
Culturas, Identidades e Escolhas: um rasante nas existências humanas através de algumas de suas festas e tradições – parte 4
Culturas e festas culturais no Mercosul: Argentina, Paraguai e Uruguai
Não há vento favorável para aquele que não sabe para onde está indo. Sêneca (5 a.C. – 65 a.C.), filósofo grego
Continuando a ideia de viajar, virtualmente, de certa forma, pelo mundo, através da pesquisa que fiz sobre festas populares, como um forte ícone cultural que identifica o povo e suas livres escolhas, vamos conhecer um pouco das comemorações de outros povos, passando pelos países que compõem o nosso Bloco Econômico, o Mercosul. Cada povo trata de seu patrimônio cultural de um modo todo próprio, mas há pontos em comum, inclusive, legalmente.
De todo modo, cada povo, com sua cultura, mesclada às outras culturas, cada vez mais neste mundo, efetivamente, globalizado pelas mídias e relações várias exponencialmente crescentes, por mais que se modifique, mantém algo de sua identidade original, impulsionada por ventos favoráveis que, como nos ensinou Sêneca, na frase em epígrafe, mantém um quê de direcionamento cultural de cada sociedade, apontando seus rumos de vida. A cultura de um povo é um fator de constituição de seu estilo de vida.
Cada cultura engendra, ou melhor, cada povo engendra sua cultura que o leva a desenvolver seu próprio sistema de valores, hábitos e princípios. O conjunto amalgamado desses fatores constitui-se no que se convencionou chamar de Patrimônio Cultural, material (um prédio público histórico, por exemplo) e imaterial (festas populares). É a cultura que faz com que o povo se reconheça como tal e que o diferencia dos demais povos, levando suas características como sua marca indelével, indelegável e inquestionável.
No mundo todo, falar em samba ou em meio ambiente é falar em Brasil que, é claro, é muito mais do que esses dois fatores culturais, mas por eles é conhecido e amado. Do mesmo modo, há características que marcam outros povos. Mais exemplos: ninjas são japoneses; jazz é norte americano; salsa é cubana; umbanda é da África; perfumes são franceses etc. Claro, há itens muito específicos, como a cultura ninja, que praticamente só existe no Japão, e itens mais generalizados, como o candomblé, que também é parte da cultura brasileira, mas a identificação, de todo modo, não deixa de existir. Ou alguém duvida que pizza é uma comida originariamente italiana, até mais especificamente, da cidade de Nápoles, cidade do Sul da Itália?
Para Leite, Caponero e Perez (2010), é no contexto acima que podemos inserir as festas populares que são, em suas palavras “formas particulares de um povo demonstrar sua fé, sua alegria e sua confraternização no espaço público, pois, enquanto práticas culturais, caracterizam uma sociedade, realçando o sentimento de identidade comum aos membros de um grupo”. Os autores mostram que a noção de Patrimônio Cultural foi consolidada no pós II Guerra Mundial, a partir da atuação da Unesco, órgão das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (fundada em 1945).
Várias foram as conferências realizadas para a discussão e tiradas de ações visando a preservação dos mais variados patrimônios culturais ao redor do mundo, como alguns apontados pelos autores: a Convenção de Estocolmo (1972), a Declaração de Amsterdã (1975), a Carta de Machu Picchu (1977), a Declaração de Tlaxcala (1982), Declaração do México (1985), a Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial (Paris, 2003), a comemoração de 50 anos, em 2012, da Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural (da ONU), dentre outras muitas. Em 1982, foi criado o Comité de Expertos Gubermentales em La Salvaguardia Del Folklore, para preservação o patrimônio cultural Latino Americano, notadamente o imaterial. Em 1989, foi aprovada a Recomendación sobre La Salvaguardia de La Cultura Tradicional y Popular, ambas iniciativas ligadas à Unesco.
