AC RETRÔ: Descobrindo fantasmas, desvendando mistérios… Os adoráveis detetives de Hanna-Barbera

 

Descobrindo fantasmas, desvendando mistérios… Os adoráveis detetives de Hanna-Barbera

Por Jorge Ventura

 

Dedico, pela terceira vez consecutiva, meu artigo ao universo animado de Hanna-Barbera. Tratarei aqui da “Era Detetivesca”, um período que começou no final da década de 1960 e se estendeu à década de 1970, em meio a tantas outras produções fantásticas criadas pela equipe de desenhistas e roteiristas dos estúdios HB.

O início da “Era Detetivesca” reunia aventuras de suspense e mistério, com requintes de filmes de horror, cenários e personagens sombrios e macabros, como ilhas e parques abandonados, casarões e castelos mal-assombrados, monstros de pântanos, navios fantasmas, piratas, bruxas, espíritos malignos, vampiros, lobisomens, zumbis, múmias, esqueletos, escafandristas sinistros, seres luminosos vindos do espaço e toda sorte de tipos que causavam medo e pânico, mas que, ao mesmo tempo, despertavam curiosidade e interesse do grupo de jovens detetives que protagonizavam as histórias.

E, para falar desses jovens detetives, não podemos deixar de enaltecer o desenho que até hoje faz muito sucesso na TV: Scooby-Doo. Quando estreou, em 1969, o título do desenho era Scooby-Doo, cadê você? (no original, em inglês, era o bordão do personagem Salsicha, que assim gritava ao procurar o seu animal de estimação, e fazia mais sentido por se tratar de uma rima na letra do tema musical de abertura: “Scooby-Doo, where are you?”).

Scooby-Doo. Foto: Hanna-Barbera

O grupo era formado por quatro jovens e um cachorro da raça Dogue Alemão: Fred (bonitão e corajoso, apaixonado por Daphne), Daphne (bela e esperta, embora fosse uma presa fácil dos vilões), Velma (inteligente e estrategista, muitas vezes encontrava as soluções lógicas para desvendar o mistério ou o caso “sobrenatural”), Salsicha (covarde e medroso, meio desengonçado e sempre faminto, grande parceiro de Scooby) e Scooby-Doo (o protagonista mais medroso e covarde, porém bastante carismático. De tão atrapalhado, acabava, mesmo sem intenção, por salvar os amigos e ajudar a pegar os bandidos mascarados de monstros ou fantasmas). Na maioria dos episódios, eles viajavam a bordo de uma van chamada “Máquina do Mistério”.
Scooby-Doo, o desenho, é considerado, atualmente, a segunda produção norte-americana com o maior número de temporadas em toda a história de animação. São, ao todo, 32 temporadas e mais de 550 episódios entre as diversas derivações do programa, o surgimento de parentes do Scooby-Doo e novas aventuras criadas ao longo do tempo. Esse clássico também ganhou novas mídias, como quadrinhos, filmes (live-action + CDI), séries de animação para Home-Video, musicais de teatro, jogos eletrônicos, entre outras. Criado por Joe Ruby e Ken Spears para os estúdios HB, a trama era sempre a mesma, porém muito bem-sucedida para o deleite dos fãs. Após uma perseguição, tendo como fundo uma sequência musical, por meio de algum plano ou armadilha, os vilões eram capturados e desmascarados. Os vilões, geralmente, eram rostos de algum personagem que havia aparecido no início da história. Quando a polícia chegava para prendê-los, eles sempre diziam algo como: Meu plano teria dado certo se não fossem esses intrometidos!
Na verdade, as aventuras de Scooby-Doo estavam mais para casos de investigação do que casos de assombração. Os “fantasmas” eram, na verdade, ladrões ou golpistas disfarçados que, por ganância ou cobiça, desejavam roubar algum dinheiro ou tomar alguma propriedade para exploração de riquezas naturais. Eu me lembro ter visto, há algum tempo, uma frase de reflexão circulando na Internet (meme) em que se questionava a conduta humana mencionando a mensagem final deixada em cada episódio de Scooby-Doo.

