Diretora, atriz, e professora, Ana Miranda já ganhou o Prêmio de melhor atriz no festival de cinema CPE (Recife – 2011), como melhor atriz coadjuvante. Além de atuações em novelas na Rede Globo (inclusive Ana está no ar em “Malhação: Toda Forma de Amar”) ela agora nos apresenta ‘O Oráculo’, peça que motou e dirigiu pela primeira vez, em 2016, durante a defesa da tese final do curso de licenciatura em teatro. Hoje, este espetáculo estreia no Teatro Vannucci, com os renomados atores Luciano Szafir (Nelson), Lica Oliveira (Helena), Luca Machado (Oráculo) e Rodrigo de Castro (José).
Confira nossa entrevista exclusiva com Ana Miranda:
ArteCult: Ana você é diretora e professora de teatro na “Oficina de Atores em 3 Atos”. Conta um pouco pra gente sobre essa experiência.
Ana Miranda: Sempre tive o sonho de ter uma escola de teatro numa faculdade, que funcione tanto como escola de teatro quanto faculdade. Então, há quatro anos, fundei a oficina que tem ensinando crianças e adolescentes, mas hoje eu estou focada no teatro de adulto. E como sou professora de teatro, que é a minha formação, eu gosto muito de ensinar. Temos muitas facilidades do ensino do teatro, muito diferente do passado. Eu levo muito a sério, cobro muito dos alunos e acho importante eles entenderem a essência, o processo do teatro, do que se preocuparem em serem famosos. Ser famoso é passageiro. O processo do ator é muito mais do que ter só um registro, um DRT. Então, a 3 Atos procura trazer esse diferencial. Para ser ator, é preciso estudar e estar preparado para estar no mercado de trabalho. A minha felicidade é quando vejo que os alunos estão entendendo o processo da Oficina de Atores em 3 Atos
AC: Trabalhar com teatro, principalmente nos dias atuais, é uma situação difícil. Você sente essas dificuldades quando dirige ou quando ensina no teatro?
Ana: Fazer teatro no Brasil é muito complicado porque a gente não tem patrocínio, temos que fazer tudo na raça. Eu não fico esperando, eu coloco a mão na massa e toco o barco, só que é difícil. O ator é quem menos recebe. A gente quer montar um grande espetáculo, quer fazer tudo ficar glamouroso, bonito, mas temos que pensar no todo. Estou passando um pouco por isso com o espetáculo “O Oráculo”, mas não posso recuar, ficar me lamentando e esperando cair do céu. Graças a Deus, quando se fecha uma porta, abre outra. Eu não desisto. A arte me move! Ensinar, hoje em dia, também tem uma certa dificuldade porque a pessoa já quer chegar na escola e sair com registro para já entrar na televisão porque acha que a fama e o sucesso vão mudar a vida dela. E muitas vezes, as cosias não acontecem assim.
AC: Acredito que as expectativas para a estreia no Rio sejam as melhores. Como estão os ensaios, a preparação?
Ana: A preparação já começou há um tempo. Com aulas de voz, corpo, leitura de texto, entendimento e os ensaios estão bem avançados. Estamos nos preparando todos os dias, nos ensaios, em casa…
AC: O que o público pode esperar desse espetáculo?
Ana: O público pode esperar um espetáculo divertido, onde ele dará boas risadas. Estamos passando por um momento tão difícil, que estamos precisando relaxar, nos divertir um pouco. O texto do Arthur de Azevedo não é besteirol. Vai ser um espetáculo de época com história bem contada. Espero que todos possam ir lá e conferir o que estou falando.
AC: Você participou da escolha do elenco? Como foi esse processo?
Ana: Sim, participei dos dois processos. Fiz alguns convites e a leitura com eles, que é muito importante porque conta muito para ver se vai encaixar o personagem com aquele ator. O primeiro que estava no projeto é o Rodrigo de Castro, que começou comigo quando fizemos para a faculdade, como projeto de defesa da tese, em 2016. Ele já era o José, personagem que continua fazendo e muito bem! A Lica oliveira já fazia novela e eu queria muito o perfil dela para fazer Helena, essa mulher que vocês vão conhecer no teatro. Luca foi o terceiro que escolhi pelo perfil e trabalho dele como ator para dar vida a esse Oráculo. Luciano Szafir foi o último a entrar, mas eu queria muito que ele interpretasse o personagem Nelson. Foi uma escolha boa e bem aceita e cada personagem está muito bem representado.
AC: Além de diretora você é uma ótima atriz, com diversos trabalhos. Como esses dois trabalhos se cruzaram? Você sempre quis ser diretora e atriz?
Ana: Obrigada! Tento sempre fazer o melhor possível. Sou muito exigente comigo mesmo. Todo mundo sempre tem que fazer o melhor possível, independente de qualquer área. Esses três caminhos se cruzaram porque eles começaram praticamente juntos: professora, diretora e atriz. Considero como sendo dons que Deus me deu e vou lapidando cada um. Comecei a escrever já adolescente na escola e em eventos. Era responsável pelos textos das festividades, como dia dos pais, Natal, dia do índio… Então, eu me dividia, escrevendo, atuando e ensinando. Hoje, estou escrevendo menos, mas continuo me dividindo em ensinar e dirigir.
AC: O fato de você atuar, ajuda na hora de dirigir?
Ana: Ajuda muito. Sou exigente como atriz e diretora, mas eu também tenho que me colocar no lugar do ator que está lá. Eu passo dificuldade com atriz quando estou sendo dirigida. Eu costumo dizer que hoje têm poucos diretores que dirigem atores pela dificuldade, pela rapidez da televisão… Hoje, pega o texto, vai lá, sobe e fala o texto. Os atores precisam ser dirigidos, contarem uma boa história, para não ficarem na corda bamba. Eles precisam de direção e quem dá essa direção é quem está coordenando, que é o diretor. Quando estou como atriz, também me ajuda ser diretora porque não fico esperando ser dirigida, principalmente em televisão porque a gente não tem tempo para isso. Então, posso usar esses dois lados sem passar por cima da direção e vice-versa. Quando estou atuando, sou atriz, respeito a direção e tento mostrar alguns caminhos. Muitas vezes o que eu acho, não é o que o diretor acha. Quando estou como diretora, não é o que o ator vai achar. Tenho que levá-lo a entender para ele não fazer só aquilo porque o diretor está pedindo. Tem que sentir o que está sendo pedindo para ele fazer. Eu busco o amadurecimento de que quando estou como diretora, eu também, ou atriz e me colocar no lugar do outro ator.
AC: Sobre “O Oráculo”, você descreveu como “Um texto do século XIX, mas que retrata os comportamentos e hábitos atuais da sociedade”. Essa questão fica visível na peça?
Ana: Eu convido vocês para assistirem à peça, que estreia no dia 7 de agosto, às 21h, no Teatro Vannucci, no Rio de Janeiro. Eu desafio a se interessarem em descobrirem esse texto pouco conhecido desse mestre que é o Arthur de Azevedo. É um texto de época, mas bem atual. Sem querer, o Arthur de Azevedo falou do empoderamento da mulher.
Texto e entrevista: MARI BARCELOS