Estamos no Maio Laranja, campanha para prevenção da violência sexual contra crianças e adolescentes e queria te contar a história da Patricia Almeida, mãe de uma adolescente com síndrome de down e criadora da cartilha Eu me Protejo.
Ela morava na Suíça, onde a filha estudava com professores particulares, até que resolveu voltar para o Brasil e colocar sua filha em uma escola pública para usufruir do ensino inclusivo, muito importante para pessoas com deficiência.
Ficou feliz, mas, ao mesmo tempo, sentiu medo, porque sua filha não sabia como se defender. Se a violência sexual é um medo de todos os pais de crianças típicas, imagina para pais de crianças com alguma deficiência, que muitas vezes precisam de ajuda para momentos íntimos ou que tem mais dificuldade de comunicação…
Para educar a filha de forma leve e clara, Patrícia decidiu fazer uma cartilha simples, com desenhos, que facilitasse o entendimento dela e de qualquer criança. Essa cartilha acabou virando referência, foi premiada, tem a chancela da Sociedade Brasileira de Pediatria e da Fiocruz, e hoje é usada em escolas e instituições de todo o país. Tem a unanimidade política/ideológica (foi divulgada por Michelle Bolsonaro e Janja) e até da Igreja, que costuma ir contra iniciativas de educação sexual.
Além da questão da linguagem acessível e inclusiva utilizada na cartilha (existem versões em vídeo, em braile, em espanhol e inglês e em áudio), a Patrícia defendeu uma tese de mestrado e muitas ações sociais que tocam em um ponto muito importante: a incidência de abusos sexuais com crianças com deficiência.
Sobre a prevenção da violência sexual com crianças e adolescentes com deficiência:
• São a maioria das vítimas (De acordo com pesquisa da UNFPA (2018), o número de vítimas com alguma deficiência é quatro vezes maior que as sem deficiência.
• Pessoas com deficiência sofrem três vezes mais violência sexual e as meninas correm o maior risco
• Crianças surdas, cegas, autistas ou com deficiências psicossociais ou intelectuais têm cinco vezes mais chances de ser abusadas. Segundo Lancet (2022), uma em cada três crianças com deficiência no mundo já sofreu violência.
“Apesar de sabermos disso, não temos dados oficiais no Brasil que permitam a criação de políticas públicas para inibição e punição desses crimes. Pessoas com deficiência são ensinadas a confiar nas pessoas, porque precisam de cuidados especiais, não estão preparadas para se defender e, muitas vezes, têm dificuldade de se comunicar” – explica Patrícia.
Além disso, essas vítimas não são consideradas testemunhas confiáveis, são intimidadas por cuidadores em quem confiam, só chegam aos hospitais em casos muito graves e a legislação não permite a inclusão de agressão a PcDs em boletins de ocorrência da Lei Maria da Penha.É um assunto importante para que essas vítimas ganhem foco e sejam criadas políticas publicas que as protejam. Talvez pudesse entrar em uma conversa com ela, ou uma matéria mais ampla, com outras mães atípicas (de crianças com deficiência, que criam movimentos sociais pelas causas de seus filhos).
Confira em:
www.EuMeProtejo.com