Como exemplos de preservação do patrimônio cultural e de festas populares, pela América Latina, temos iniciativas em países como a Bolívia que, como mostram Leite, Caponero e Perez (2010), inscreveu na própria Constituição, em ser Artigo 137, que:
“Os bens do patrimônio cultura da nação constituem propriedade pública, inviolável, sendo dever de todo habitante do território nacional respeitar e proteger”
Para proteger os bolivianos, para preservarem seu patrimônio imaterial, criaram o Centro de Catalogación de Bienes Culturales. Na Bolívia, como narram os autores, há comemorações como a Festa da Virgem de Urkupiña (cidade de Quillacollo); porém, por lá também vemos o Carnaval de Oruro (importante centro comercial desde o período colonial). No Chile, temos, conforme os estudiosos, a Festa dos Reis (cidade de Pica), que é uma peregrinação que dura dois dias, com a imagem do menino Jesus percorrendo as ruas da cidade. Muitas das festas Latino Americanas, se não forem celebrações da cultura autóctone, são de cunho católico, em face da colonização basicamente ibérica.
Na Colômbia, existe a Lei Geral da Cultura, de 1997, cuja principal contribuição, pelo visto, é a garantia de um Registro Nacional do Patrimônio Cultural, emitido do Ministério da Cultura colombiano. O carnaval da cidade de Barranquilla é, também, bastante conhecido e apreciado, mundialmente, inclusive. Outra festa famosa na Colômbia chama-se, como os autores nos informam, a Batalha das Flores, que é um desfile de carruagens e fantasias, presidido por uma rainha e sua corte que, dançando, atiram flores na multidão que acompanha o cortejo (o simbolismo é que a rainha chora pela morte de seu amado, Joselito, 4 dias após iniciados os festejos carnavalescos).
No Equador, foi garantido, pela Constituição, no Artigo 62, que o Estado:
“Estabelecerá políticas permanentes para a conservação, restauração, proteção e respeito do patrimônio cultural tangível e intangível”
Além de garantir o Patrimônio Cultural, em lei de 1979, como o carnaval, igualmente presente neste país. Finalmente, no Peru, temos patrimônios culturais mundialmente reconhecidos e protegidos como as litografias do Vale de Nazca e a cidade de Machu Picchu; lá, em 2003, foi criada a Dirección de Registro y Estudio de La Cultura Del Perú Contemporâneo.
Vejamos agora, especificamente, três países latino-americanos, nossos vizinhos, que conosco fundaram o nosso Bloco Econômico local: Argentina, Paraguai e Uruguai.
Argentina
A Argentina é um país com 23 províncias, além da Cidade Autônoma de Buenos Aires, o que confere às suas tradições uma rica diversidade cultural, para muito além do tango, dança pela qual o país é mundialmente famoso, junto com o chimarrão, o bife de chorizo e o churrasco que, como veremos, são tradições divididas com o Brasil. A história dos povos é algo bastante rico. O tango, por exemplo, era, na origem, um desafio entre peões boiadeiros que, sozinhos na condução do gado pelos pampas platinos, dançavam para disputar quem dava os melhores passos; um desafio apenas de homens. Ao perceberem o potencial de atração desta música, as prostitutas aprenderam a também dançar o tango e o levaram para os bordéis. Numa terceira fase, o franco-argentino Carlos Gardel, cantor de um desses bordéis, com sucesso, levou o tango para fora das “casas da luz vermelha”, sendo espraiado por todas as classes sociais do país.

