Que sou fã declarado de Antônio Torres não é surpresa para muitos. Fui de sua oficina literária na UERJ por três belos anos, na época em que os autores deste projeto ficavam apenas um.
Ele se superou e foi nosso mentor por mais tempo. Sua incrível sensibilidade atrelada a uma simplicidade impressionante não só o tornava próximo, mas vivo. E aquelas oficinas tinham vida.
Tornaram-se divisores de água na vida de todos ali, que seguiram carreiras literárias ou envolvidas com literatura em função dele, nosso Totonhim.
Não foi para nossa surpresa – os seus fãs e oficineiros – que ele foi congratulado mais uma vez com um prêmio a altura de seu calibre e importância: Grande Prêmio Cidade do Rio de Janeiro 2016, criado pela Academia Carioca de Letras. Entregue por seu antecessor, Ruy Castro, o prêmio retrata essa intimidade com o Rio, tão Rio e tão singular.
Quando o conheci, lá pelos idos de 1999, eu lera o seu romance Táxi para Viena D?Áustria. Impressionante romance, que me tirara do prumo por em nada se assemelhar com os que
eu já lera e olha que eu tinha acabado de ler Ensaio sobre a Cegueira, outra pancada. Veio como um trabalho de faculdade em que o professor avisara que o escritor estava na UERJ às quintas. Fui até ele, entrevistei-o sobre o romance e fiquei para as oficinas. Redenção dupla.
O romance que já me assustara com o seu clímax inominável, em que se entende toda a viagem do personagem principal, a forma como este ouvia o jazz – hoje não consigo escrever sem colocar um jazz – e toda aquela pressa urbana carioca eram compostas por um autor não carioca. Seu sotaque firme e leve tinha na experiência de vida uma inacreditável sedução das percepções. Antônio chora uma delicadeza especial, ardida na brutalidade dos tempos passados e declamada em prosa memorialista. Seus livros são registros de suas épocas sob a batuta de um músico prosador.
Antônio é um jazzista baiano de sangue carioca e memória firme. Para se aproximar da obra dele, eu recomendo uma sequenciação. Quando me perguntam o que dele ler primeiro, recomendo o conto Por um Pé de Feijão. Lindíssimo. Destaco em especial um trecho que vez ou outra eu uso em sala de aula para compor um exemplo da literatura contemporânea:
“Toda a plantação parecia nos compreender, parecia compartilhar de um destino comum, uma festa comum, feito gente. O mundo era verde. Que mais podíamos desejar?”
(Meninos, eu Conto, texto – Por Um Pé de Feijão – pags 32/33)
Caso queria conhecer o conto completo, segue aqui o link do site Releituras
Após o conto, digo que há dois livros necessários, que pertencem à trilogia do suicídio: o Essa Terra e o Cachorro e o Lobo. O segundo desta opção eu já reli duas vezes. Todos os dois trazem uma temática semelhante, a do Sul Maravilha, que trata singularmente do retorno do homem nordestino. A ideia do homem capitalista do Essa Terra – que já se tornou um clássico em todos os sentidos – é lindíssima. Eu, como apaixonado pela obra que sou, sempre digo para lerem o Cachorro e o Lobo. É o livro que mais me é Antônio. Introdução forte tanto como parágrafo de introdução como capítulo. Não li até hoje melhor forma de se compô-la.
Depois disso, dessas três obras, siga para o Táxi. É um Antônio lírico, jazzista. Como em Balada da Infância Perdida e Homem de Pés Redondos. Siga para o Antônio Histórico, com seus fabulosos Meu Querido Canibal e Nobre Sequestrador. Volte para a trilogia e leia Pelo Fundo da Agulha. Em época de grandes questionamentos à aposentadoria, aqui vemos um personagem já em fim. Ali Antônio Baiano e Antônio Carioca se fundem ainda mais. Puro ápice.
No entanto, vou me ausentar do que ler da obra deste nosso daqui para frente. Aconselho a degustá-lo urgentemente. Caso queira, siga estas minhas sugestões. Caso não, qualquer um de sua obra será magistral.
Deixo esse texto como um presente de Natal a vocês.
OUTROS LINKS
WEBSITE Oficial de Antonio Torres: http://www.antoniotorres.com.br
Academia Carioca de Letra: http://www.academiacariocadeletras.org.br
BIBLIOGRAFIA
Um cão uivando para a lua – 1972
Os homens dos pés redondos – 1973
Essa terra – 1976
Carta ao bispo – 1979
Adeus, velho – 1981
Balada da infância perdida – 1986
Um táxi para Viena d’Áustria – 1991
O centro das nossas desatenções – 1996
O cachorro e o lobo – 1997
O circo no Brasil – 1998
Meninos, eu conto – 1999
Meu querido canibal – 2000
Essa Terra (edição comemorativa de 25 anos) – 2001
O Nobre Sequestrador – 2003
Pelo Fundo da Agulha – 2006
Minu, o gato azul – 2007 (história para crianças)
Sobre pessoas – 2007 (crônicas, perfis e memórias)
Do Palácio do Catete à venda de Josias Cardoso – crônica, 2007