“Brenha, Vasto Profundo”: Júnior Cordeiro revisita as raízes míticas do Nordeste

Foto: Divulgação

A memória coletiva do povo brasileiro é vasta, indomável e pulsante. Mesmo diante das tentativas de apagamento cultural, ela resiste como chama perene, reavivando símbolos, crenças e tradições que moldaram nossa identidade. É nesse território de lembranças e forças ancestrais que Júnior Cordeiro finca os pés em “Brenha, Vasto Profundo”, seu décimo primeiro álbum já disponível nas plataformas digitais.

Dessa vez, o artista paraibano retoma os temas que sempre serviram de alicerce para sua obra: o Nordeste mítico e místico, o sertão profundo, a religiosidade popular, a herança ibérica e mourisca, os ecos das ancestralidades ameríndias e africanas. “Voltei para as brenhas da memória coletiva brasileira, do meu sertão de origem, que sempre me serve de fonte e de fôlego”, revela.

O disco funciona como um rito de retorno. Depois de explorar reflexões existenciais e filosóficas em álbuns anteriores, Cordeiro mergulha novamente no imaginário nordestino, com suas lendas, crendices e personagens atemporais. “Brenha” não é apenas uma coleção de canções, mas uma travessia: uma viagem poética e sonora que busca reencontrar as raízes mais profundas da cultura popular brasileira.

Com arranjos mais intimistas e um acento declaradamente “sertânico”, o álbum amplia o diálogo com a tradição musical nordestina — sem abandonar, contudo, as experimentações que marcam a trajetória do artista. Pitadas de psicodelia e ecos do rock progressivo ainda se insinuam, mas o protagonismo é da viola, das melodias que evocam o chão árido e sagrado do Cariri. “Mostro a face mais nordestina da minha obra, mas a psicodelia ainda está lá, como veneno e viagem em cada canção”, completa o músico.

No conjunto, “Brenha, Vasto Profundo” soa como um manifesto cultural: uma exaltação às nossas matrizes, uma defesa daquilo que nos constitui como povo. O sertão aparece como território simbólico em que o tempo não apaga as histórias, apenas as ressignifica. Ali, a memória não é ruína — é resistência.

Sobre Júnior Cordeiro

Poeta, cantor e compositor paraibano, Júnior Cordeiro construiu ao longo de duas décadas uma discografia singular, composta por 11 álbuns, DVDs e videoclipes. Conhecido como o “Bruxo do Cariri Velho”, o artista transita entre os universos da música nordestina e do rock, criando o que define como Rock-Baião — mistura que vai do baião e da toada ao progressivo, psicodélico, folk e blues.

Sua obra é reconhecida pelo caráter temático: o Nordeste mítico, o realismo fantástico, a tradição oral e a crítica à modernidade líquida se entrelaçam em uma poética densa e imagética. Mais que canções, seus discos configuram narrativas que mantêm viva a chama do imaginário coletivo brasileiro.

JEFF FERREIRA 

Author

Sou Jeff Ferreira, apaixonado por música desde sempre. Há 8 anos, transformo minha paixão em matérias, entrevistas e análises que aproximam artistas e fãs. Nerd por natureza, adoro explorar histórias, descobrir novas sonoridades e compartilhar tudo isso em textos que vão além das palavras — porque, para mim, música é emoção, é vida, é conexão.

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