Los equinos de Gendarmería Nacional | Gualeguaychú – Argentina
Os Rodeios, também populares no Brasil, são apreciados nos Pampas (biomas de clima subtropical, são regiões de relevo suave, ondulado, com chuvas não muito violentas, mas constantes e vegetação gramínea) e são festas tradicionais desde o período colonial, muito comuns entre os gaúchos que tangem rebanhos e fazem desafios entre si, baseadas na destreza de montar cavalos, de conduzir o gado, além de danças típicas e gastronomia como o tradicional churrasco e o indefectível Chimarrão. No Brasil, temos a “Festa do Peão Boiadeiro”. Outra tradição é a Festa Nacional do Cavalo em Gualeguaychú ou a Festa Nacional da Tradição em San Antonio de Areco que contam com concursos de vestimentas de gaúcho.

O mate, a cuia ou o porongo; a bombilla, a chaleira e uma boa erva | Foto: los muertos crew
O Festival Nacional da Erva Mate é uma tradição antiga. O primeiro festival do Chimarrão (também consumido em todo sul do Brasil) foi realizado em 1944, ao que se tem notícia, na província de Misiones. Em 1961 a cidade de Apóstoles passou a ser a principal sede desta festa. De tão apreciado pelos platinos, essa festa do Chimarrão tornou-se feriado nacional em 1972. O Chimarrão é uma bebida feita na base da infusão (técnica milenar de extração de compostos de plantas em líquidos, água, no caso) de erva-mate que é desidratada e moída. Pode ser amarga, como é, efetivamente, na maior parte dos casos, mas também pode ser doce e/ou misturada com ervas, como o tradicional “yuyo”, típico da Argentina, como também pode ser aromatizado, posto o farto de que a erva-mate combina com vários sabores e odores diferentes.
A Festa da Colheita da Uva acontece na cidade de Mendoza, uma das maiores cidades platinas, desde 1936 e tem sua origem na onda migratória das primeiras décadas do século XX. O festival é tido como um reconhecimento do esforço dos viticultores (agricultores que cultivam derivados da uva, como o vinho). Há shows musicais, danças, fogos de artifício e muitos brindes são ofertados aos turistas. Uma vez terminada a vindima (período de colheita das uvas) e a vinificação (conjunto de técnicas e processos que levam à produção do vinho), os primeiros agricultores festejavam e davam graças à natureza através de danças, cantos e eleição de uma rainha, coroada com cachos de uvas. No Brasil, no Rio Grande do Sul, também temos a Festa da Uva.
O Festival Nacional da Tangerina ocorre durante três ou quatro dias, entre maio e junho, o Festival Nacional da Tangerina acontece na cidade de Chumbincha, na província de Catamarca. Este festival homenageia todos os produtores de tangerina do país.

Fiesta del Dulce de Leche – Cañuelas
O Festival do Doce de Leite é típico da cidade de Cañuelas, na província de Buenos Aires, esta festa, iniciado, ao que se saiba, no ano de 1929; ele promove vários concursos e degustações de produtos derivados do leite, como, especialmente, o doce de leite (que no Brasil, é muito identificado com a culinária mineira). Outra iguaria típica de muitas festividades argentinas é o Alfajor (dois biscoitos redondos, feitos de farinha de trigo e manteiga e recheados com doce de leite, por vezes, levam frutas e ervas e, outras vezes, são mergulhados em chocolate com açúcar em pó e/ou côco).

Festival Nacional da Truta – Bariloche | Foto: InVinoViajas
O Festival Nacional da Truta começou em 1941, na famosa cidade de Bariloche, sul da Argentina, província da Patagônia, às margens do Rio Limay, tem a originalidade, especialmente dada a época deste início, de tratar de mostrar como fazer uma pesca sustentável. A festividade promove uma competição de pesca, em que os peixes, notadamente, a truta e o salmão, são devolvidos à água e culmina com um grande almoço coletivo de comidas locais e exposições de artesãos regionais. A Patagônia Argentina é conhecida mundialmente por sua pesca de truta e salmão.
O Festival Nacional do Porco Peludo Assado é realizado na cidade de San Andrés de Giles, Província de Buenos Aires, são 4 dias de comemorações em que o prato principal são porcos assados, embora não falte o tradicional churrasco de carne bovina, que os argentinos chamam de “asado” e a “parrilha” (que é um churrasco específico, preparado em uma grelha) e que, tal como no Brasil, é extremamente apreciado pelos argentinos, tudo à base de muito chimarrão e vinho, ao redor das muitas fogueiras que são típicas desta festa; as danças locais também são realizadas circundando o fogo.
Existem várias outras tradições locais, como as “empanadas”, que são salgados tradicionais, feitos com massa e recheio de carne, frango, queijo ou verduras e são consumidos como lanches rápido. Ou a “chamamé”, um estilo musical que mistura influências dos povos originários locais com as dos colonizadores europeus. Ou ainda, a “milanesa”, iguaria feita com carne empanada (carne enrolada em uma massa de farinha de trigo e outras especiarias) e frita para o consumo. No dia 10 de novembro é comemorado o nascimento do poeta argentino José Hernández, que escreveu o livro Martín Fierro, a epopéia de um gaúcho, considerada uma das obras de referência dos costumes argentinos. A payada, que é a arte musical da improvisação acompanhada por um violão, tradição típica dos gaúchos. O jogo do anel, de origem européea, a corrida do ringue, atividade em que os cavalheiros, à galope veloz, têm que alcançar um arco que fica pendurado a aproximadamente 3 metros de altura e isso, com um graveto e ganha quem conseguir pegar o anel, para entregá-lo a uma mulher presente na celebração. A festa “La Erra” é uma festividade em que o gado é marcado pelos fazendeiros.

