Nunca dei sorte no “Dia dos Namorados”. Não é uma reclamação em relação a ninguém. Meus ex foram ótimos enquanto duramos. Mas o Universo conspirou contra meu romantismo a vida inteira. Eu cedi, deixando de valorizar a data.
Já terminei namoro três dias antes do dia. Já ganhei um urso enorme de pelúcia e show do Flavio Venturini mas supliquei para voltar para casa, com 39ºC de febre e a garganta completamente infeccionada, bem no início do programa. Já troquei mensagem com o namorado no aeroporto, viajando a trabalho, porque a data não é feriado, então trabalha-se, né?
Nunca pétalas de rosa sobre a cama. Nem cesta de café da manhã. Nem jantar a dois em local romântico. Nem buquê de flores surpresa no trabalho. Dia dos Namorados sempre foi uma data meio normal para mim. Estava sozinha ou não éramos dados a gestos românticos. E tudo bem. Debaixo de uma fã de Roberto Carlos, havia uma boa capricorniana, dando mais valor a quem estava a seu lado do que à mise en scène. Talvez, no futuro, surja alguma memória única relacionada ao dia. Embora ache difícil me convencerem a encarar um restaurante cheio, só pelas luzes de velas à mesa. Capricorniana, eu disse.
Minha confissão tem um motivo específico.
Depois de ler meu texto sobre ser possível ser feliz sozinha aqui no ArteCult, uma amiga me disse, como se eu não soubesse: “ah, muita gente sofre com a solidão”. Falou que não conseguirá abrir as redes sociais no dia 12 de junho. A ostentação das relações reforçará o sentimento de abandono. Sou solidária a sua dor mas lhe lembro: a alegria estampada é, apenas, um recorte. Na bolha virtual, o mundo parece perfeito.
Claro que muita gente sofre de solidão. Eu também já sofri. Mas, ao contrário da amiga, já me senti profundamente solitária numa relação. Talvez por isso, minha perspectiva seja diferente: não acho que solidão esteja relacionada a status de relacionamento.
Um amor é bom? É. Ter um companheiro na vida é bom? É. Mas é muito ruim estar ao lado de quem não a acompanha. Ter compromisso com quem não se compromete como você. Estar junto apenas para não estar só.
É ótimo ser amada e corresponder. Encontrar alguém que ache graça nas mesmas coisas que você. Mas não esqueçamos: felicidade é construção individual. É sendo feliz que se é capaz de irradiar felicidade. É o equilíbrio individual que não desequilibra as relações. Ter prazer na própria companhia é o que acena ao outro que sua companhia é prazerosa.
Neste Dia dos Namorados, você poderá estar só. Talvez em mais nenhum esteja; talvez em muitos outros. A vida é circular e imprevisível. Crie oportunidades para sentir-se bem. Boas energias ecoam alegria. Mas exigem o esforço.
Feliz Dia dos Namorados a todos! Bom romance para quem é romântico. Boa prosa para quem é de conversa. Bom sexo para quem ama luxúria. Boa reza para quem é de oração. Boa noite aos solteiros, aquecidos diante da tevê ou de um livro. Meu desejo é que não faltem desejos nem amores na vida de ninguém.