Luta por Justiça (2020): O retrato do racismo estrutural enraizado na sociedade norte-americana

 

A temática do racismo estrutural está em voga nos últimos tempos no cinema norte-americano, ganhando notoriedade, inclusive, dentre as premiações de grande prestígio da indústria cinematográfica, a exemplo dos laureados a melhor filme no Oscar: Green Book (2019) e Moonlight (2017). Just Mercy (Luta por Justiça) é mais uma destas obras impactantes, pois seu enredo choca e indigna, sendo tal efeito agravado quando toma-se ciência de que se baseia em uma história real.

Bryan Steveson (Michael B. Jordan), jovem negro, de família humilde, é um advogado formado pela renomada faculdade de Direito de Harvard e que se muda para Alabama (estado sulista dos EUA) a fim de prestar assistência jurídica para detentos integrantes do temido “corredor da morte”. Nessa empreitada filantrópica, o filme “LUTA POR JUSTIÇA” nos apresenta três destes carcerários, Herbert (Rob Morgan), Anthony (O’Shea Jackson Jr.) e Walter McMillian (Jamie Foxx), tendo neste último o enfoque para retratar as mazelas raciais existentes no sistema jurídico-penal americano.

Cena de “Luta por Justiça”. Foto: Divulgação (Warner Bros)

O citado fenômeno encontra amparo na criminologia crítica, corrente de pesquisa que pauta o olhar questionador para a criminalização e seus inúmeros efeitos. Assim, um dos aspectos retratados é aquilo tido como efeito de “etiquetamento” (labelling approach), conceito que, dentre outros aspectos, aponta a estrutura estatal/social capitalista como responsável por estratificar setores sociais como marginalizados e propensos à atividade criminosa. Logo, a exclusão social, que já possui reflexos no ambiente escolar, se solidifica através do sistema penal/processual.

Deste modo, nos transcorrer da trama, percebe-se essa estrutura racista espalhada por todos os setores da sociedade sulista de Alabama – aspecto geográfico relevante quando analisado o contexto histórico -, que faz com que Walter McMillian, como muitos outros negros, sofram para provarem seu estado de inocência, uma vez que a figura do delinquente os acompanham pelos olhos daqueles que lhe julgam (policiais, população e juízes).

Outro ponto pertinente abordado de maneira clara na obra é a respeito da instituição da pena de morte como medida legítima de repressão do Estado (EUA). Só para ilustrar, Colorado fora o 22º estado americano a abolir a tida pena capital em 26.02.2020, em uma evidente tendência abolicionista, muito em razão dos inúmeros erros e injustiças vinculadas a uma punição tão extrema. No Brasil, existem algumas restrições na aplicação repressiva do Estado contra o indivíduo, não sendo permitido as penas de morte – a não ser no caso de guerra declarada –, de caráter perpétuo, cruéis, de banimento e de trabalho forçado, nos termos da atual Constituição.

Cena de “Luta por Justiça”. Foto: Divulgação (Warner Bros)

O filme dirigido por Destin Daniel Cretton pode até pecar por focar o longa de maneira excessiva em seu protagonista – vale relembrar que este derivou da adaptação de um livro feito pelo próprio Bryan Steveson -, deixando um sentimento de vazio frente aos vários atores que possuíram um papel determinante nessa jornada de luta e determinação. Entretanto, isto não prejudica o resultado final, tendo-se alcançado uma história tocante de luta pelo ideal de justiça que, como consequência lógica, perpassa também pela discussão de temas sensíveis como racismo e igualdade racial.

Assim, melhor seria a tradução literal do título original – apenas misericórdia -, já que o anseio entorno dos detentos retratos no filme não galgam anseios revolucionários, desejam, ao revés, a garantia daquilo tido como mínimo, básico e inerente a qualquer indivíduo que seja submetido a um julgamento. Vale lembrar que isto não está restrito aos limites dos Estados Unidos: o Brasil é um celeiro da injustiça social. Então, que consigamos criar a empatia e anseio de justiça em busca de um ideal igualitário, pois a mudança está em progresso e fazemos parte disto.

DENI FILHO

 

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