Era mais ou menos assim: No final, o monstro era o ser humano. Vale ressaltar outra curiosidade. O brasileiro Orlando Drummond foi o dublador oficial do cão Scooby-Doo por mais de 35 anos, feito que levou seu nome a entrar no Guinness Book por ter sido o dublador que, por mais tempo, interpretou um único personagem. O ator faleceu em 2021, mas sua voz ficou eternizada, assim como a de Mário Monjardim, a voz do Salsicha. Na vida real, os dois artistas eram grandes amigos e parceiros de trabalho de longa data. Por ironia do destino, ambos faleceram com apenas três dias de diferença em julho de 2021. No elenco de 1969, ainda constam Carlos Marques/Luís Manuel como Fred, minha querida professora de dublagem, Juraciara Diácovo, como Daphne, e Nair Amorim como Velma.

Na “Era Detetivesca”, a fórmula dos roteiros acabou se repetindo em outros desenhos do gênero, mas sem o mesmo êxito de Scooby-Doo. A composição da turma de personagens também variava. Às vezes, era um trio, um quarteto ou um quinteto, sempre acompanhado de animais de estimação, interativos, inteligentes; alguns, medrosos e engraçados. Em 1971, por exemplo, o desenho Fantasminha Legal apresentava três jovens: Hugo, alto e forte, que gostava de Alice e implicava com Silvio por ciúmes da jovem loira. Ele se vangloriava por ostentar músculos. Já Silvio, o oposto de Hugo, era alto e magro e tentava conquistar a atenção de Alice ao usar sua inteligência na solução dos casos misteriosos. Para provocar Hugo, Silvio defendia a força do seu “cérebro”, enquanto Alice, bela e perspicaz, buscava manter a paz entre os dois e enfrentar os apuros pelos quais passava. O cachorro Elmo era medroso e vivia de implicância com o gato-fantasma Boo. A origem do Fantasminha Legal é contada logo na abertura do desenho. Enquanto tentavam fugir de uma tempestade, os jovens Hugo, Silvio e Alice, com o seu cão Elmo, a bordo de um buggy (carro esportivo da época), entraram em uma casa velha e viram um relógio antigo (do tipo carrilhão).

O Fantasminha Legal. Foto: Hanna-Barbera

Quando acertaram o horário do relógio para meia-noite, libertaram dois fantasmas; um, com traje de revolucionário, chamado Jonathan Wellington “Mudsy” Muddlemore, um espírito covarde e medroso, e seu gato Boo. Os dois confessaram estar presos desde a Guerra Revolucionária nos EUA contra a Inglaterra e não puderam sair, daí acabaram morrendo lá dentro. Libertados pelos novos amigos, Fantasminha Legal e Boo passaram a acompanhá-los em muitas aventuras e em muitos mistérios, sempre dando uma ajuda “fantasmagórica” com o intuito de assustar os vilões.

Um ano antes de os estúdios Hanna-Barbera produzirem Fantasminha Legal, outro desenho marcou uma geração de fãs ávidos por música, um pouco de humor e mistério: Josie e as Gatinhas. Lançado em 1970 e com um jingle de abertura que animava jovens e crianças, criado por Hoyt Curtin, este desenho, diferentemente do cenário sombrio de filmes de horror, como o de Scooby-Doo, apresentava cenas mais musicais, alegres e coloridas. O formato do roteiro era o mesmo: um grupo de jovens saía em busca de solucionar algum mistério, quase sempre na figura de um personagem ladrão ou ambicioso por algum dinheiro. Na trama, a banda composta por três meninas jovens (a ruiva Josie, vocalista, compositora e guitarrista; a loira risonha e distraída Melody, baterista; e a negra Valeria, inteligente e charmosa, pandeirista da banda), os dois amigos, Alan – bonitão e apaixonado por Josie – cujo traço era igualzinho ao do Fred, do Scooby-Doo, com exceção do cabelo loiro mais cheio e meio encaracolado, e do lenço no pescoço, e Alexandre (o covarde e medroso empresário da banda, irmão da invejosa e mui amiga Alexandra, que morria de ciúmes de Josie pelo simples fato de ela ser famosa e desejada por Alan. Por pura inveja, Alexandra tentava prejudicá-la em todos os episódios, com a finalidade de ficar próxima a Alan. Havia também a presença de Sebastian, um gato cínico e sacana, que, muitas vezes, debochava de Alexandra, sua dona.

Josie e as Gatinhas. Foto: Hanna-Barbera

No segundo período da “Era Detetivesca”, ao longo dos anos 1970, novos desenhos foram surgindo e, no Brasil, exibidos no pacote de enlatados comprado pela TV Globo para a sua programação infantil, o Globo Cor Especial. Na esteira das produções HB, vieram novos desenhos, como Goober e os Caçadores de Fantasmas, Charlie Chan, Butch Cassidy e Os Sundance Kids, Devlin, o motoqueiro, Speed Buggy e Grande Polegar, detetive particular.