Malambo | Foto: Revista Continente
Lo Malambo, que é uma dança de sapateado ou “zapateado”, na qual o artista realiza uma série de movimentos com os pés, chamados de “remoções”, embora também haja movimentos com as mãos, na forma de complemento. Vence o desafio aquele que executa movimentos mais vistosos e complexos.
La Baguala, é um gênero musical que faz parte da origem folclórica das comunidades “diaguitas“, da região andina. São canções formadas por versos octossílabos improvisados, acompanhados com um ritmo lento e ternário, marcado com uma caixa. Cantores, além da caixa, acompanham o recital tocando o “quena” ou “erque”, instrumento com 3 ou 4 metros de comprimento.
La Zamba, que é o nome da dança e da música, originada no Peru, também típicas do sul da Bolívia, porém, muito valorizadas na Argentina desde 1815. É uma dança realizada por casais que seguem o cortejo apresentando várias figuras com as mãos, em mímica ritmada. O homem realiza um ritual de amor agredindo a mulher, enquanto ela flerta e recusa-o com a ajuda de um lenço.
Sítios consultados
- https://www.sherlockcomms.com/pt/blog/celebracoes-argentina/
- https://www.argentina.gob.ar/interior/turismo/fiestas
- https://www.botatexana.com/rodeios-e-festas-tradicionais-na-argentina/?srsltid=AfmBOopR3d8dcj-4bIqpPpYtsPKIZypiXKsynwgPOl_pTkzKHDaNcq3q
Paraguai
As festas mais populares na América Latina têm três origens básicas: dos povos originários, dos povos europeus e dos povos africanos e asiáticos, mas quase todas são ligadas às tradições religiosas, como várias das festas do Paraguai, como a da Imaculada Conceição, a festa de Nossa Senhora da Assunção, a festa de Santa Rosa de Lima, a festa de Santa Rosa del Monday, a festa da Semana Santa e tantas outras.Claro, há também festas seculares, como as de Santiago, a de San Miguel e a de Virgen del Pilar, a da festa de São Pedro e a da festa de São Paulo, todas com competições equestres.

Festejos de Nuestra Señora de la Asunción – Paraguai | Foto: rotasdeviagem.com.br
Há várias outras festas, como a que se realiza em homenagem à padroeira da capital do Paraguai, comemorada no dia 15 de agosto. Os atos litúrgicos são percorridos com grande solenidade e a participação dos fiéis é organizada por paróquias e comissões. Também observamos a festa de San Antonio de la Pádua, comemorada no dia 13 de junho. Após a missa, a imagem do santo é levada para um cais no rio Paraguai, onde é embarcada e começa uma procissão náutica, quando os devotos embarcados em centenas de canoas e embarcações maiores iniciam seu périplo aquático. Podemos citar mais uma festa, a da Natividad de la Virgen Maria, que é celebrada no dia 8 de setembro. A festa segue com muitas orações e novenas, além de serenatas com desfiles de grupos musicais.
A Semana Santa ocorre durante este período e desde a bênção das palmeiras no Domingo de Ramos ao Domingo de Páscoa, a paixão de Cristo, a Via Crucis; é, como no Brasil, revivida nas paróquias de Assunção. Na “5ª feira santa”, no Paraguai, é realizada uma cerimônia chamada “Kurusú Ñuguaitï”; na Sexta-feira, outra com o nome de “Tupaitü” e, no Domingo de Páscoa, a terceira festa é a “Tupasy Ñuguaitï”. Nessas festas, fiéis cristãos e visitantes participam de uma procissão “Yvaga Rapé” (caminho para o céu). O caminho é iluminado por milhares de luminárias feitas com casca de laranja, tochas laterais e lâmpadas e, quem sabe, entoa o cântico “Purahei Jahe’o” (canção lamentosa). Após a cerimônia da descida da cruz, inicia-se uma apresentação artística de música, dança e teatro. Este conjunto de festas populares expõe, como poucos o sincretismo entre a cultura dos povos originários do que chamamos de América Latina e o catolicismo do colonizador europeu.

