Este texto dedico à minha mulher.
Esta semana nos casamos. Eu que não pensei me haver de novo esta possibilidade, consegui contrair o bendito matrimônio. É meu segundo casamento. O dela também. Neste caminho de derrotas anteriores, de perdas e dores, encontramo-nos. Aqui estamos, casados.
É engraçado o amor. Eu tive acesso a quase todos os tipos, se é que pode haver tipos de amor. O amor de identificação (quando se encontra no primeiro amor), o amor genuíno (este que se vive pelos filhos), o amor de repente (aquele que quando menos vê você está amando – algo que vejo principalmente entre amigos, você passa a depender daquela pessoa), o amor familiar (este que se vive com irmãos, irmãs, pais, mães, avôs, avós, primos, primas e quem mais for) e este que é meu amor agora, o amor consciente (maduro, espiritual, de sinestesia e sinergia). Digo, é algo forte, intenso, constante. Tem nele aquela sensação de preenchimento, de completude. Inclusive afirmo, ele só é possível depois de toda labuta de amores. Amar dói. Consome. É um DaeMon particular, peculiar. Gostoso. Válido.
Aconselho: ame! E se deixe casar.
Mas viva esse casamento de encontro, em que você se vê dependente da pessoa, você quer viver para ela, com ela, nela. Julgo que estou vivendo isso. Claro, amor é essencialmente ingênuo. Algo que é maravilhoso. Ele blinda primeiros julgamentos negativos que podem minar um relacionamento generoso, confiável, límpido, respeitoso, eterno.
Desde que nos encontramos e afirmamos essa vontade ao matrimônio, tenho Mário de Andrade comigo. Principalmente o seu Amar: verbo intransitivo.
Em um primeiro instante, pode parecer um contrassenso. Minha mulher e eu não nos assemelhamos àqueles personagens. No entanto, não consigo me desvencilhar da obra, de seu título, do encontro. Parece que ela veio me ensinar o que é esse amor que comunga ao matrimônio. Chegou-me em minha vida no ambiente de trabalho.
Somos professores.
Ela, transferida de outra escola, ocupou o espaço que lhe cabia. Eu todo.
Ali, um desanuviado perdido, sem esperanças ao encontro, fui encontrado. Como se clamasse para uma música, nossa música, tão peculiar e primeva, dançamos.
Na obra de Andrade, a professora foi primeiro contratada para ensinar alemão. Porém, esta era uma camuflagem, uma máscara, para o seu real intento: ensinar aquele jovem Carlos as artes do amor. Em miúdos, ela tinha o dever de transformar-lhe em homem.
Por ser eu um eterno garoto, julgo hoje que esse objetivo também o tinha minha esposa. Hoje, um homem completo, completo-me nela. A literatura dá essas voltas, vez ou outra encontramo-nos em histórias que não são basicamente as nossas, mas ali estamos. Vejo-a como a minha pura Fräulen, ou serei eu a Fräulen dela? Não o responderei, nunca conversamos sobre tal. Ainda dançamos sobre a luz do sorriso e do encontro.
Delicioso, nosso, sinérgico.