O desenho Goober retomou o clima assombroso de Scooby-Doo, entretanto, ao contrário de pessoas disfarçadas, na trama, as aventuras sobrenaturais aconteciam de verdade, com monstros e fantasmas reais. Seguindo a mesma fórmula do gênero detetivesco, o desenho reunia um grupo de jovens repórteres, entre eles, o fotógrafo Gilly, que investigava casos paranormais com o auxílio do medroso cão Goober, que se tornava invisível toda vez que se assustava.

Goober. Foto: Hanna-Barbera

A dupla Hanna-Barbera sempre gostou de fazer adaptações ou paródias de personagens clássicos da literatura universal. Dessa vez, o famoso detetive chinês Charlie Chan e seus dez filhos ganharam uma animação bem bacana com direito a clipes musicais. Na galeria de filhos, havia crianças e adolescentes, e alguns faziam parte de uma banda. Os filhos eram Henry, Stanley (o mestre dos disfarces, o mais gaiato de todos), Suzie, Alan, Anne, Tom, Flip, Nancy, Mimi e Scooter. Chu Chu era o nome do cachorrinho. Eles atrapalhavam mais do ajudavam nas investigações, e os casos eram definitivamente resolvidos ao final de cada episódio, com inteligência e astúcia, pelo competente Charlie Chan.

Charlie Chan. Foto: Hanna-Barbera

Butch Cassidy e Os Sundance Kids tinha um roteiro mais dirigido ao público teen. O roteiro de mais essa produção animada de Hanna-Barbera envolvia música, ação e mistério. O título fazia referência ao sucesso cinematográfico dos anos 1970, porém o enredo do desenho em nada tinha a ver com a história dos personagens fora da lei. Ao contrário do filme de faroeste, Butch Cassidy e Os Sundance Kids, o desenho contava as aventuras de um grupo de rock que também atuava como um grupo de agentes secretos no combate ao crime com a ajuda de supercomputador chamado Senhor Sócrates. As belíssimas Stephanie (a morena do contrabaixo) e Merilee (a loira da pandeirola) cantavam, tocavam e dançavam com todo o charme, enquanto o cantor bonitão Butch Cassidy, na guitarra, e o simpático Wally, na bateria, completavam o elenco. Para variar, eles também tinham um cachorro, Elvis, parceiro de Wally, que causava alergia ao Senhor Sócrates. Quando o animal se aproximava dele, estranhamente, o supercomputador “espirrava alto e forte”.

Butch Cassidy. Foto: Hanna Barbera

Speed Buggy também fazia parte dessa “Era Detetivesca”. O desenho narrava as aventuras de uma turma de jovens, ao lado seu buggy encantado que falava e agia como um ser humano. Entre corridas de carro e casos de mistério, a turma composta por Debbie, Tinker – o piloto e mecânico parceiro de Speed Buggy, cujo traço era muito parecido com o personagem Salsicha, de Scooby-Doo, com exceção do tipo de cabelo e dos óculos estilo Fórmula 1 – e Mark, o galã do trio, assumia a função de grandes detetives.

Speed Buggy. Foto: Hanna-Barbera

Do automóvel à motocicleta, os estúdios Hanna-Barbera se inspiraram no famoso dublê e motociclista acrobático norte-americano Evel Knievel, outro nome que entrou para o Livro Guinness de Recordes Mundiais, como o homem vivo com mais ossos quebrados (ao todo, 433 fraturas). O desenho era Devlin, o motoqueiro. Ernie Devlin trabalhava em um circo itinerante e, com os seus irmãos Tod e Sandy, se deparara com crimes, situações difíceis e perigosas. Interessante é que, no final de cada episódio, havia sempre uma lição sobre ética e moral para o público jovem.

Devlin, O Motoqueiro. Foto: Hanna-Barbera

O Grande Polegar, detetive particular, era a história de um detetive miniatura com uma polegada de estatura. Sempre muito confuso e atrapalhado, ele quase não conseguia resolver nenhum caso por não fazer uma dedução correta sobre os crimes investigados. A seu favor, em razão do tamanho, apenas o fato de poder se infiltrar com facilidade entre os criminosos sem ser percebido. O Grande Polegar atuava em companhia da sua bela e inteligente sobrinha Laurie, praticamente a verdadeira detetive a desvendar as investigações com lucidez; do amigo Gator, grande parceiro na estatura e no talento, era um especialista em disfarces e quem salvava o protagonista de muitas enrascadas; do Coração Valente, o cão de raça São Bernardo, tímido e medroso; e E.J. Finkerton, o dono da agência de detetives para qual o Grande Polegar e sua turma trabalhavam.

