
Então é Natal…
Por Jorge Ventura
Sei que, nesse período pré-natalino, nós, adultos, ficamos mais sensíveis e sentimentais e, de modo altruísta, desejosos que jamais falte comida e abrigo àqueles que vivem em situação de vulnerabilidade social. Entretanto, quando se é criança, não se tem maturidade suficiente para essa conscientização, e o Natal para muitos “baixinhos” é um mundo alegre e colorido, repleto de sininhos tocando, de luzinhas piscando e com um Papai Noel desfilando pelas ruas da cidade sobre um caminhão de som da Coca-Cola – todo adesivado, decorado e iluminado com motivos natalinos.
Conheço muitas pessoas que não gostam de comemorar essa data porque associam o Natal a um momento triste, de perdas na família etc e tal, ou porque é um período em que o comércio explora a boa-fé do povo para tornar tudo mais caro e transformar as festas de fim de ano em pavorosas dívidas no cartão de crédito.
Apesar de eu não contar mais, infelizmente, com a presença do meu saudoso pai e da minha querida madrinha, ao contrário da maioria, adoro, desde criança, esse clima de Natal. Participo até hoje da montagem da Árvore de Natal, gosto de comprar novos enfeites e novas lâmpadas coloridas – cada ano, elas queimam, como sabemos –, e sinto um gostinho especial quando ajudo a preparar as iguarias que compõem a ceia antes da meia-noite.
Trago, portanto, lindas recordações da minha infância. Minha casa, em Jacarepaguá, ficava cheia, e a noite de Natal era a grande oportunidade de rever os primos, as primas e os tios que moravam em bairros ou estados distantes. O curioso é que eu nunca acreditei na figura do bom velhinho chamado Papai Noel, mas nem por isso deixava de curtir o Natal. Porque era sinônimo de festa em família. Um tio que morava em São Paulo sempre chegava com um projetor alugado para exibir um longa-metragem na manhã do dia 25 de dezembro. Eu me lembro de ter assistido a Abbott e Costello, a Django, a Tom e Jerry, e a outros sucessos do cinema.
Como a casa tinha um quintal grande, brincávamos de pique-esconde, de chicotinho queimado, de mocinho e bandido, e combinávamos quem ficaria acordado até mais tarde para ver a chegada do Papai Noel – mesmo que eu soubesse que tudo não passava de uma mentirinha boa. Por volta da meia-noite, era chegado o auge da festa. Meus pais e tios despistavam a gente e, minutos depois, nos chamavam para ver a Árvore coberta de presentes. Aquele ritual natalino era mágico! Confesso que ainda preservo a prática do oferecimento de presentes ou de trocar “lembrancinhas” com parentes e amigos que tanto estimo.
Ah, e outra curiosidade. Presente para mim tinha que ser brinquedo! Nada de peças de roupa… Odiava quando ganhava camisetas, blusinhas, shortinhos ou sapatinhos. Eu fazia uma cara feia para quem me oferecesse algum artigo que não fosse um brinquedo por mais simples ou barato que fosse. Meu pai morria de vergonha com esse meu mau comportamento. Coisas de criança pirracenta…
Admito, porém, que, atualmente, as festas de Natal não têm mais o glamour ou a magia de antigamente. Os tempos são outros, é a dura realidade. As campanhas publicitárias de Natal que encantavam adultos, jovens e crianças, dos anos 1960 até os anos 1990, parecem ter perdido a força da criatividade, e a essência do espírito natalino foi se diluindo nas poucas taças de vinho, em meio aos restos de rabanadas, passas, nozes e avelãs.
Naquela época, a televisão brasileira exibia mensagens de esperança, amor, paz, fraternidade e prosperidade por intermédio dos seus anunciantes. Lojas de departamento, instituições financeiras, empresas de viação aérea, emissoras de TV e até a Turma da Mônica, personagens de Maurício de Sousa, deixavam o seu recado. Agora, quando ouço Então é natal, e o que você fez? – verso da letra da indefectível música “Então é Natal”, versão brasileira de “Happy Xmas (War is Over)”, de Claudio Rabello para a voz da cantora Simone, cujo original foi composto em 1971 por John Lennon e Yoko Ono, — a memória afetiva me leva para os jingles natalinos que fizeram história. Particularmente, nesse caso, prefiro a canção original de Lennon, que sempre me emociona, levando-me, às vezes, às lágrimas. Sabe-se que foi adotada como hino para o dia 25 de dezembro em todo o mundo como canção de protesto pela paz, em razão da Guerra do Vietnã.
Destaco alguns trechos de letras de jingles inesquecíveis que, de tão bons, se tornaram músicas tocadas em rádios fora do período pré-natalino.
“Este ano/ Quero paz no meu coração/ Quem quiser ter um amigo/ Que me dê a mão (…) / Marcas do que se foi/ Sonhos que vamos ter/ Como todo dia nasce / Novo em cada amanhecer…” ( gravação de Os Incríveis, em 1976, e de The Fevers em 1977).
“Quero ver você não chorar/ Não olhar pra trás /Nem se arrepender do que faz…/ (…) Que o Natal existe/ Que ninguém é triste/ Que no mundo há sempre amor…(..)” (mensagem do extinto Banco Nacional).
“Hoje é um novo dia/ De um novo tempo que começou…/ (…) Todos os nossos sonhos serão verdade, o futuro já começou/ Hoje a festa é sua/ Hoje a festa é nossa/ É de quem quiser, de quem vier…” (mensagem de fim de ano da TV Globo).
Ah, tempos bons! Quem se lembra?
Em tempo: a coluna AC Retrô entrará em recesso, e eu, Jorge Ventura, aproveito para desejar a todos os meus leitores e aos seguidores do canal ArteCult um Feliz Natal e um próspero Ano Novo, repleto de realizações!
Em março de 2026, voltaremos!