Preparan Kurusu Ára al pie del Cerro Acahay | Foto: abc.com
O Kurusú Ara é o “dia da cruz”, comemorado em 3 de maio, cuja tradição remonta ao período de evangelização franciscana. Uma cruz é colocada bem no centro da área do festejo e nas árvores, são pendurados rosários feitos de amendoim para oferendas familiares.
San Blas é o padroeiro do Paraguai e seu festejo é comemorado no dia do seu nascimento, 3 de fevereiro. A expressão máxima da festa é a dança dos galopes, que compõe parte importante do folclore do país.
San Pedro y San Pablo, são dois dos mais tradicionais santos da cultura popular, celebrados, respectivamente, nos dias 28 e 29 de junho, na cidade de Itaguazú. Nesses dois dias, vemos a celebração de várias missas, procissões e brincadeiras, como os desafios das “tochas acessar de palha (kapi´i). Assim que começam esses jogos, surge no meio da multidão os “Guaicurú”, figuras cobertas com folhas secas de bananeira e máscaras de madeira ou de pano que simulam seqüestrar mulheres que estejam presentes às festividades. Esta parte é uma encenação para lembrar históricos ataques indígenas contra as populações “crioulas”, ou seja, espanhóis colonizadores e aos “Guaicurú”, juntam-se, na encenação, os “Kamba Ra´anga” (homens vestidos de preto e mascarados) que simulam lutas, só que de modo cômico.

Festa de Nossa Senhora de Caacupé | Foto: Agenzia Fides
A Virgen de Caacupé ou Imaculada Conceição de Maria é homenageada na cidade de Caacupé é conhecida como “a capital espiritual do Paraguai” e é lá que, no dia 8 de dezembro, são realizados os festejos da Virgem. O santuário fica cheio desde o início da novena e muitos peregrinos chegam em carros de boi, respeitando a tradição, mas assim ou de outro modo, como muitos, chegando a pé, todos buscam água do poço da Virgem, chamado “Tupasy Ycuá”. Outra prática tradicional dos Caacupeños é colocar um jarro de água na frente de casas para matar a sede dos peregrinos.
A Virgen de la Candelaria ou Festa de la Virgen de la Candelaria é realizada nas cidades de Capiatá e Areguá, é comemorada no dia 2 de fevereiro. No dia da Virgem, há bençãos com velas e uma procissão com a imagem da padroeira que segue pelas principais ruas. Não obstante, já no dia 23 de janeiro é iniciada uma novena e vários eventos culturais, com a participação de artistas locais. Há muita música, dança, e exposições de artesanatos em barro, tecidos, pedaços de madeira, cestaria, dentre outros. Nesta cidade, histórica, há, ainda, construções e vestígios das missões franciscanas espanholas.
A festa de Nuestra Señora de la Asunción é considerada a padroeira da capital do Paraguai, Assunção, e seus festejos ocorrem no dia 15 de agosto, data que também marca o aniversário de sua fundação. A devoção a Nossa Senhora. Os atos litúrgicos são percorridos com grande solenidade e a participação dos fiéis é organizada por paróquias e comissões.

Procesión en canoas en honor a San Antonio de Padua | Foto: Google
San Antonio de la Pádua tem os seus festejos realizados em 13 de junho, na cidade que leva o mesmo nome da festa, San Antonio, cujo auge é uma grande romaria em homenagem ao santo. O templo destinado ao santo é decorado com arranjos os mais variados. Após a missa, a imagem do santo é levada para um cais no rio Paraguai, onde é embarcada e tem início uma procissão náutica, com barcos muito decoradores com, por exemplo, bandeirinhas coloridas.
Natividad de la Virgen Maria é homenageada no dia 8 de setembro, na comunidade de Guarambaré, as paróquias festejam o dia da santa com muitas orações e com a pregação de muitas novenas, além de muitas serenatas para a Padroeira. Ao final, pessoas com muito dinheiro devem jogar, do algo da torre do templo da Virgem, dinheiro para a multidão e um jogo se inicia, ganhando aquele que pegar a maior quantidade do dinheiro lançado.
Sítios consultados
- https://rotasdeviagem.com.br/festas-populares-do-paraguai-que-sao-o-espirito-do-pais/
- https://embaixadadoparaguai.pt/pt-pt/cultura/
Uruguai
Em 1680, foi instituído, no território brasileiro, a Santíssima Colônia do Sacramento, mas que pouco mais era do que uma fortificação da Coroa Portuguesa, que tentou fazer desta, mais uma província do Brasil e, portanto, de Portugal, a potência dominante. Era uma área disputada por Portugal e Espanha, em face de sua posição estratégica por poder ser acessada pelo oceano e, por conta do Rio da Prata e por dar acesso às áreas interioranas, com potencial de boas rotas comerciais. Nesta disputa, Sacramento, que em 1822 passou a ser chamada de Província da Cisplatina, tornou-se independente em 1828, passando a se chamar Uruguai, um país pequeno, territorialmente falando, fronteiriço, deste modo, com o Brasil, mais precisamente, com o estado brasileiro do Rio Grande do Sul e que, atualmente, tem pouco mais de 4 milhões de habitantes (para efeito comparativo, só a cidade do Rio de Janeiro tem 6.7 milhões de habitantes e o Grande Rio, a Região Metropolitana, algo como 13.9 milhões de habitantes, segundo o IBGE). Como este povo, que já foi brasileiro, embora por um curtíssimo período histórico, festeja seus dias e comemora/mantém sua identidade? Vejamos.

