Algumas problemáticas são melhores expostas por quem tem o lugar de fala. Impossível não comparar o roteiro deste magnífico Bela Vingança com a superficialidade que O Escândalo. Não, não estou acusando Charles Randolph, que fez outros excelentes trabalhos como A Grande Aposta, por exemplo, de ser leviano ao tratar um tema tão importante, mas, seu último trabalho fez sucesso graças a uma atuação monstruosa de Charlize Theron e a maquiagem em transformá-la em Megyn Kelly.
Emerald Fennell, o nome por trás do roteiro e direção deste filme que ficará na memória é também atriz, seu trabalho mais recente é como a Camila Parker Bowles de The Crown. Quanto talento meus amigos! Ela não só escreve o filme perfeito como o dirige de forma magnifica (e me arrisco dizer que se não fosse Chloé Zhao, felizmente o Oscar ainda sim ficaria entre as mulheres). A escolha dos atores é um espetáculo a parte, e tenho pra mim, que se fosse um diretor, escolheria os esteriótipos cansados para essa narrativa, já Fennell, foi precisa e cirúrgica: o perfil dos abusadores inclui aqueles caras super bacanas que muitas vezes dão risadas e encantam nossas famílias e amigos, senhoras e senhores!
Bela Vingança é aquele tipo de filme que nos faz ficar lembrando por dia se gostamos ou não do que acabamos de conferir. Ficamos pensando (ou porque não dizer julgando) cada ação da protagonista, e, devo adiantar que o final da narrativa não é unanimidade entre todos. Este é um ponto interessante para discussão. Em Corra!, Jordan Peele ao fazer suas exibições teste, teve um retorno bastante negativo quando ao destino de Cris (Daniel Kaluuya), e então resolveu mudá-lo. Aqui em Bela Vingança, possivelmente ele te deixará mesmo com um nó na garganta, entretanto, ao meu ver foi a forma mais realista possível de terminar uma história tão forte!
O roteiro é hábil ao nos mostrar como a cultura do estupro é normalizada até mesmo por mulheres e, ao dar um tapa bem no meio da nossa cara, em como os homens se unem e as mulheres se isolam diante do mesmo fato. Para as mulheres, estes casos acabam com as estruturas familiares, de amizades e com o próprio futuro da vítima, enquanto para o homem, muitas vezes, não passa de um: não vamos deixar com que uma bobagem dessa manche um futuro tão promissor.
Outro pontos fortes do longa são como ela condensa todo esse clima indigesto com uma fotografia belíssima, enquadramentos precisos, uma direção de arte digna de deixar qualquer amante do pop vidrado, bem como sua trilha sonora. É uma espécie de um cavalo de Tróia, mas, no melhor dos sentidos: a ambientação do filme te chama atenção, mas, para novamente dizer que não existe cara, ambiente, ou qualquer padrão quando o assunto é estupro.
Eu realmente espero que no próximo domingo vejamos Emerald Fennell saindo vencedora da categoria de Roteiro Original e Carrey Mulligan de Melhor Atriz. O filme merece!
Nota: 10/10
Para quem não assistiu ainda, abaixo o trailer da obra indicada a 5 estatuetas no Oscar 2021:
Até mais e bons filmes e séries! 😉
JOÃO FRANÇA FILHO (@CINESTIMADO)
ArteCult Cinema & Companhia
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