A dança da contemporaneidade permite a seu criador o cruzamento desse fazer artístico com diferentes linguagens – artísticas ou não – e áreas de conhecimentos, a fim de ampliar as possibilidades do processo de criação. Nesse sentindo, o Coletivo 22 no espetáculo Ariô propõe o encontro da dança com a psicologia para trazer à cena, de forma delicada, questões de corpos à margem, socialmente. Inspirado na monografia do curso de psicologia da IBMR “A corporiedade da loucura”, da diretora Cecília Estella, a pesquisa coreográfica surge a partir das singularidades e da percepção de que a loucura não está localizada somente na cabeça. O corpo como um todo apresenta registros desse enlouquecimento.
Bacharel em Dança pela UFRJ, professora de dança há 18 anos de jazz, balé e dança contemporânea, Cecília Estella chega a seu estágio em psicologia em um CAPSI – Centro de Atenção Psicossocial para a infância e Adolescência do SUS, trazendo um olhar sobre o corpo. O gestual dos autistas desperta-lhe a atenção: a movimentação, as estereotipias, os maneirismos. Ao deparar-se com isso, viu a necessidade de pôr em cena toda essa experiência: “Trazer esse assunto à cena representou uma possibilidade de ponte entre essas áreas”, reforça Cecília.
Em julho de 2016, inicia a pesquisa e, para elaboração desse trabalho, convidou amigas da dança, que não tinham contato com a saúde mental, e amigas da psicologia, também estagiárias do CAPSI, que não tinham contato com a dança. Dessa forma, havia dois olhares sobre o assunto: o que não conhecia essa realidade, mas tinha a experiência do corpo, e o olhar de quem tinha o contato direto com essa realidade. Assim, a equipe foi sendo formada por Lu Guimarães, que é psicóloga e artista plástica, Nina Malm, estudante de psicologia e de teatro, Yumi Araki, bailarina e professora de balé. O grupo ainda conta com a preparação corporal de Cosme Gregory, bailarino da Focos companhia de dança, e Rodrigo Fernandes, bacharel em dança pela UFRJ e estudante de fisoterapia.
Um outro aspecto essencial para esse processo é a relação com a linguagem da fotografia, que surge do encontro de Cecília com fotógrafo Márcio Monteiro.
Esse encontro instigou a relação dessas linguagens, vez que o fotógrafo esteve presente em todo processo criativo de Ariô. As imagens retroalimentavam a composição coreográfica, havia uma troca com ela. Segundo Márcio Monteiro, as fotos são mais do que registros dos ensaios, mas antes o registro dos questionamentos sobre a loucura. Esses registros gerou uma exposição chamada Estados da Alma, onde as fotografias são apresentadas sobrepostas em tecidos fininhos, para manter a ideia de movimento. Veja :
As fotografias despertaram a atenção do filmmaker Elton Sabatino que produziu um vídeo que apresenta um pouco Ariô:
Assim, o trabalho é apresentado em muitos formatos, pois já houve aparições em espaços culturais e espaços da saúde. Sempre que possível a exposição é levada junto.
Ariô é um projeto totalmente sustentável, que não tem apoio, patrocínio e financiamento de ninguém. Teve residência no Centro Coreográfico do Rio de Janeiro até dezembro de 2017 e a equipe faz um pouco de tudo. Cecília diz que o desafio agora é dar forma à ideia de fazer uma trilogia sobre a loucura e já adianta que iniciaram uma nova pesquisa.
Se você ficou curioso para descobrir o que significa a palavra Ariô, o grupo diz que ela só é revelada a quem vai ao teatro assistir ao espetáculo. Então não perca a oportunidade de conferir no Centro Coreográfico dia 03/03 sábado as 19:30h na mostra dos residentes
https://www.facebook.com/events/1871936192838875/?ti=cl
e no Espaço Travessia no Instituto Municipal Nise da Silveira 23/03 às 14hrs!
Ficha Técnica:
Direção geral e concepção: Cecília Estella
Criação: Coletivo 22
Produção: Coletivo 22
Elenco: Lu Guimarães, Yumi Araki, Nina Malm e Cecília Estella
Preparação Corporal: Rodrigo Fernandes e Cosme Gregory
Fotografia e Exposição: Marcio Monteiro
Comunicação Visual: Yumi Araki
Fã page: http://www.facebook.com/somostodosario
Instagram : @espetaculoario