Que tal voltar um pouco mais nesse túnel do tempo? Confira os vídeos abaixo de algumas dessas chamadas de Natal !
https://www.youtube.com/watch?v=ZhSkR8GHJn4
https://youtu.be/ZhSkR8GHJn4?si=DhwbGKYK-P0bfzK0
Ah, tempos bons! Quem se lembra?
* Todas as imagens (fotos e vídeos) respeitam os seus respectivos direitos autorais e são utilizados aqui apenas para efeito de pesquisa e resenha jornalística.

SOBRE JORGE VENTURA

Jorge Ventura é escritor, roteirista, editor, ator, jornalista e publicitário. Tem 13 livros publicados e participa de dezenas de coletâneas nacionais e estrangeiras. É presidente da APPERJ (Associação Profissional de Poetas no Estado do Rio de Janeiro), titular do Pen Clube do Brasil, membro da UBE – RJ (União Brasileira de Escritores) e um dos integrantes do grupo Poesia Simplesmente. Recebeu diversos prêmios, nacionais e internacionais, como autor e intérprete. Tem poemas vertidos para os idiomas inglês, francês, espanhol, italiano e grego. É também sócio-proprietário da Ventura Editora, CQI Editora e da Editora Iniciatta. Jorge é colunista do ArteCult, responsável pelo AC RETRÔ.
E, agora vocês já sabem… Uma das maiores referências no Brasil sobre o universo Batman.
Instagram
@jorgeventura4758

SOBRE O AC RETRÔ
Prepare-se para embarcar em uma viagem no tempo! O AC RETRÔ é um espaço dedicado à nostalgia, à memorabilia, ao colecionismo, relembrando também aquelas propagandas icônicas da TV, telenovelas, anúncios inesquecíveis das revistas e jornais, programas que marcaram época e filmes que nos transportam diretamente para tempos dourados! ️
Aqui, cada post será um convite para reviver memórias, despertar emoções e compartilhar as lembranças que moldaram gerações.
Se você sente saudade de jingles que não saíam da cabeça, comerciais que viraram clássicos, seriados que marcaram a infância ou até mesmo daquele filme que você alugava na videolocadora todo fim de semana, então o AC RETRÔ será o seu novo ponto de encontro. Afinal, recordar é mais do que viver: é reconectar-se com o que nos fez sorrir, sonhar e se emocionar. Fique ligado, porque essa viagem ao passado JÁ COMEÇOU! ✨













Ventura como sempre nos brinda com um texto tocante, de MTA qualidade. É uma coluna que nos dá prazer de ler!
Ah que gostoso relembrar os jingles!!!
O do Banco Nacional era meu preferido!