AZAZUL. O QUE É AZAZUL?

AZAZUL. O QUE É AZAZUL?

Por Luís Turiba* & Rose Araujo

 

 

Palavra sonora, celestial, leve e esvoaçante. Voa alto, entre o azul do céu e suas nuvens brancas que se formam e desaparecem na infinitude do Planalto Central.

AzAzul é algo concreto, matéria viva. Tanto é que poderia ser usada por um publicitário alucinado, em um novo e revolucionário produto no mercado consumidor brasileiro.

Poderia ser uma marca de alpiste, por exemplo, para passarinhos livres, soltos em um parque tropical chamado Burle Marx, espaço tão lindo quanto o nosso Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro, com suas árvores frondosas e acolhedoras, repletas de maritacas e periquitos verdes em barulhentas sinfonias sob o sol a pino de 40 graus.

Quem sabe um novo tipo de sorvete, com dois sabores inebriantes, para o verão da crise climática que se aproxima.

Talvez um borboletário científico, em um parque de diversão de um festival de música.

Ou mesmo uma marca de roupas fofinhas para bebês encantadores e risonhos, com suas fraldas high-tech, que não vazarão jamais.

Ou ainda uma nova companhia de aviação, de helicópteros e drones que entregam declarações de amor a domicílio, para casais apaixonados.

Luis Turiba com “Azazul”. Foto: Rose Araujo

Afinal, o que é Azazul? Vamos juntos desvendar esse mistério.

AzAzul é o título mágico de um álbum poético, com sofisticados versos, do poeta mineiro-brasiliense José Roberto S. e pinturas a óleo e aquarelas do artista plástico mineiro Carlos Bracher.

Uma obra de arte editorial e artesanal, que transcende a um simples livro, pois foi editado repleto de mistérios como um jogo poético, um quebra-cabeça lúdico feito por dois artistas brincando de esconde-esconde pelos jardins de Brasília em sua arquitetura impregnada pelos revolucionários traços modernistas de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer.

O álbum vem agasalhado por uma pasta mágica que se fecha pelos quatro lados. Dentro, o leitor encontrará dez lâminas com versos simples, complexos e históricos de passeios feitos pelos jardins das super quadras do Plano Piloto de Brasília. Em todas as lâminas, aquarelas de Bracher reproduzindo prédios, monumentos e cenas urbanas e históricas da cidade-arquitetura e sua heróica construção de “50 anos em cinco”, como propôs o presidente-desbravador Juscelino Kubitschek de Oliveira, inventor de Brasília.

Afora isso, mas dentro da mesma pasta, o leitor encontrará também o ALMANAK – BRANCAS NUVENS DE NEON, uma terceira parte desse trabalho de magnífico trato gráfico. São mais poemas e textos que comentam o processo de construção da obra que levou, pelo menos, cinco anos para ser idealizado, conceituado e diagramado como instrumento de poética modernista dos anos 50/60.

Interessante e cirúrgico o Almanak traz em si um “Calendário Verde” que ocupa as suas páginas centrais com versos para todos os 12 meses do ano.

Sim, os meses em Brasília se diferenciam, e muito, uns dos outros. Em todos eles, porém, surgem cenas poéticas mensais. Em junho, por exemplo, quando Brasília começa a dar sinais da seca que se aproxima, eis o que o verso indica:

Aquela garrafa de vinho tinto chileno/ comprada na galeria São Francisco/ Aquela vaga estacionada ente as árvores/ anoitadas nas margens do lago sul/ Calçadas cheias no Gilberto Salomão.

 

Capa de Azazul.

QUANDO E ONDE?

Atenção, leitores e apaixonados por trabalhos inventivos: os álbuns AzAzul já estão em pré-venda.

A curadoria do álbum é do artista plástico, historiador e ex-diretor do Museu de Arte de Brasília -MAB -, Cláudio Pereira.

E a apresentação é de Marcos Linhares, biógrafo, jornalista e presidente do Sindicato dos Escritores do DF.

