
Cena de Ainda Estou Aqui
A música pode transformar momentos, conferir profundidade a histórias e eternizar emoções. No cinema, a trilha sonora é um dos elementos mais importantes para criar impacto e conexão com o público. Algumas músicas não somente acompanham as cenas — elas as definem. E, quando bem escolhidas, permanecem em nossa memória muito além do tempo de duração do filme.
Desde os primeiros filmes sonoros, a música tem sido utilizada como uma ferramenta narrativa, ajudando a construir atmosferas, enfatizar emoções e até mesmo se tornar um personagem na história. Basta lembrar de clássicos como Psicose (1960), com seus violinos estridentes que amplificam a tensão, ou Titanic (1997), cuja canção My Heart Will Go On se tornou sinônimo do romance épico entre Jack e Rose. Algumas trilhas sonoras são tão marcantes que transcendem o cinema, tornando-se parte da cultura popular e da memória coletiva.
O filme “Ainda Estou Aqui”, estrelado por Fernanda Torres, atriz vencedora do Golden Globes de ”Melhor Atriz”, é mais um exemplo de como a música pode ser uma ponte entre a ficção e a realidade. Inspirado no livro de Marcelo Rubens Paiva, o longa representou o Brasil no Oscar e ganhou na categoria de Melhor Filme Internacional, fazendo história no prêmio. Ele também concorreu a Melhor Filme e Fernanda Torres foi uma das indicadas a Melhor Atriz. Trazendo uma história sensível carregada de emoção, a trilha sonora se torna um elemento essencial para conduzir o público através das camadas dessa narrativa, funcionando como um fio condutor que liga passado e presente, política e intimidade, memória e resistência.

Selton Mello, Fernanda Torres, Valentina Herszage e elenco. Foto: Divulgação
Um dos destaques da trilha sonora do filme é a voz do saudoso ‘tremendão’ Erasmo Carlos (1941 – 2022), que percorre a saga política do longa com a balada existencialista “É preciso dar um jeito, meu amigo”. Lançada em 1971 no álbum Carlos, Erasmo…, a música, composta por Erasmo e Roberto Carlos, carrega o peso da época e se encaixa perfeitamente na história de Eunice Paiva (1929 – 2018), mulher do deputado Rubens Paiva (1929 – 1971), assassinado por militares durante a ditadura. O arranjo, marcado pelo toque singular da guitarra de Lanny Gordin (1951–2023) e pelas cordas orquestradas, cria uma sonoridade que ecoa o momento histórico retratado no filme. Mais do que uma simples trilha incidental, a música assume um papel narrativo, reforçando a carga emocional da trama e conectando o espectador com a época e os acontecimentos retratados, como destacou Mauro Ferreira, em sua coluna no G1.
Assim como em grandes clássicos do cinema, onde uma única canção se torna inseparável da obra – pense em “I Will Always Love You”, que marcou profundamente o filme O Guarda-Costas, ou “Don’t You (Forget About Me)”, que se tornou a assinatura de O Clube dos Cinco –, a trilha de “Ainda Estou Aqui” tem o potencial de criar essa mesma conexão duradoura. Ao ouvir essas músicas, não apenas lembramos das cenas, mas revivemos as sensações que elas nos despertaram.
Esse poder da trilha sonora no cinema se reflete também na nossa vida. Quantas vezes não ouvimos uma música e somos imediatamente transportados para um momento específico? Uma viagem inesquecível, uma festa com amigos, um amor do passado. As músicas que marcaram nossa história se tornam a trilha sonora da nossa vida, carregando lembranças, sentimentos e significados que vão muito além das palavras.
Essa conexão entre música e vida é brilhantemente capturada na canção que dá título a esta coluna: “A Trilha Sonora da Vida”, de Baia. A música é uma celebração do amor, da alegria e do poder transformador da música. Desde o início, a letra nos convida a deixar de lado os problemas e abraçar o lado bom da vida, sugerindo que a música tem o poder de mexer com a alma e trazer uma nova perspectiva. (Referência: Letras.)
O segundo verso da canção é um convite ao afeto e à positividade. Baia expressa o desejo de oferecer um abraço forte, saúde, paz e sorte, além de trazer mais do que apenas alegria para a vida de quem ouve. A metáfora de fazer do peito a moradia do outro sugere um amor profundo e acolhedor, onde há espaço para o outro se sentir seguro e amado. Essa imagem de acolhimento e carinho é central para a mensagem da música.
No refrão, a música se transforma em uma espécie de roteiro de um filme sem diretor, figurino ou roteiro, onde os dias são vividos como cenas de um cinema brasileiro. Essa metáfora sugere uma vida espontânea e autêntica, onde o final feliz é apenas o começo de uma nova história a ser traçada. A trilha sonora da vida, que Baia traz e assopra no ar, simboliza a importância da música como companheira constante, capaz de dar sentido e emoção aos momentos vividos.
E, assim como no cinema, onde uma trilha pode ser capaz de nos emocionar, shows e festivais nos proporcionam a experiência de ouvir ao vivo essas músicas que fazem parte da nossa história. Ver uma banda ou artista no palco e sentir a multidão cantando junto cria um momento único, onde a música deixa de ser apenas som e se transforma em experiência, em memória compartilhada.
Afinal, a música tem essa capacidade mágica: ela não apenas embala histórias na tela grande, mas também embala as histórias que vivemos todos os dias. Seja no cinema, nos fones de ouvido ou em um grande festival, ela está sempre presente, nos fazendo sentir, lembrar e viver.
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