No vídeo dessa semana no canal Analógico Lógico, no YouTube, eu falo sobre uma das lendas supremas do mundo fotográfico de todos os tempos: a mítica, lendária e soberba lente Tomioka Auto Yashinon 55mm f/1.2. Mas aí vocês vão me perguntar: mas, Sr. Analógico, realmente precisa disso tudo para definir uma lente? No que respondo: sim, precisa.
No mágico universo da fotografia nada dura por muito tempo. Entram e saem modas e tendências o tempo todo. O que ontem foi batuta, hoje pode ser legal, amanhã passa a ser maneiro, semana que vem já será irado, daqui a dez dias vai ser da hora, mês que vem irá lacrar e por aí vai. Toda e cada época tem suas características. As melhores perseveram, as piores se tornam motivos para você não querer mostrar as suas fotos com mullet e pochete ou alguma maquiagem que faça as pessoas pensar que você trabalhava em boates de striptease do leste europeu, nos anos 70. Contra fatos (ou fotos) não há argumentos.
Dessas marcas que surgem todo santo dia, de vez em quando brota uma lenda: Rolls Royce, Chanel, Piaget, Audemars Piguet… Talvez a maioria nem sequer conheça de tão raras e exclusivas que determinadas coisas possam ser e achem que o topo do Everest é algo diferente disso.
Todas essas diferentes coisas tais como carros, perfumes, relógios… têm uma coisa em comum: a qualidade extrema. Quase que obsessiva. Aquele “je ne sais quoi” que as põe, não a milhas de distância das outras mas, sim, em outro patamar. Uma dessas coisas são as lentes produzidas por Tomioka, cultuadas no Japão por suas qualidades intrínsecas, como construção soberba, vidro magnífico, projeto fabuloso e, claro, resultados incríveis.
Evidentemente não são lentes para todos. Tirando o fato de serem extremamente raras e caras, definitivamente não são todas as pessoas que compreendem ou dão valor a uma obra de arte quando estão em frente a uma, da mesma forma que não é todo mundo que não troca um vinho doce de mercado por um vinho raro de 100 anos, como também não é todo mundo que consegue perceber a diferença entre um violino comprado na Rua da Carioca e um Stradivarius. Sem querer ser piegas, mas já sendo, gosto e cultura caminham de mãos dadas. Não há se compreender um sem o outro. Enfim.
Desta forma, quando em 1970 a Tomioka decidiu que faria a mais rápida lente m42 já produzida, isso soou como piada. Especialmente porque Zeiss e Pentax se digladiavam há uma década para ver quem levava o trono de “melhor lente do mundo”. Se a Planar 50/1.4 da Zeiss ou a Takumar 50/1.4 de oito elementos da Asahi Pentax, carinhosamente apelidada de “Planar Killer”.
Nenhuma das duas. A melhor lente do mundo era a Tomioka Auto Yashinon 55mm f/1.2 que chegou pulverizando a concorrência com algo que parecia impossível, impensável e completa loucura para a época: construir uma lente f/1.2 para um mount obsoleto e que, em tese, jamais conseguiria permitir uma abertura tão ampla quanto aquela.
Para isso a Tomioka foi a primeira empresa a empregar o uso dos computadores na realização de tamanha obra de engenharia e conseguiu fazer com que um elefante passasse pelo buraco de uma agulha, criando uma lente com abertura máxima de f/1.2, mediante um recorte no elemento traseiro que a permitia ser rosqueada sem se auto destruir e à câmera. Um feito só alcançado com raríssimas lentes para rangefinders que, não possuindo caixa de espelho, conseguiam projetar lentes menos complexas e mais rápidas que suas concorrentes SLR, já que conseguiam focar mais perto do filme.
Tendo a Yashica lançado em 1968 a câmera mais avançada de seu tempo, a Yashica TL Electro X, a primeira câmera do mundo a dispor de obturador controlado eletronicamente, esta teve seu projeto completamente revisto e aprimorado para surgir em 1971 como a Yashica TL Electro X ITS, de Integrated Technology Systen que, além de algumas melhorias, chegou trazendo como uma de suas lentes standard a Tomioka Auto Yashinon 55mm f/1.2, observando-se que, em 1968 a Tomioka havia sido absorvida pela Yashica a qual, desde a sua fundação, em 1949, utilizava lentes Tomioka em todas as suas câmeras.
Dessa forma, a Tomioka Auto Yashinon 55mm f/1.2 criou seu próprio nicho mercadológico, acima das demais, que continuavam a lutar entre si no campo de batalha das lentes “convencionais”.
Talvez padecendo dos mesmos problemas que levaram as Takumar 50/1.4 de oito elementos a sucumbirem às de sete elementos, tais como custo de produção, standards altíssimos e a catastrófica protusão do elemento traseiro que poderia colidir com o espelho de câmeras m42 de outras marcas, a lente foi substituída, dois anos mais tarde, pelo modelo DS-M, dos mesmos 55mm f/1.2 que, entretanto, tinha fórmula óptica diferente e não possuía a chave seletora para os modos auto e manual.
Somente mais tarde, com a chegada de novos e modernos mounts próprios e menos limitantes das outras marcas é que começam a surgir lentes para SLRs nas aberturas de f/1.2 e até maiores mas, nesse ponto, a lenda de Tomioka já estava construída e tendo se tornado uma lente extremamente rara e de qualidade altíssima, capaz de gerar imagens sonhadoras com uma assinatura absolutamente própria, as Tomioka Auto Yashinon 55/1.2, assim como os Rolls Royce, Chanel, Piaget, Audemars Piguet e Stradivarius da vida continuam encantando aqueles pouquíssimos felizardos capazes de entendê-la.
Confira o vídeo (não deixe de curtir, comentar e se inscrever no canal):
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