Pedidos podem ser feitos diretamente ao poeta-editor José Roberto S.
pelo telefone 061-96489437 e/ou pelo e-mail: joserobertobsb1@hotmail.com

 

NOITE DE AUTÓGRAFOS

No dia 5 de novembro, terça-feira, haverá o lançamento no BEIRUTE SUL (109 Sul) a partir das 19h. Os exemplares serão numerados e com autógrafo dos autores.

E assim, por intermédio desta obra multifacetada, o poeta José Roberto S. e o pintor Carlos Brecher nos apresentam uma Brasília que produz poesia diferente daquela que o poeta Nicolas Behr – cuja grande musa é a Brasília que se rebela contra os caminhos traçados por Oscar e Lúcio Costa – mas em duas Brasílias se misturam: aquela linear e modernista que soma (ou subtrai) a uma urbis ajardinada, com suas sombras, suas nuvens, suas secas e suas chuvas.

E no poema Palavras da Cartomante , o casamento com o quadro Em busca do Eldorado, de Bracher, é flagrante; surgem lampejos sobre os mistérios dos candangos, homens e mulheres que vieram de todos os rincões brasileiros, para construir a Nova Capital Brasileira.

Mãe,/ A cigana me roubou/ Me vestiu e me calçou/ Me assoprou no pó da estrada.

Vá para oeste, sertão bruto do Goyas/ Novos dias por lá já estão fermentando,/ Brancos como guardanapos de cristais;

Bem longe daqueles areais e dos sais/ Que penetram sob a cútis azul-marinho/ Das sinuosas/ Sereias dos mares austrais.

 

BRASILIA, SEMPRE

Sou pernambucano de nascimento, carioca de coração e brasiliense de poesia e vida adulta no jornalismo. Morei e trabalhei em Brasília por 30 anos. Recentemente, voltei para passar duas semanas na cidade-capital, por ocasião do julgamento do meu processo de Anistia Política contra a Ditadura, que rolou no Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania.
Venci, vencemos!

Quem me acompanhou neste ato histórico em defesa da democracia – movimento que fechou um ciclo na minha vida – foi a minha parceira-namorada e também poeta Rose Araujo (@rose_araujo_poeta), que é do Paraná e com uma vivência da vida toda na Zona Sul do Rio de Janeiro. Ela não conhecia esse pedaço do Centro-Oeste brasileiro, que todo brasileiro(a) deveria mergulhar.

Brasília é uma espécie de meca para nós. Ali está a alma brasileira e não apenas o Congresso Nacional, com seus erros e acertos; e o Palácio do Planalto, onde trabalham os presidentes eleitos. É no Planalto que mora o Lula. Por ali viveram todos os presidentes desde 1960. No Plano Piloto ficam os seus ministros e assessores, diretos e indiretos. Todos, enfim, personagens deste poema-cidade que é Brasília e seus ocupantes.

Pude vivenciar, assim – e também me emocionar – com o sentir e a descoberta emocionada e emocionante da Rose, poeta e designer gráfico, diante da grandeza monumental da capital brasileira. Mas sua emoção foi bem além dos monumentos dessa cidade imponente, sua emoção estendeu-se aos jardins, árvores, caminhos e descaminhos das super quadras, criadas pela dupla Oscar/Lúcio Costa, com seus bancos no meio do nada, em meio a tudo. Assim, seguem trechos de sua declaração de amor à AzAzul e à cidade:

 

“Esplanada em vão central. Impacto, engasgo, cisco nos olhos. Uma emoção pra lá da conta, ao vê-la em linhas exatas e arquitetura sinuosa, como quem nos abraça, recebe e nos sorri. No caminho ipês amarelos, painas, rodopios de folhas, manacás daqui e de lá.

Assim chega-me Brasília e ao seu encontro me encontro.

Assim chega-me o poeta Zé Roberto e em sua obra eu me lanço.

Em meus dias na Princesa do Cerrado, com o incrível poeta e jornalista Luis Turiba, conheço o projeto do Zé, ainda em processo de edição, mas com brilhos nos olhos, nos recantos e nas não esquinas.

