Não, eu não estou falando de fast-food. Hoje, o assunto é blockbuster.
Infelizmente, para uma boa parte dos cinéfilos mais exigentes que conheci, tais filmes são vistos com uma boa dose de rancor. Pelo menos nas conversas com alguns amigos mais Cult e professores mais conservadores, artisticamente falando, estes são única e exclusivamente máquinas de fazer dinheiro. E qual é o problema disso?
Uma breve pontuação: um filme blockbuster é alguma obra cinematográfica que alcançou um objetivo muito além do esperado em público e renda, inclusive, batendo recordes, por isso a expressão a destacá-lo.
Pergunto, então. Que mal há em ser bem-sucedido?
Traço um paralelo com a sociedade brasileira. Temos, infelizmente, um maneirismo de condenar a riqueza. Tomemos como exemplo um sujeito de idade avançada, barrigudo e podre de rico acompanhado de uma mulher mais jovem e esbelta. Com toda e mais absoluta certeza e convicção, afirmo que os pensamentos imediatos seriam: “Aposto que é corno”, “ih, isso aí é matéria paga”, “essa aí só quer a herança.”, dentre outros. Oras, e por quê? Simples. Não é pela idade de um ou de outro, nem pela diferença de estruturas físicas, não neste caso em particular. É pelo status, ou melhor, pela raiva que dá alguém com status. Quantas vezes você já se pegou pensando o porquê daquele cidadão morar de frente pra praia ou ter um carro conversível e você trabalhar pra caramba e viver de modo mais humilde? A vida do sujeito, que deveria ser um objetivo, uma meta, encarna em nós como ódio, como inveja.
O mesmo acontece com os filmes. Em geral, os mais underground valorizam o que julgam ser a “verdadeira sétima arte”: um filme feito com amor, verdade e parcos recursos. Um filme que visa lucro e público nunca pode ser entendido como um cinema de raiz, mesmo este sendo super bem produzido e elaborado.
Vamos à realidade. A maioria dos cineastas e produtores menores, no Brasil e no exterior, realizam seus filmes e projetos com dificuldade e a duras penas. Orçamentos medíocres, prazos apertados, dificuldade de lucro, renda e público. Muitos filmes, inclusive, sequer entram no cenário, daí a importância de cineclubes e festivais. Esta pode ser uma explicação plausível do incômodo que o blockbuster gera. Como um tsunami, varre oportunidades de exibição e toma conta das salas de cinema pelo mundo.
Atualmente, está em vigor uma lei que limita o poder dos blockbusters. Nos complexos com até seis salas de exibição, somente duas salas poderão ser ocupadas pelo(s) super-filme(s) em cartaz. Em caso de um multiplex com mais salas, resta aos exibidores uma fatia de 35% destas exibindo o mesmo filme. A lei é válida e necessária, pois o mundo cinematográfico não se restringe a meia dúzia de sucessos comerciais mundiais ao longo do ano e contribui com uma maior diversidade nas salas.
Mas eu confesso: sou aficionado por blockbusters. É surreal imaginar o batalhão de gente necessário, o orçamento megalomaníaco, os astros e estrelas do mais alto escalão e um público-alvo de números estrondosos. E, sim, há excelentes roteiros, ótimos diretores e equipe técnica de primeira linha.
O blockbuster não deve ser encarado como um inimigo, mas sim como um objetivo que um dia pode ser alcançado.