Analógico Lógico: Os Alicerces da Arte da Fotografia, Parte 1

Saudações Terráqueos! Em nosso artigo da semana falo um pouco sobre os alicerces da fotografia. É um papo técnico mas superinteressante para quem está começando ou para aqueles que, já tendo um determinado conhecimento sobre o “métier”, se comprazem em sempre recordar e estudar o assunto. Como gosto de dizer, “não sou professor em nada, mas sou aluno em tudo”. A vida é um eterno aprender.

Então vamos ao que interessa: os “alicerces” da fotografia. Como todos vocês devem ter visto em um de meus vídeos no Canal Analógico Lógico!, no YouTube, a fotografia tem início em 1826, quando o inventor francês Joseph Niépce, através de seu próprio método denominado, inicialmente, Heliografia (gravado pelo sol, literalmente), criou a primeira fotografia da história, feita a partir de sua janela, com uma exposição de seis horas e que foi denominada “Punto de vista desde las ventanas de Gras”.

Muito daí se evoluiu na fotografia. Se na época de monsieur Niépce a mídia de captação da imagem era feita com uma placa de estanho revestido com uma camada de Betume da Judéia, em pouco tempo a tecnologia evoluiu para chapas de vidro, daí para chapas metálicas revestidas de emulsão de haleto de prata e dessas para a película, inicialmente em tamanhos gigantescos, até o ponto em que essas foram sendo gradualmente reduzidas até a chegada do filme em rolo, em diversos tamanhos de médio formato e, subsequentemente, o advento do pequeno formato, representado pelo filme de 35mm, de cinema, inaugurado, nas câmeras rangefinder pelas Leica I, em 1925 e nas SLRs pelas Kine Exakta, em 1936 ou seja, um século após a criação de Monsieur Niépce. Cem anos de evolução.

Então, nesses outros quase 100 anos que nos separam dessas câmeras de pequeno formato iniciais, a fotografia evoluiu muito, tanto em equipamentos quanto em métodos e técnicas. Desta forma, não há que se dizer que este ou aquele método, câmera, técnica ou, por que não, resultado é melhor que outro e vice-versa. Todos são importantes e construtivos à arte maior. Grandes artistas não competem entre si, cada um tem a sua expressão artística e única.

Assim, a fotografia como sendo literalmente a gravação da luz (do Grego: photon = luz; graphos = gravar, grafar, escrever), precisava ter uma metodologia mensurável para que fossem determinados valores de exposição com precisão, já que a luz muda (muito) o tempo inteiro e se numa fotometragem a velocidade determinada para certa abertura era de 1/125seg, se passou uma nuvem ou abriu o sol ou os galhos das árvores balançaram com o vento, amigo… esquece. A estória já é outra. Quem bate com fotômetro sabe.

Então, com a evolução dos métodos e técnicas, se percebeu que a despeito do tipo de câmera ou formato, da lente usada ou não, de qual chapa ou filme, ou seja, qualquer coisa, haviam três parâmetros que eram comuns a todos: a velocidade com que a mídia é batida ou tempo de exposição; a obturação, que é a abertura do diafragma da lente ou orifício (no caso das pinholes) e, por fim, a velocidade com que a mídia (filme ou sensor) captura a luz e é disso mesmo que falaremos hoje.

Quem bate no digital não tem uma experiência purista nesse assunto, pelo simples motivo que a câmera, em sua esmagadora maioria das vezes, fotometra e faz quase tudo para a pessoa, deixando esta como passageiro. É um fato. No digital a maioria se limita a apontar e bater. No filme a estória muda, pois há que se saber, obrigatoriamente, duas das três variáveis: a abertura e a velocidade, pois a sensibilidade do filme não mudará. O que não ocorre no digital, pois a sensibilidade do sensor também se adéqua a cena. No filme não dá para tirar um ASA 100 e colocar um ASA 800 para fazer uma foto, por exemplo.

Mas aí vem gente que vai falar que dá para “puxar” o filme. De fato, dá pra fazer isso se o filme for todo “puxado” e não por foto (*). Evidentemente estou falando de mídia 35mm, pois há câmeras de médio formato em que se pode trocar o back, a parte de trás da câmera, a qual fica o filme, por outro back com filme de sensibilidade ou tipo diferente. O mesmo com as câmeras de grande formato, que usam chapas que são trocadas a cada foto.

Antigamente também daria para fazer isso com algumas câmeras 35mm, como as Exakta, que possuíam carretéis para enrolamento do filme batido e navalha de corte para separar seções do filme, que era recolhido dentro da bobina e substituído por outros de sensibilidade ou tipos diferentes mas, na prática, era tão trabalhoso que simplesmente não valia a pena.

Então, dessa forma, criaram-se índices para quantificar a sensibilidade dos filmes em relação à luz, se os filmes eram mais ou menos sensíveis a ela. Inicialmente houveram inúmeros índices de sensibilidade, tais como: o Warnerke, que foi o primeiro de todos, nos idos de 1880 e que definia a sensibilidade do material de captação da luz (e não do filme, necessariamente); Hurter & Driffield, surgido em cerca de 1890; o Método Scheiner, de 1894 e que era utilizado, principalmente, na astrofotografia. E já no Séc XX, em 1934, a escala DIN, do Deutches Institut für Normung (Instituto Alemão de Padronização), que foi a primeira escala de padronização para filmes utilizada em grande escala e foi utilizada por muito tempo, vindo gravada nas embalagens de filmes e nos seletores das câmeras alemãs, acompanhado do padrão ASA. Também havia o padrão BSI do British Standards Institution, que copiava o DIN; o padrão Weston, de 1935, da Weston Electrical Instrument Corporation, fabricante dos conhecidos fotômetros Weston Master; a General Electric, que em 1936 tinha também sua própria escala fotométrica, a qual era similar à Weston e o padrão GOST, de 1951, utilizado na União Soviética e similar a ASA e que é utilizado até hoje nos excelentes filmes Russos.

