projetos após a TV
Longe da TV, Daniel vinha realizando exposições de arte contemporânea no Brasil e no exterior, incluindo projetos sociais de arte-educação. Inclusive, tinha acabado de lançar o livro de arte ‘A porta’. Por sua vez, a Turma do Lambe-Lambe, que ganhou versão animada, pode ser vista no Canal Futura e na TV Rá-Tim-Bum. Deixou como legado sua Escola de desenho, a “Oficina de Desenho Daniel Azulay”, fundada em 1989, com quatro unidades no Rio de Janeiro: Ipanema, Tijuca, Vila da Penha, Barra. Desenvolvia o “Crescer com Arte – Desenhando com Daniel Azulay” , um Projeto Social, dirigido para crianças e adolescentes. Reúne atividades criativas voltadas para a arte, educação e aperfeiçoamento do desenho, como forma de expressão e ferramenta importante para auxiliar na formação da criança. Objetivo Geral: Investir na formação da criança e do adolescente, fazendo da arte um canal para o desenvolvimento de auto estima, conscientização da cidadania e inserção social.
O objetivo do projeto é alcançar crianças em instituições, através da ajuda de patrocinadores, levando todo material e treinamento necessário para que o evento aconteça em qualquer localidade. Daniel Azulay recebeu o Prêmio Voluntário do Ano 2000. Esse Prêmio consolida o reconhecimento e o incentivo ao seu trabalho e ação em prol das causas sociais.
Conheça toda a turma criada por Azulay:
Gilda – Vaidosa e sentimental, é a cantora da Turma do Lambe- Lambe. Como dona de casa é muito desastrada e péssima cozinheira. Compra tudo o que vê nos anúncios de TV e adora andar na moda, sem se dar conta da cafonice de suas roupas esquisitas.
Damiana – Muito alegre, intrometida e arteira. … especialista em provocar confusões. Está sempre inventando uma maneira diferente de fazer as coisas. … capaz de fazer o impossível para ajudar os outros.
Tristinho – Malabarista do Circo Lambe-Lambe. … o astro do picadeiro, é trapezista, tratador de animais, equilibrista e grande companheiro de todos na turma.
Piparote – O mais tímido da turma. Sonha em ser um domador de leões, mas tem pavor de cachorros. Pita é o seu grande companheiro de travessuras.
Pita – Alegre, vivo e tagarela. Quer ser um grande mágico, mas não tem o menor jeito. Adora meter o nariz onde não é chamado, por essa razão vive se metendo em confusões.
Professor Pirajá – O sábio que conhece diversas ciências e a linguagem dos animais. Habilidoso engenheiro, transformou uma árvore da Floresta Amazônica em seu refúgio particular, e num laboratório de pesquisas científicas. … também é defensor da Ecologia.
Ritinha – Tem sonhos de ter um negócio próprio. Vive dando asas à sua imaginação de empresária e comerciante. … muito gulosa, adora sorvetes, doces, etc…
Xicória – Uma galinha simpática e ótima cozinheira. Mora na árvore do Prof. Pirajá, onde é sua secretária, servindo, às vezes, de cobaia em suas pesquisas.
O EMPREENDEDOR AZULAY
Filho do jurista e advogado Fortunato Azulay e de Clara Israel, Daniel nasceu numa família judaica sefardita, sendo o filho mais jovem. Seu irmão mais velho, Jom Tob Azulay, é cineasta e diplomata.
Aos 15 anos, publicou um desenho na sessão de palavras cruzadas do jornal O Globo, aos 18, estreou profissionalmente no Jornal dos Sports.
Em 1967, criou a tira Capitão Sol para o jornal O Sol. Em 1968, criou a tira Capitão Cipó, publicada no jornal Correio da Manhã e, em 1975, fez teste para a Marvel e conheceu Stan Lee em 1974.
Na Rio Gráfica Editora, colaborou com as revistas Querida e Garotas, com a personagem A Dona Filó, logo em seguida colaborou com as revista O Cruzeiro, Joia e Manchete. Publicou o livro “Viagem à Jerusalém”, contendo 40 ilustrações, viajou aos Estados Unidos, onde conheceu os estúdios da Disney na Flórida e na Califórnia. Lá tentou trabalhar como cartunista e conheceu o quadrinhista Bob Kane, co-criador do Batman, que o apresentou à revista Crazy em Nova York. De volta ao Brasil, foi precursor em 1976, apresentando, durante dez anos seguidos, programas de TV educativos e inteligentes para o público infantil.
Azulay influenciou de forma construtiva a geração dos anos 1980, que aprendeu com ele a desenhar, construir brinquedos com a sucata doméstica e a importância da reciclagem e sustentabilidade em defesa do meio ambiente, antecedendo programas da TV por assinatura como Art Attack, Mister Maker e Click.
Viajou pelo mundo expondo, fazendo palestras e conduzindo workshops de arte, educação e responsabilidade social. Premiado no Brasil e no exterior, suas obras de arte contemporânea fazem parte do acervo de coleções particulares e de grandes empresas. Na década de 1990, desenvolveu CD-Roms educativos, esses CD-ROMs chamaram a atenção de Johnny Saad do Grupo Bandeirantes. Em 1996, Azulay passou a apresentar o programa Oficina de Desenho Daniel Azulay na Band Rio e, em 2000, o programa passou a ser exibido em rede nacional.
Em 2009, ensinou desenho em vídeos para o site UOL, fez especiais pro Canal Futura (‘Azuela do Azulay’) e chegou a participar da TV Rá-Tim-Bum.
Em 2013, lançou o site Diboo (www.diboo.com.br), um curso de desenho online para crianças.
Em 2018, foi homenageado como Grande-mestre pelo Troféu HQ Mix.
Daniel Azulay era a alegria em pessoa, um ser humano sem igual. Seus personagens traziam em sua essência um pedacinho dele, com claras referências ao circo, onde o sorriso de uma criança é a coisa mais importante. Seu carinho com os “baixinhos” era visível em seu contato com o fãs.
Parafraseando “AO MESTRE COM CARINHO!”, deixo aqui minha humilde homenagem, a quem me inspirou e me fez ver um mundo muito mais alegre, divertido e responsável.
Descanse em paz meu irmãozão!