Analógico Lógico: As Pentax

Analógico Lógico: Pentax

Estava pensando no que escrevinhar essa semana e decidi falar um pouco de um dos componentes da fotografia menos falados: o tato. Sim, isso mesmo! Tato! Ainda que por razões óbvias a visão seja o sentido mais corriqueiro (porém não único) quando se faz uma fotografia, o tato, em especial, tem um lugar no pódio.

Um causo: há um tempo atrás, quando eu cursava minha quinta faculdade, tinha um colega que era cego. Um cara muito legal, diga-se de passagem. Movido por minha curiosidade infindável, lhe perguntei certa vez como ele fazia para caminhar pelas ruas certas, no que ele, poeticamente, me respondeu: “as ruas têm sons próprios”.

Assim como ele conseguia perceber nuances e sutilezas do mesmíssimo mundo que nos permeia e o qual jamais “veremos”, o uso de sentidos coadjuvantes ao principal, para aquela determinada finalidade ou função, funciona da mesma forma que aqueles potinhos de tempero que a sua avó ou mãe tem na janela da cozinha, agregando aquele “toque” especial na coisa.

Meu avô, como alguns de meus cinco leitores sabem, era pintor paisagista, então ele tinha seus inúmeros vários muitos pincéis para tudo: o pincel do passarinho na árvore, do passarinho voando, da nuvem clara, da nuvem escura, do rio, da pedra, da folha verde, da folha amarela e por aí vai. Olhando de perto talvez vocês não encontrassem a menor diferença, mas a sensação tátil de cada um era diferente e a mágica acontecia ali.

Quando, por motivos de preguiça, saio com uma câmera digital para fotografar, a primeira coisa que me incomoda é o quão amortecidas elas são. Em tudo! Quase não fazem barulho, não se sente o bater do espelho (para as que ainda têm espelho!), não se controla absolutamente nada a não ser que realmente se queira e, convenhamos, quase ninguém quer. O fotógrafo fica restrito a olhar e a bater. Ponto.

“Ah, mas isso seria uma boa, pois o fotógrafo estaria livre para bater mais rapidamente e se deter melhor no assunto a ser fotografado!”, é o que diria o senso comum. Em tese isso pode ser verdade tanto quanto contaminação de rebanho. Mas na prá(k)tica, sinceramente, acho uma tremenda furada.

O cérebro (ainda) é um órgão de integração sensorial e motricidade. Traduzindo, ele recebe as sensações dos órgãos dos sentidos (visão, tato, audição, pressão, movimentação espacial, paladar…) e, os integrando, formará uma noção do todo. Decidirá, na forma de ação, inação ou reação, o que fazer. E isso mais rápido que os 1/1000seg de sua câmera. Legal, né?

Dessa forma, quanto menos informação o cérebro receber, seja ela visual, tátil, proprioceptiva ou de mobilidade espacial (não o espaço da Terra plana deles, mas o de nossa dimensão, mesmo), menor será a integração, a unificação dessas informações sensoriais e, consecutivamente, a resposta a estas informações recebidas será menor ou deficitária.

Pentax! Tomaram um susto? O artigo é sobre isso! Bom, vamos lá. Dessa forma a diferença mais gritante entre a fotografia digital e a analógica é o quanto de informação sensorial esta última fornece. E considero isso a razão principal das fotografias analógicas, em geral, serem mais bem elaboradas em relação às digitais. Pelo menos no que se refere a fotógrafos de um determinado nível, subentendido.

Quem já teve oportunidade de ver o Homúnculo Sensório-Motor que, resumidamente, é a imagem que o cérebro tem do próprio corpo, percebeu que temos mãos, boca, nariz, ouvidos, pés e olhos gigantescos em relação a um corpo diminuto. Ou seja, esses órgãos são, basicamente, como exploramos o mundo.