Em 1946 surge o mais famoso de todos, o da American Standards Association que, baseado nos Weston, GE e Kodak, criou seu padrão ASA, passando o mesmo por diversas alterações no correr dos anos, até que, finalmente, em 1974 surge o último e que vigora até os dias de hoje: o ISO, de International Standards Association, que, resumidamente, é a unificação dos padrões DIN e ASA, muito embora fosse bastante comum que os DIN ainda viessem impressos em embalagens de filmes alemães, ainda por muito tempo, juntamente com o ASA.

Desta forma, o padrão ASA ou ISO, já que são tecnicamente iguais, se refere à sensibilidade daquele filme em relação à luz, sendo valores baixos de ASA/ISO, tais como 6, 12, 25 e 50 definidos como de pouca sensibilidade à luz, ou lentos, logo, necessitando de uma grande quantidade desta, como um dia claro de sol, por exemplo, para serem sensibilizados, ou seja, para que a imagem seja corretamente capturada.

De forma inversa, filmes com ASA/ISO altos, como 800, 1600 e 3200 são filmes muito sensíveis à luz, necessitando pouca luz para conseguirem gravar, na mídia (película), a imagem, como no caso de fotografia noturna ou interiores pouco iluminados. Ou, sendo esta luz abundante, bater as fotos em velocidades muito mais rápidas, de modo a congelar a imagem sem borrá-la, como, por exemplo, uma corrida de cavalos. Daí também serem chamados de filmes rápidos.

Obviamente, entre os filmes rápidos e os lentos, há os filmes de média velocidade, como os ASA/ISO 100, 200 e 400, que também são conhecidos como filmes versáteis, por se prestarem a uma (em tese) maior gama de aplicação, combinando características dos dois outros tipos.

É claro que esta é uma noção simplista da coisa e com a prática, métodos, material e estudo se consegue utilizar os mesmos tipos de filmes de maneira inversa, seja se borrando uma imagem rápida com filmes lentos ou fazendo fotos criativas utilizando superexposições com filmes rápidos. Expressão artística é o que não falta no filme. Tem para todos os gostos.

(*) Muito resumidamente, quando uso o termo “puxar”, estou me referindo a uma técnica em que se bate o filme em uma ASA maior ou menor, porém, este é revelado de forma a se compensar isso, possibilitando que, em situações de baixa luminosidade, por exemplo, um filme menos sensível seja capaz de fazer a foto e depois, quimicamente, na revelação, esta imagem consiga ser reproduzida. Não é um método perfeito, mas tem sua finalidade em determinadas situações como, fotos artísticas, por exemplo, onde o filme é “puxado” propositalmente, se visando determinado fim.

A título de curiosidade, no Brasil utilizamos os termos “puxar pra cima” e “puxar pra baixo”, de batermos com um filme de ASA baixa ser revelado de modo a elevar esse índice e vice-versa. No entanto, lá fora o certo é push (empurrar) e pull (puxar) e isso pode gerar uma determinada confusão se não se prestar muita atenção a isso. Em ambos os casos, a “puxada” será dada em relação ao número de “stops” que foram compensados, no filme. Se se compensou dois stops pra cima, se “puxa” dois stops pra baixo e por aí vai. Muito cuidado com isso porque já vi gente que entendeu isso como pegar a ponta do filme e puxar ele pra fora (risos e lágrimas).

Espero que tenham gostado do artigo e vejo vocês no Canal Analógico Lógico!, no YouTube. Toda semana um vídeo novo com muita história, dados técnicos, fotografias e avaliações. Não deixem de conferir. Abraço grande e boas fotos!

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Author

Vitor Oliveira é dono de uma visão poética sobre a vida e o mundo que o permeia. Fotógrafo experiente e autodidata, fotografa desde os 10 anos de idade influenciado por seu avô, o pintor paisagista Altamiro Oliveira, de quem, além da pintura clássica, o influenciou no desenho e na literatura, arte que exerce escrevendo romances ambientados no submundo de uma São Sebastião do Rio de Janeiro do final do Séc XIX e começo do Séc XX que não mais existe. Pesquisador de métodos, técnicas e equipamentos fotográficos e colecionador, Vitor Oliveira fotografa principalmente em película, por considerar que, após quase 200 anos de evolução desta forma de arte, esta ainda oferece os melhores resultados, ao depurar a técnica artística, quase que alquimicamente. Sendo um dos únicos fotógrafos de nível mundial a participar, usando filme, no maior concurso fotográfico do mundo, o Sony World Photography Awards, da World Photography Organization, Vitor Oliveira inaugura seu Canal Analógico Lógico!, no YouTube, através do qual procura compartilhar um pouco de uma aprendizagem que nunca finda. Hare Hare! Canal Analógico Lógico! : https://youtube.com/channel/UCom1NVVBUDI2AMxfk3q8CpA Video de abertura: https://youtu.be/N_cuYPi6b4M

4 comments

  • Adorei o artigo! Muito bom, mesmo! Adoro que seja as sextas-feiras. Parabéns, muito bom!!!

    Amooooo o canal tbm os vídeos são bem explicativos….????

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  • Caramba! Que aula. Vou reler para absorver mais. Obrigada pelo texto. Agora é aguardar a próxima semana pela parte 2 🙂

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  • Ótima matéria meu amigo,bem explicativo,com várias informações importantes! Continue assim!

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