Todo roteirista sabe: filme não é só o que está na tela. Este resultado, na verdade, é só a conclusão do grande trabalho por trás da elaboração de um roteiro. São tantas as regras e formatações que o processo ganha ares matemáticos quase exatos. As regras são tão presentes que, para um roteiro ser bem formatado, há uma fonte correta (Courier / Courier New), um tamanho preciso (12) e outras limitações como recuos, alinhamentos e parágrafos. Tudo calculado de modo quase ci-rúr-gi-co.
Imaginemos uma cena. Nela, temos dois personagens que conversam por mais ou menos um minuto. Para uma descrição fiel da cena, precisamos de: cabeçalho de cena, ação, personagens, diálogos e parentéticos. Embora em desuso, alguns roteiristas ainda indicam a transição de cenas também. Esta cena, diga-se, deve ser escrita em uma página para acompanhar o tempo e métrica do roteiro. Aliás, o roteiro é a parte final do trabalho do roteirista. Há várias etapas a serem concluídas antes: ideia, storyline, perfil de personagens, sinopse, argumento, espelho e escaleta.
E agora, como começar, organizar, desenvolver e finalizar um roteiro?
Há um dogma no audiovisual que afirma: um filme é dividido em três atos, que variam de 30 a 90 minutos cada. No cinema, essa minutagem pode ser um pouco menor. Vale lembrar que o “ato” provém do teatro e da ópera e que roteiristas de cinema se apoderaram do termo e de sua utilização.
Como estudante de cinema e aspirante a roteirista, preciso confessar: nunca entendi como funciona a tal “estrutura” e não sei como escrever um filme por atos. Para mim, é muito simples: o filme equivale a uma história que conto pra alguém num fim de semana, num bate-papo informal. Amigos, às vezes, me perguntam: “essa sequência aqui marca o fim do seu primeiro ato?” e minha resposta é sempre a mesma: não faço a menor ideia. Tentei, mas juro que não consegui absorver tal regra.
Para meu alento, Bráulio Mantovani, um dos roteiristas de maior impacto do cinema nacional, não entende seus filmes por atos. Ele realiza o roteiro como uma música, com notas e ritmos ao longo de sua execução.
Seja uma música, uma conversa jogada fora, uma paleta de cores, não importa. Desenvolva seu estilo e sua escrita. Não se apegue a alguma maneira nem copie a de alguém. Escrever um filme é, antes de qualquer coisa, ter a liberdade de conduzir os acontecimentos a seu critério. Só há um quesito obrigatório e irrevogável: perca o medo de escrever. Grande parte do que a gente põe no papel vira uma bola de papel amassada na lixeira do quarto e isso não é nenhum demérito, chama-se desapego e certeza de progresso e produtividade.
Bráulio Mantovani – Entrevista para o software Story Touch