A notoriedade da família Kosovski

 

 

A família Kosovski é uma das mais importantes do mercado teatral do Brasil, isso é indiscutível, são reconhecidos e terminantemente chancelados por obras que já trouxeram para o público. Não são rasos, muito pelo contrário, são sofisticados e maduros quando trazem suas obras. São mestres e artistas que entendem de teatro.
A última obra está no Sesc Tijuca, a obra que aborda a dramaturgia Rei Lear, a última de Shakespeare, Através das ideias de pai e filho Kosovski, temos uma montagem que vem como um concorde apressado, cheio de força, querendo trazer toda contemporaneidade para um texto escrito em outro século.

E nada mais justo que uma dramaturga a desenhar essa escrita, Marcia Zanellato, que inclusive agradeço imensamente por uma frase: “se houvesse uma mãe, não haveria tragédia”, que beleza essa frase, que vem após a atriz questionar ao pai onde estava a mãe das filhas do rei nos escritos de Shakespeare. Lindo mesmo!

Pedro durante a pandemia, ensinou-me sobre o amor, e de alguma forma, vi do artista e demais fazedores de teatro, o amor pelo ofício.

SINOPSE – Um pai idoso e sua filha temporã, depois de anos afastados, tentam se comunicar. Ele, um experiente ator. Ela, uma jovem atriz. O pai oscila entre a fina lucidez e descontrolados delírios. A filha tenta se equilibrar entre os cuidados com este pai e a raiva e exaustão. Como estratégia de convivência, decidem ensaiar o personagem Rei Lear, antigo sonho dele. O véu da autoficção agora permite que Pai-Ator-Lear e Filha-Atriz-Cordélia descubram novas formas de expressar o que não pode ser dito, ao mesmo tempo, em que vislumbram a finitude na figura do pai.

Assustei-me ao conhecer a filha do pai Kosovski, Luiza, que me levou ao céu, simpática em seu ofício, ponderada quando se precisou ser em cena e não ponderada quando não precisou, posso dizer que a atriz enobrece a montagem, ela é sofisticada, porta de um encantamento em cena. Bem-vinda ao meu mundo teatral Luiza, adorei ver-te tão delicada e explosiva, uma mistura tão perfeita quanto um vinho do porto com uma boa sobremesa. Ela encarnou Cordélia, através da personagem ela tramita entre uma sala de ensaio e a própria personagem, com questões pessoais, acredito nisso.

Ricardo é o Rei Lear. Ricardo é um insano do teatro, assim o vejo, e como cantou Nara e Bethânia, não mudo de opinião. Ele leva a risco que no teatro ele pode tudo, ele se transforma, se entrega, se joga no chão, olha para dentro dele, se apaga e faz nascer seus personagens com muita magia. Não há um que não o respeite no cenário teatral. Na montagem ele provoca a atriz e traz discussões que andam em pauta nos últimos tempos a respeito do patriarcado que permeia no seio da sociedade. Uma das cenas que chamou minha atenção foi a nudez de ambos, me levou a uma análise profunda de gêneros. Os dois artistas pai e filha na realidade e fictícia imitam seus movimentos como se dissessem: se você faz, eu também posso fazer. São expressões faciais e corporais e no final eles pulam e se os seios da atriz saltam com ela, o que está entre as pernas dele, também salta, caramba, por que ainda teimam em diferenciar a mulher dessa maneira? Por que agonizar os passos da mulher? Penso que guardarei essa cena comigo para sempre…

O Sesc pulsar é um dos editais mais difíceis de ser contemplado, são tantos escritos e a obra “Devora-me” chegou lá, e quando isso nos acontece, somos gratos e a licença poética que a família manifesta são dezesseis (número de apresentações obrigatórios pela instituição) vasos plantados em cena (o cenário), como fui no segundo dia, ainda restam catorze para que a atriz divida as terras que o Rei Lear resolveu presentear suas filhas. Que belo!

A peça traça Shakespeare de ontem com o hoje, questiona-se e de maneira alguma apaga o dramaturgo, somente o coloca em um túnel, onde o tempo passa e que precisamos atinar para ele.

Uma peça pertinente, que se precisa conhecer um pouco do texto do filho de um luveiro, um dos homens mais importantes do teatro, mas que não sucumbiu a notoriedade da família Kosovski.

 

Ficha Técnica:

Idealização: Ricardo Kosovski e Pedro Kosovski
Direção: Pedro Kosovski
Dramaturgia: Marcia Zanelatto
Atuação: Ricardo Kosovski e Luiza Kosovski
Assistência de Direção: Zaza Connas
Cenografia: Beli Araújo e Lidia Kosovski
Supervisão Técnica dos Terrários: Giselle Falbo
Iluminação: Lina Kaplan
Figurino: Fernanda Garcia
Assistência de Figurino: Mag Pastori
Direção Musical: Felipe Storino
Criação de Vídeo: Julio Parente
Assistência de Vídeo: Diego Avila
Interlocução Artística: Janaina Leite e Carmen Luz
Direção de Movimento: Paulo Mantuano
Professora de Dança: Brigitte Wittmer
Mídias Sociais: Rafael Teixeira
Programação Visual: Ana Szwarcfiter e Marina Kosovski
Registros Fotográficos: João Julio Mello
Produção: Corpo Rastreado
Produção Local: Anne Mohamad
Produtor Assistente: Vini Portella
Assessoria de Imprensa: JSPontes Comunicação – João Pontes e Stella Stephany

 

SERVIÇO

DEVORA-ME

  • De 24 de abril até 18 de maio
  • SESC Tijuca – Teatro II – Rua Barão de Mesquita, 539, Tijuca
  • CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA: 18 anos
  • 2ª TEMPORADA a partir de 06 de junho no Espaço Cultural Municipal Sergio Porto (Rua Humaitá, 163 – Humaitá) / HORÁRIOS: sextas e sábados às 20h e domingos às 19h / INGRESSOS: R$40e R$20 (meia)

Sinopse Rei Lear

Lear, o idoso rei da Bretanha, decide dividir o reino entre suas três filhas: Goneril (esposa do duque de Albany); Regan (esposa do duque da Cornualha); e a favorita Cordélia (que tinha por pretendentes o rei da França e o duque da Borgonha). Para calcular a partilha, pede às filhas que expressem a gratidão e o amor que sentem pelo pai. Goneril e Regan fazem discursos aduladores, em que afirmam que o amam mais que qualquer coisa no mundo. Cordélia, por outro lado, contraria as expectativas do rei e afirma que o ama “como corresponde a uma filha, nada mais, nada menos”. Irritado com essa resposta, Lear deserda-a e expulsa-a do reino.

 

Paty Lopes (@arteriaingressos). Foto: Divulgação.

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Author

Dramaturga, com textos contemplados em editais do governo do estado do Rio de Janeiro, Teatro Prudential e literatura no Sesi Firjan/RJ. Autora do texto Maria Bonita e a Peleja com o Sol apresentado na Funarj e Luz e Fogo, no edital da prefeitura para o projeto Paixão de Ler. Contemplada no edital de literatura Sesi Fiesp/Avenida Paulista, onde conta a História de Maria Felipa par Crianças em 2024. Curadora e idealizadora da Exposição Radio Negro em 2022 no MIS - Museu de Imagem e Som, duas passagens pelo Teatro Municipal do Rio de Janeiro, com montagem teatral e de dança. Contemplada com o projeto "A Menina Dança" para o público infantil para o SESC e Funarte (Retomada Cultural/2024). Formadora de plateia e incentivadora cultural da cidade.

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