Quando pego uma câmera analógica consigo sentir o cheiro do óleo de seu mecanismo e do curvim de seu exterior tanto quanto do filme que coloco dentro dela. Minhas mão tateiam e brincam com controles, botões e rodinhas o tempo todo. Quando aperto o botão, sinto o recuo do espelho e sei exatamente o que aconteceu ali dentro, a velocidade, o tremor agradável nas pontas dos dedos… Olho pelo visor e, girando o anel de focagem da lente, vejo o mundo tomando forma diante de meus olhos, sendo focado por prismas bipartidos e eternizado em película á prova de falta de luz ou vírus. É magico senhoras(es)!

E assim é com as Pentax. As antigas, bem entendido. As Pentax (a câmera), as Spotmatic de todos os tipos e as K1000. Todas elas são basicamente a mesma câmera, mas todas elas são completamente diferentes no ser e no estar, no pegar e no bater. Como os pincéis que meu avô usava. Cada uma faz o seu truque. Têm suas sutilezas que somente a sua sensibilidade poderá definir. E todas são mágicas. Acreditem.

Existem várias, várias máquinas que, resumidamente, são absolutamente iguais. Mas as Pentax têm alma. Quando você pega uma Spotmatic na mão sente que está em um nível completamente diferente de câmera. São as melhores? De forma alguma. As mais fáceis de bater? Nem a pau. As mais ergonômicas? Nem um pouco, e o uso de microprisma, nas iniciais, em vez de um prisma bipartido, piora muito a coisa. Mas a sensação tátil que elas me passam, muito poucas câmeras conseguem passar. E nisso, meus queridos cinco leitorezinhos, as Pentax antigas são imbatíveis.

É como aquela pitadinha daquele tempero vermelho que sua avó botava na comida, mexia a panela, provava e fazia “hmm hmm”. Ou o pincel “mágico”. Entenderam o ponto? Pois é.

Então, amiguinhos, para mim arte não se define em ser melhor ou pior e, sim, em sensibilizar ou não as pessoas pelo motivo que for, seja fazendo uma comida deliciosa, pintando um belíssimo quadro ou fotografando uma linda cena. Arte é arte.

Todos pensamos diferentemente uns dos outros. Diversidade. Essa é a beleza. Dessa forma, acredito, firmemente, que, quanto mais informações sensoriais o equipamento te transmitir, melhor será o resultado final, pois se terá mais elementos, sensações, impressões para integrar a nível subjetivo e, considerando arte como algo estritamente subjetivo, penso que esse é um grande manancial criativo em um mundo no qual a criatividade anda meio em baixa, provavelmente por que nossos sentidos estejam sendo obliterados pela tecnologia. Sejam criativos! Explorem o mundo com os seus sentidos e não olhando para uma tela. E usem uma Pentax para isso.

Aguardo vocês no meu canal Analógico Lógico. Um forte abraço e boas fotos!

VITOR OLIVEIRA

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Author

Vitor Oliveira é dono de uma visão poética sobre a vida e o mundo que o permeia. Fotógrafo experiente e autodidata, fotografa desde os 10 anos de idade influenciado por seu avô, o pintor paisagista Altamiro Oliveira, de quem, além da pintura clássica, o influenciou no desenho e na literatura, arte que exerce escrevendo romances ambientados no submundo de uma São Sebastião do Rio de Janeiro do final do Séc XIX e começo do Séc XX que não mais existe. Pesquisador de métodos, técnicas e equipamentos fotográficos e colecionador, Vitor Oliveira fotografa principalmente em película, por considerar que, após quase 200 anos de evolução desta forma de arte, esta ainda oferece os melhores resultados, ao depurar a técnica artística, quase que alquimicamente. Sendo um dos únicos fotógrafos de nível mundial a participar, usando filme, no maior concurso fotográfico do mundo, o Sony World Photography Awards, da World Photography Organization, Vitor Oliveira inaugura seu Canal Analógico Lógico!, no YouTube, através do qual procura compartilhar um pouco de uma aprendizagem que nunca finda. Hare Hare! Canal Analógico Lógico! : https://youtube.com/channel/UCom1NVVBUDI2AMxfk3q8CpA Video de abertura: https://youtu.be/N_cuYPi6b4M

One comment

  • Me chamo Roberto, gostei muito do seu site e conteúdo,
    e até salvei aqui nos Favoritos para ler com calma outras
    postagens depois.

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