Integrantes de um grupo de murga, uma das expressões culturais mais tradicionais do carnaval uruguaio, durante o desfile de abertura da folia em Montevidéu Foto: Pablo Porciuncula / AFP
O Carnaval uruguaio é festejado na quarta semana de janeiro, sendo que o maior dos desfiles acontece na Avenida 18 de Júlio, em Montevidéu, capital do Uruguai.
A Noite Branca é uma festa que é realizada na sexta-feira mais próxima da Lua Cheia, na província de Canelones (que no Uruguai é chamado de Departamento, ou Estado, no Brasil) , cuja inspiração vem dos festejos das “Noites Brancas”, europeias, como as de São Petesburgo (Rússia), Praga (República Tcheca) e as de Paris (França), que são eventos culturais anuais, com muita música, comida e visitas a museus e casas de cultura, que duram a noite toda, até o amanhacer.
O Festival do Lago Andresito é um evento que é realizado às margens da Represa Palmar, no Departamento de Flores e é um dos maiores festivais do Uruguai, sendo realizado por 3 dias entre a sexta feira e o domingo do terceiro final de semana de janeiro e conta com música folclórica, histórias e cavalgadas.
A Semana de São Fernando acontece no Departamento de Maldonado e conta com barracas de artesanato, praça de alimentação e diversas apresentações musicais e artísticas.
O Desfile de Chamadas é considerado como um dos festivais mais importantes do país e acontece na primeira quinta e sexta-feira de fevereiro na Rua Isla de Flores, em Montevidéu; é uma homenagem à comunidade afro-colombiana.

Apresentação artística no Festival Nacional de Folclore de Durazno | Foto: rotasdeviagem
O Festival Nacional de Folclore acontece no primeiro fim de semana de fevereiro no Parque de la Hispanidad. Este festival nada mais é do que uma espécie de desafio entre artistas e compositores novatos.
A Festa da Pátria Gaúcha acontece de quinta a domingo da primeira semana de março, na Sociedad Criolla Patria y Tradición e na Laguna de las Lavanderas, no Departamento de Tacuarembó. É uma das festas folclóricas mais populares do país, onde você pode desfrutar de encenações de costumes gaúchos, competições de hipismo e um desfile de cavalaria.
A Semana da Cerveja é realizada durante a Semana Santa e é realizada acontece na Avenida de Los Iracundos, no Departamento de Paysandú e é composta por eventos culturais (como exposição de artesanato) e esportivos.
O Festival Olimar é realizado no primeiro sábado da Semana Santa na Ciudad de Treina y Tres e segue sendo comemorado até quarta-feira seguinte com muitos cantores uruguaios. A Competição Nacional começa com solistas, duetos, pagadores e declamadores.
O Festival da Grande Pátria (Criolla del Prado) acontece durante a Semana do Turismo no bairro Rural del Prado, em Montevidéu, destacando os costumes e atividades gaúchas, como as cavalgadas.

