Octávio Araújo e José Saboia: Conheça a produção destes artistas plásticos

A imensa discussão que envolveu o mundo nos últimos dias não tem volta, o racismo é um modo de pensar inadmissível e retrógrado.

O mundo da arte também foi impactado e as discussões acerca do protagonismo dos negros nas artes visuais foram intensificados. Nos últimos anos, feiras de arte de relevo e bienais, como a de Veneza, tiveram presença marcante de artistas e curadores negros, em sua maioria da África e dos EUA.

No Brasil, no âmbito cultural, a influência dos negros é mais presente e veiculada em áreas como a música. Já em artes visuais, há muito a ser discutido. Há uma subvalorização de pretos tanto em representatividade em acervos, no campo institucional, por exemplo, como ainda não são tantos os nomes que têm produções sobre a questão racial sendo representados por galerias de peso no circuito. Assim, a ideia de diversidade que é tão propagada ao se falar em cultura brasileira parece não ser tão efetiva e real.

Como pequena contribuição a tais questionamentos, a Galeria de Arte André apresenta mais da história de Octávio Araújo (1926-2015) e José Saboia, ambos artistas não brancos que construíram trajetórias consistentes e destaque no meio das artes visuais.

Octávio Araújo e José Saboia

Depois dos marcos comemorativos pelos 60 anos da Galeria de Arte André, realizados no ano passado,bastante oportuno agora recuperar a importância de dois artistas com fortes elos com a galeria: Octávio Araújo (1926-2015) e José Saboia (1949).

Araújo sempre foi figura relevante dentro da programação de exposições coletivas e no extenso acervo do espaço. Teve grandes laços de amizade com André Blau (1930-2018), fundador da galeria, que comercializava com êxito a produção do artista nascido em Terra Roxa, interior de São Paulo. Negro e penúltimo de 11 irmãos, era filho de um farmacêutico baiano que se mudou para o interior de SP.

Octávio Araújo em 1987

 

Confira algumas obras do artista (clique para ampliar):

Talvez guiado por um olhar mais que atento à produção de tom surrealista e fantástico, André admirava a obra de Araújo e sua potente liberdade, tanto nos conteúdos figurativos como nas soluções formais que o artista apresentava. Apesar disso, a isolada individual que o artista realiza na galeria, em 1981, traz uma faceta menos conhecida de Araújo. O Desenho e o Feminino tem texto de Jacob Klintowitz e apresenta trabalhos gráficos acerca da figura feminina feitos com materiais como o grafite, a sanguínea e o carvão.

Autodidata, o baiano José Saboia consolidou a sua obra a partir de pinturas que podem ser lidas com fortes contatos com o popular e o naïf. Na única individual que fez na André, em abril de 1985, são especialmente bem-sucedidas as telas em que retrata a torcida do Flamengo, com o mar de figuras pretas mais redondas em consonância com a geometria das bandeiras em vermelho e negro. No catálogo da mostra, o curador e crítico de arte Carlos Von Schmidt (1929-2010) já ressaltara:

“A pintura de Saboia, de cunho eminentemente popular, no futebol encontrou curso natural. (…) Um Saboia que joga com as formas, com a estrutura da composição, com massas e volumes, com o contaste das cores, com movimentos e ritmos. Nesses momentos o artista surge em toda plenitude”.

 

Jose Saboia

Confira algumas obras do artista (clique para ampliar):

 

 

 

Author

Ana Maria Carvalho é jornalista, fotógrafa, especializada em comunicação e psicanalista. Empresária especializada em Arte Contemporânea. Escreve sobre artistas, galerias, feiras e exposições.

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