Se fizermos uma lista das maiores invenções da humanidade, podemos citar itens tais como: a pólvora (século IX), a bússola (século IV a.C.), o sismógrafo ( por volta de 132 a.C.), o ábaco ( cerca do ano 1200 ), o papel ( por volta do ano 150 ), o jogo de estratégia Go ( século VI a.C. ), e são tantas outras que vamos parar por aqui. O que elas têm em comum é a sua origem: são todas chinesas. Um parêntese: por que citar o jogo Go ? porque é considerado o jogo de estratégia mais complexo que existe, possuindo um total de possíveis combinações no tabuleiro da ordem de ! E já que esta coluna é voltada para Ciência e Novas Tecnologias, cabe citar que o programa de IA AlphaGo (DeepMind/ Google) conseguiu mais uma importante vitória há poucos dias, derrotando em 3 partidas o atual número 1 do mundo, Ke Jie, por sinal, chinês.
A CHINA e sua Tecnologia Naval
A expansão da China, e a condição atual de superpotência mundial, talvez seja uma atualização de uma situação que deveria ter ocorrido há mais de 600 anos atrás. Sem entrar em detalhes históricos, embora o estudo seja fascinante, encontramos no Almirante Zheng He ( 1371-1435 ) o expoente maior da expansão marítima da China durante o período da Dinastia Ming que teve Yong-Le ( 1402 – 1424 ) como Imperador.
Zheng He liderou seis expedições navais entre os anos 1404 e 1421 em direção aos Mares do Sul, Oceano Índico, e chegando até a África, onde em 1417 desembarcou aproximadamente 30.000 homens em mais de 300 navios. Pelos registros, as navegações tinham caráter diplomático e não bélico. O fato impressionante era a tecnologia empregada na fabricação dos navios, equipados com mastros múltiplos ( 9 a 11 ) e nove vezes maiores do que as caravelas de Colombo. As conquistas navais dos europeus foram possíveis por adotarem a tecnologia naval chinesa.
E com a morte de Yong-Le em 1424, o Império Ming entrou em um período de isolamento, a sétima expedição de Zheng He foi cancelada pelo filho e sucessor de Yong-Le, culminando com o incêndio proposital da esquadra chinesa como o marco para o término da sua expansão marítima. Talvez por este histórico do antigo poderio naval chinês, as imensas arcas do filme 2012 que abrigaram os sobreviventes do fim do mundo “só poderiam ter sido fabricadas pelos chineses”, como dito por um dos personagens em uma das cenas.
TECNOLOGIA DE PONTA CHINESA
De volta ao século XXI, podemos citar pelo menos duas áreas da tecnologia de ponta nas quais os chineses vêm se destacando pelos resultados e pioneirismo:
Supercomputadores:
De acordo com o site top500.org, que publica duas vezes por ano ( junho e novembro ) a lista com os 500 supercomputadores mais rápidos do mundo, a China vem liderando o ranking com o Tianhe-2 ocupando a posição #1 entre Junho/2013 e Novembro/2015. Na relação de Junho/2016 houve uma mudança importante: o Tianhe-2 passou para o segundo lugar, e o primeiro do ranking passou a ser outro supercomputador chinês, o Sunway TaihuLight. O ponto importante a ressaltar é que este último é inteiramente chinês, já que seus processadores são projetados e fabricados na China.
O desempenho do Sunway é de 93 Petaflops, enquanto que o do Tianhe-2 é de 34 Petaflops. Na lista de novembro/2016 não houve alteração nos 2 primeiros lugares. Para esclarecer, 1 Petaflop equivale a 1 quatrilhão de operações de ponto flutuante por segundo.
Supercomputadores como estes dois monstros supracitados são utilizados em pesquisas avançadas científicas e militares, tendo como exemplos as simulações de detonações de bombas nucleares, o estudo da formação tridimensional de proteínas ( assim nasceu o projeto do IBM BlueGene ), ou o processamento da massa gigantesca de dados oriundos das colisões de partículas do Acelerador de Partículas LHC (Large Hadron Collider);
Engenharia Genética:
A técnica de edição genética CRISPR/Cas9 é reconhecida como sendo a mais rápida e eficiente criada até hoje. Ela permite o recorte ( daí também ser chamada de tesoura genética ) de genes ( em uma região ) para retirada ou colocação em células, e pesquisas estão em andamento para empregar esta técnica na cura de doenças. Em outubro de 2016, os chineses se tornaram os primeiros a injetar células imunes modificadas com genes editados com a técnica CRISPR em um paciente com câncer de pulmão considerado agressivo. Este procedimento foi reportado no conceituado periódico científico Nature, e foi realizado no West China Hospital pela equipe liderada pelo oncologista Lu You, na Universidade de Sichuan. E neste ano, a equipe de Jianqiao Liu ( Terceiro Hospital Afiliado da Universidade Médica de Guangzhou ) se tornou a primeira a apresentar os resultados de um estudo da aplicação da técnica CRISPR em embriões humanos normais. O objetivo era tentar reparar o DNA em seis embriões, mas as mutações genéticas foram corrigidas em pelo menos algumas células em três embriões. Embora o estudo seja pequeno pela pouca quantidade de embriões envolvidos, os resultados foram considerados promissores por especialistas tais como Robin Lovell-Badge ( Francis Crick Institute, de Londres ) e Fredrik Lanner ( Karolinska Institute, da Suécia ).