Comandado por Mark Mylod (diretor de 6 episódios de Game of Thrones), O Menu é com certeza uma das melhores surpresas de 2022, que presenteia os cinéfilos com um filme muito além do que as imagens nos mostram. E é uma trama intrigante e pavorosa, dentro de um cenário aparentemente sereno.
Na história, um grupo de pessoas vai para uma ilha para degustar do exclusivo cardápio do célebre residente do local, o renomado chef gastronômico Slowik (Ralph Fiennes). Mas o que era para ser uma noite de prazer para o paladar, torna-se uma experiência tenebrosa, quando percebem estar numa situação que não sabem se sairão vivos.
O longa, que é vendido como um terror, não está necessariamente errado, contudo, não é um terror visceral padrão, cheio de violência brutal, mas o gênero se encaixa na atmosfera e na situação em que os personagens se encontram, afinal são forçados a permanecer onde inicialmente quiseram estar, mas que, depois das mortes que se sucedem e das torturas aos convidados desobedientes às regras, o desconforto só cresce. É aí que o terror fica mais notável, mas não é violento e sim um terror incômodo e psicológico, que consegue perturbar mais que qualquer slasher já lançado nesse ano.
A grande sacada do diretor foi utilizar e transmitir na história uma crítica social, para mostrar que refinamento e elegância não são sinônimos de qualidade e que nem tudo que vem em um prato chic com uma apresentação gourmet vai agradar 100% o público. Às vezes a simplicidade das coisas é o bastante para provocar satisfação no espectador e alegria no realizador, que criou para si uma imagem de perfeição, que todos acham que tudo o que ele faz é excelente e merece ser degustado.
Além disso, através de cada prato que Slowik prepara ao longa da visita de seus convidados, é apresentada uma simbologia por trás do mesmo e relacionada à vida do chef. Muitas das vezes isso não tem muito nexo e não sendo bem esclarecido, é incompreendido, o que novamente desabona os realizadores do filme que querem ser revolucionários ao descontruir alguma fórmula e trazer algo incrível para maravilhar o público, mas que, no final, mostra-se apenas como um monte de aleatoriedade que só faz sentido na cabeça dos realizadores.
Os convidados também acabam sendo uma representatividade do público consumidor que muitas vezes acompanha o trabalho de algum artista. É o caso de Tyler (Nicholas Hoult), que é um grande fã de Slowik e se tornou um chef amador por sua influência, mas que apesar de acompanhar e paparicar o chef, pouco conhece da arte que pensa saber. Entre as outras figuras que são retratadas, temos os críticos que criam a imagem de excelência e ditam as regras do que é bom ou ruim, ou dos patrocinadores que querem ditar o que o realizador tem que fazer, achando que são os donos do artista, só porque o financiam, mas que muitas vezes só atrapalham a sua visão. O roteiro cria uma reflexão sobre essa situação entre quem é dono de quem, que resulta em um dos momentos mais marcantes do filme, além da própria crítica ao deixar o artista expor sua visão e pensamento, sem interferência de terceiros.
Em relação às atuações, o grande mérito é sem dúvida para o Ralph Fiennes, que dá o seu máximo com tão poucas expressões ou gestos. Em boa parte mantém a pose de chef renomado, mas ao longo da noite, seu passado vai se desdobrando através dos pratos que serve, além de seu caráter, mas essa imagem que criou para si, se trata de pura formalidade, um adereço artificial para combinar com o ambiente e a clientela que atende, e o que ele faz, só deixa seu personagem mais intrigante e misterioso, tanto que quando muda sua postura no fim do terceiro ato, nota-se a autenticidade da naturalidade do seu olhar, sem nenhum exagero, algo simplesmente brilhante. E a direção dá o apoio necessário para potencializar a performance do artista em cena.
Anya Taylor-Joy também entrega uma atuação impressionante, porém o protagonismo que a direção a entrega em relação ao roteiro que é o problema: Taylo-Joy tem um destaque na composição do desfecho, mas sua trajetória não chega a ser tão grandiosa a ponto de se tornar a principal protagonista, como a direção propõe. Faltou assim um certo conteúdo no roteiro para enaltecer melhor a sua personagem na narrativa.
O filme chega a ter um formato que lembra bastante os reality shows de gastronomia, bem no estilo “Master Chef”, através dos quais são apresentados os pratos, junto com os ingredientes utilizados. Isso é uma escolha que poderia ter deixado essas apresentações desconexas em relação ao restante do filme, mas que se torna um diferencial interessante, já que o personagens de Fiennes é um chef famoso na mídia e que apresenta cada um de seus pratos como se estivesse numa plateia, com a cozinha aberta que se vê todo o preparo da comida, até chegar nas mesas dos convidados.
CONFIRA O TRAILER
Talvez o momento que menos chama a atenção, é o desfecho final, que tenta superar tudo o que nos foi apresentado até o momento, abusando demais da simbologia de coisas simples para finalizar a experiência dos convidados. Mesmo com esse final que falha em criar algo memorável, “O Menu” ainda é um prato cheio de suspense e que não dá para saber o que virá a seguir, proporcionando uma das experiências cinematográficas mais diferentes de 2022.
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NOTA: 9
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