Pessoas reunidas para a Festa das Fogueiras de San Juan | Foto: rotasdeviagem
A Celebração das Fogueiras de San Juan, de origem pagã, é celebrada na Plaza José Pedro Varela, em Pocitos (Montevidéu), todo dia 23 de junho. É um festejo do que chamam de “Fogueiras de São João” com muitas danças tradicionais, comidas típicas e muito vinho.
O Festival Nacional do Chocolate é realizado no último domingo de julho na Plaza de los Fundadores em Nueva Helvecia, no Departamento de Colônia. É um festival em que se homenageia o chocolate e seus derivados.
A Noite da Nostalgia é um festival popular que é celebrado em diferentes departamentos do Uruguaio no dia 24 de agosto.
A “Semana Farroupilha” e a Semana do Patrimônio são duas festas celebradas na terceira semana de setembro, nas ruas de Santana do Livramento (Brasil) e da cidade de Rivera (Uruguai) com atividades campestres, reunião de payadores (poetas que compõem seus poemas no improviso, semelhantes aos repentistas brasileiros e comuns em várias outras festas populares uruguaias) e desfile de cavaleiros.
A Cozinha Soriano é um grande evento gastronômico do Departamento de Soriano, que acontece de quinta a domingo da primeira semana de setembro, com a participação de estudantes e profissionais do setor de alimentos. Inclui competições, workshops, palestras e degustações.
O Festival da Primavera de Dolores é organizado especialmente por estudantes e acontece no segundo final de semana de outubro na praça principal de Dolores, no Departamento de Soriano. É um grande desfile de carros alegóricos e tem na coroação da rainha, o ponto alto.
A Noite dos Fogões acontece no segundo final de semana de outubro no Cerro Artigas, em Minas, Departamento de Lavalleja; há muitas apresentações de violão, fogueiras e competições campestres.
O Festival do Imigrante é realizado de quinta a domingo, durante a primeira semana de novembro, no Mercado 18 de Julio, na cidade de Salto, promovendo a cultura dos imigrantes que chegaram ao Uruguai.

Abrazo del Solís Grande – Uruguai – Foto: Google
O Abraço do Grande Solís na Ilha do Riacho Solís Grande, em Paraje dos Puentes, Departamento de Maldonado, é celebrado no terceiro final de semana de novembro. O evento inclui atividades recreativas para crianças, música, dança, esportes aquáticos e muitas comidas típicas.
A Feira Espetáculo acontece no segundo final de semana de dezembro no Ginásio Municipal da cidade de José Pedro Varela, Departamento de Lavalleja, com muita música e comidas típicas de várias partes do país.
A Bierfest (Festival da Cerveja) acontece desde 1969, de quinta a domingo, no segundo final de semana de dezembro, na Plaza de los Fundadores, em Nueva Helvecia, Departamento de Colônia. Muita cerveja, obviamente, de vários tipos, apresentações musicais, danças e jogos tradicionais, como concursos de lenhadores e quedas de braço.
A Semana Rivera é realizada de quinta a domingo da segunda semana de dezembro, na Avenida Sarandí, na cidade de Rivera. O festejo baseia-se em shows de bandas jovens e iniciantes, grande variedade de comidas, feiras de artesanato e várias atividades esportivas.
A Véspera de Ano Novo no Mercado de Puerto é um dos festivais mais populares do Uruguai e acontece nos dias 24 e 31 de dezembro no Mercado del Puerto, no bairro de Ciudad Vieja. O costume é jogar água ou sidra dos prédios nas pessoas que estão na rua.
Sítios consultados
- https://rotasdeviagem.com.br/importantes-festas-tradicionais-do-uruguai/
- https://www.gub.uy/comunicacion/publicaciones/fiestas-tradicionales-del-uruguay
- https://www.suapesquisa.com/musicacultura/cultura_uruguai.htm
Bibliografia sugerida para consulta
CASCUDO, Luís da Câmara (1898-1986). Civilização e Cultura. São Paulo: Global Editora, 2004.
LEITE, Edson; CAPONERO, Maria Cristina & PEREZ, Simone. Patrimônio Cultural Imaterial da América Latina: as festas populares. Trabalho de pesquisa apresentado no 3º Simpósio Internacional de Cultura e Comunicação na América latina. Grupo de Trabalho 01. São Paulo, 2010.
TURINO, Célio. Cultura a unir os povos – a Arte do Encontro. São Paulo: Instituto Olga Kos de Inclusão, 2018.
CRUZ, Fernando Vieira da. Manifestações culturais e Arte-Educação na América Latina. Foz do Iguaçu: CLAEC (Centro Latino Americano de Estudos em Cultura), 2021.
Cuadernos de la Diversidad Cultural – Buenas Práticas del Mercosur
https://quantaboo.com/os-melhores-festivais-culturais-na-america-latina
Carlos Fernando Galvão, Geógrafo, Doutor em Ciências Sociais e Pós Doutor em Geografia Humana, profcfgalvao@gmail.com
Carlos Fernando Galvão,
Geógrafo, Doutor em Ciências Sociais e Pós Doutor em Geografia Humana
![]()