O Grande Polegar, Detetive Particular. Foto: Hanna-Barbera

Eu me lembro também do Rabugento, o cão detetive, um cachorro detetive com o traço idêntico ao do Muttley de A corrida maluca (outro clássico HB), as únicas diferenças é que a pele deste personagem tinha um tom azulado, e ele se vestia de detetive com o tradicional sobretudo. Rabugento foi inspirado no detetive Columbo – uma série policial de TV de bastante sucesso, interpretado por Peter Falk. Rabugento trabalhava para o chefe Sinuca, alto e calvo, que usava óculos e um chapéu, na verdade, um traço parecido com o detetive Kojak, mais um clássico policial da TV, interpretado por Telly Savalas.

Rabugento. Foto: Hanna-Barbera

Dos anos 1970 para os anos 1980, mais desenhos desse gênero foram criados pelos estúdios Hanna-Barbera, mas, certamente, isso será assunto para artigos futuros na coluna AC Retrô.

Que tal voltar um pouco mais nesse túnel do tempo? Confira os vídeos abaixo de algumas dessas animações!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ah, tempos bons! Quem se lembra?

 

*  Todas as imagens (fotos e vídeos) respeitam os seus respectivos direitos autorais e são utilizados aqui apenas para efeito de pesquisa e resenha jornalística.

 

SOBRE JORGE VENTURA

Jorge Ventura é escritor, roteirista, editor, ator, jornalista e publicitário. Tem 13 livros publicados e participa de dezenas de coletâneas nacionais e estrangeiras. É presidente da APPERJ (Associação Profissional de Poetas no Estado do Rio de Janeiro), titular do Pen Clube do Brasil, membro da UBE – RJ (União Brasileira de Escritores) e um dos integrantes do grupo Poesia Simplesmente. Recebeu diversos prêmios, nacionais e internacionais, como autor e intérprete. Tem poemas vertidos para os idiomas inglês, francês, espanhol, italiano e grego. É também sócio-proprietário da Ventura Editora, CQI Editora e da Editora Iniciatta. Jorge é colunista do ArteCult, responsável pelo AC RETRÔ.
E, agora vocês já sabem… Uma das maiores referências no Brasil sobre o universo Batman.

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SOBRE O AC RETRÔ

Prepare-se para embarcar em uma viagem no tempo! O AC RETRÔ é um espaço dedicado à nostalgia, à memorabilia, ao colecionismo, relembrando também aquelas propagandas icônicas da TV, telenovelas, anúncios inesquecíveis das revistas e jornais, programas que marcaram época e filmes que nos transportam diretamente para tempos dourados! ️

Aqui, cada post será um convite para reviver memórias, despertar emoções e compartilhar as lembranças que moldaram gerações.

Se você sente saudade de jingles que não saíam da cabeça, comerciais que viraram clássicos, seriados que marcaram a infância ou até mesmo daquele filme que você alugava na videolocadora todo fim de semana, então o AC RETRÔ será o seu novo ponto de encontro. Afinal, recordar é mais do que viver: é reconectar-se com o que nos fez sorrir, sonhar e se emocionar. Fique ligado, porque essa viagem ao passado JÁ COMEÇOU! ✨

 

Author

Jorge Ventura é escritor, roteirista, editor, ator, jornalista e publicitário. Tem 13 livros publicados e participa de dezenas de coletâneas nacionais e estrangeiras. É presidente da APPERJ (Associação Profissional de Poetas no Estado do Rio de Janeiro), titular do Pen Clube do Brasil, membro da UBE – RJ (União Brasileira de Escritores) e um dos integrantes do grupo Poesia Simplesmente. Recebeu diversos prêmios, nacionais e internacionais, como autor e intérprete. Tem poemas vertidos para os idiomas inglês, francês, espanhol, italiano e grego. É também sócio-proprietário da Ventura Editora, CQI Editora e da Editora Iniciatta. Jorge é colunista do ArteCult, responsável pelo AC RETRÔ. E, agora vocês já sabem... Uma das maiores referências no Brasil sobre o universo Batman. Instagram @jorgeventura4758

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