José Roberto de S. convida-nos à liturgia da Asa Sul, codinome AzAzul, onde pincela frutos, árvores e passaredos em suas paletas de versos.

E na semana passada recebemos o projeto final, a obra, florida em telas do parceiro e artista plástico Carlos Bracher. Pronto, forma-se a imagética, a narrativa, a grandeza do livro/telas/almanaque que lança olhar poético sobre Brasília e alinhava tempos de lá e espaços de dentro da gente, em todo lugar.

Considero AzAzul um dos grandes projetos do ano, pois é muito bem elaborado gráfica e visualmente, explorando signos e sutilezas, lâmina a lâmina, em experiencia singular. AzAzul entrelaça dois grandes nomes da poesia e da pintura nacional, além de coroar décadas de expressão poética do poeta e jornalista Zé Roberto S.”     (Rose Araujo)

 

AzAzul é mais que convite fluído em seus múltiplos signos, é mais que encontro marcado com nossos ecos em seus verdes, cinzas e não esquinas. AzAzul é celebração de arte e de vida, profusão do olhar, ampliando os sentidos.

 

LUIS TURIBA

Luis Turiba em Brasilia. Foto de Rose Araujo.

*Luís Turiba é jornalista aposentado, poeta com 3 livros editados pela 7 Letras do RJ, e outros 8 livros no campo da poesia independente e/ou marginal.É editor da revista anual de invenções poéticas Bric a Brac, criada em Brasília, em 1985. A Bric a Brac 8, última edição, saiu em 2022, uma celebração ao centenário da Semana de Arte Moderna de 1922 e ainda pode ser encontrada nas melhores livrarias de Ramos.

@luisturiba

 

 

 

 

 

 

 

Author

Pernambucano, carioca, brasiliense, planetário. Rubro-negro e mangueirense. Pai de cinco filhos, avô de cinco netos. O brasileiro Luiz Artur Toribio, conhecido no universo poético como Luís Turiba, inventou e editou a partir de 1985 - ano da eleição de Tancredo Neves/José Sarney para presidente e vice da Abertura Democrática - o primeiro número (1) da revista de invenção poética Bric-a-Brac. Ao longo dos anos 80 e 90 foram confeccionadas seis edições com uma média de 100 páginas e tiragem nunca inferior a mil exemplares, que saíam anualmente com poemas textuais e gráficos; ensaios fotográficos e entrevistas que se fizeram históricas com Augusto de Campos, o bibliófilo e acadêmico José Mindlin; o cantor e compositor Paulinho da Viola; o poeta pantaneiro Manoel de Barros – entrevista feita com trocas de cartas ao longo de seis meses e resultou em 15 páginas na revista -, além da psiquiatra Nilse da Silveira, do babalorixá franco-baiano Pierre Verger; e uma visita-entrevista a Caetano Veloso com a presença de Augusto de Campos. A Bric-a-Brac era editada coletivamente por Luis Turiba, João Borges, Lúcia Leão e o extraordinário designer Luis Eduardo Resende, o Resa, com seu traço inconfundível. A última Bric foi editada em Belo Horizonte em 2022, uma celebração ao centenário da Semana de Arte de 22 com um artigo histórico de Augusto de Campos comentando as relações do grupo Noigandres com os modernistas Mário e Oswald de Andrade. Mas afinal, quem é Luís Turiba? Jornalista e poeta, cronista da vida do brasileiro comum, Turiba é pernambucano do Recife, “cidade pequena, porém descente”, terra de Manuel Bandeira, João Cabral de Mello Neto, Capiba, Luiz Gonzaga e Chico Science. Aos 23 anos, iniciou sua carreira de Repórter no jornal O Globo e depois na editora Bloch/Manchete. A convite, mudou para Brasília, onde foi trabalhar na sucursal do jornal Gazeta Mercantil, editor de Matérias Primas, onde teve a oportunidade de cobrir e conhecer obras e projetos do chamado “Brasil Grande”, como a Transamazônica e o garimpo de Serra Pelada, e outras na região amazônica. Em Brasília, como repórter, ganhou alguns prêmios, entre os quais destacam-se dois Prêmios Essos: um no Jornal de Brasília, contando detalhes de um encontro do seu estagiário Renato Manfredini (no Jornal da Feira do Ministério da Agricultura), o Renato Russo da banda Legião Urbana, com o então todo-poderoso ministro da Agricultura Delfim Neto. O outro Esso foi no Correio Braziliense, com uma cobertura coletiva sobre as áreas públicas brasilienses que estavam sendo legalizadas para a construção de condomínios residenciais para residências de altos funcionários e militares que serviram à ditadura militar. Teve experiências no Jornalismo Político, na Assessoria de Imprensa da Câmara dos Deputados, durante a Assembleia Constituinte que formulou a Constituição de 1988. Na ocasião, assistiu do plenário da Câmara dos Deputados, a famoso discurso do jovem líder indígena Ailton Krenak, que falou vestindo um terno branco e pintando o rosto com pasta preta de jenipapo. Cobriu toda a campanha das Diretas Já e a eleição de Tancredo Neves pelo Colégio Eleitoral para a presidência da República em 1985. Na ocasião, Tancredo criou o Ministério da Cultura e convidou para ser seu ministro o deputado mineiro José Aparecido. Anos depois, com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva para presidente, Turiba foi convidado para ser Assessor de Comunicação do MinC na gestão de Gilberto Gil, entre 2002 e 2005. Editou um pequeno livro sobre a política do “Do-In Antropológico”, os Pontos de Cultura e os discursos programático do compositor de “Domingo no Parque” à frente do MinC. Em 2003, produziu os documentários "Gil na ONU" e “A Capoeira no Mundo”, com um programa mundial para a Capoeira. Ambos foram editados em DVDs com o apoio da Natura. Paralelamente à sua carreira de repórter/jornalista, publicou livros de poesia no Rio e em Brasília. Estreou com “Kiprokó”, em 1977, e depois o destaque ficou por conta do premiado “Cadê”, que venceu o Prêmio Candango de Literatura, em 1998. Voltou a morar no Rio de Janeiro em 2010, quando se aposentou do jornalismo. No Rio, publicou três livros de poesias pela editora carioca 7 Letras: “Quetais”, em 2014; “Poeira Cósmica” e em 2020, o “Desacontecimentos”, em 2022. Desde 2023, escreve um romance jornalístico-poético com suas experiências pelo mundo político com histórias vividas no histórico ano de 1968; a prisão pelo DOI-Codi em 1972; a abertura democrática e a Constituinte de 1988; a eleição de Tancredo/Sarney no Colégio Eleitoral; a eleição de Lula em 2002; o retrocesso provocado pela eleição do direitista negacionista que tentou um atrapalhado golpe de Estado em 2023. Título do livro que deve ser editado em 2025: “VIVA ZÉ PEREIRA; Aventuras e Desventuras de uma geração”. Ele já avisou: “o livro será um calhamaço de mais de 400 páginas, um rico material iconográfico e as dez principais entrevistas culturais que fiz na minha carreira e pelo menos 100 poemas inseridos na sua narrativa.” Turiba orgulha-se de ter nascido no mesmo ano que o Estádio do Maracanã, onde a seleção brasileira perdeu o jogo final para a seleção uruguaia por 2 a 1 e mostrou ao mundo, segundo Nelson Rodrigues, “todo o seu complexo de vira-latas”. Apesar da data possuir uma aura de trauma coletivo para os amantes do futebol, o personagem em questão considera esta data uma conquista aos avessos. “Quem viveu um “Maracanaço” só poderia ter como compensação o negro Pelé, filho da terra e redenção humana para a conquista de cinco Copas do Mundo. Por isso, o karma da derrota em 50 “não me pertence. Nem a mim, nem à minha geração. Vivemos a glória de uma geração futebolística pentacampeã do mundo. A única. Perdemos o complexo de vira-latas””, costuma afirmar orgulhoso o poeta editor da Bric-a Brac e agora colunista.

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