Uma das cenas mais emblemáticas das últimas versões de ‘Éramos Seis’, a morte de Carlos (Danilo Mesquita), irá ao ar no capítulo desta sexta-feira, dia 7 de fevereiro.
A morte do personagem não causou impacto apenas na ficção. A autora Angela Chaves conta que foi doloroso para ela escrever esta trama. “A morte de Carlos é necessária para contarmos a história desta família, por mais querido que seja o personagem, por mais injusta que seja a situação, e por mais que me doa mantê-la nesta versão. Além do mais, do jeito que acontece, por obra do acaso, por Carlos estar no lugar errado na hora errada, se torna um dos momentos mais bonitos e impactantes da adaptação de Sílvio de Abreu e Rubens Edwald. Por isso foi mantida nesta versão”, explica a autora. “A tragédia transforma a vida dos irmãos e da mãe. “Como ser feliz depois de uma tragédia dessas?”, é o que Lola se pergunta. É o que todos se perguntam! E, no entanto, cada um de seu jeito, encontra uma forma de ir em frente, porque é assim que tem que ser.”, finaliza.
Confira abaixo uma entrevista com o ator Danilo Mesquita, que falou mais sobre seu personagem e sua participação em Éramos Seis
O que mais lhe marcou ao longo desses meses gravando ‘Éramos Seis’?
“Foi muito marcante gravar ‘Éramos Seis’. Embora seja minha segunda novela de época, a primeira foi muito rápida. Essa foi a primeira na qual, de fato, eu me relacionei com a época. Não só no sentido da roupa, costumes, forma de falar, mas principalmente com a criação desse personagem. O Carlos é o filho mais velho e na morte do Júlio (Antonio Calloni), seu pai, ele é direcionado para assumir esse lugar, para ser o homem da casa. É um personagem completamente diferente do que eu sou e é aí que está a beleza do nosso trabalho. Um personagem pouco espontâneo, mais certinho, criado para assumir uma determinada função. Ele não enxerga nenhuma outra possibilidade. É um personagem conservador, coisa que eu também não sou. Ou seja, completamente diferente de mim. Ter feito esse trabalho nos últimos meses foi um exercício maravilhoso.”
“Foi marcante também gravar ao lado da Gloria Pires, Antonio Calloni, Giullia Buscacio, Nicolas Prattes e André Luiz Frambach. E também do Guilherme Ferraz, que interpreta Marcelo, melhor amigo do Carlos. É um ator que eu conheço há cerca de 10 anos, fizemos curso de teatro juntos e nos reencontramos agora como melhores amigos na trama. Foi uma delícia estar nesse projeto em todos os sentidos. Reencontrei diretores com quem eu não trabalhava há algum tempo, como o Carlos Araújo e Oscar Francisco , com quem fiz minha primeira novela; o Pedro Peregrino, com quem eu trabalhei em ‘Rocky Story’; Carla Bohler, com quem já encontrei em outros projetos. Foi um trabalho muito especial para mim.”
As cenas da manifestação envolveram uma produção enorme na cidade cenográfica. O cheiro de pólvora, os panfletos na rua, o grito dos manifestantes ecoando… isso, de alguma forma, tocou você e influenciou na emoção do momento?
“Sim, envolveu muito minha emoção. Eu nunca tinha gravado uma morte, nunca tinha tomado um tiro em cena. Então, isso tudo já tinha me deixado num estado de tensão, de alerta. Quanto às cenas, elas foram muito bem dirigidas e produzidas. Quem estava lá sentia essa emoção, além de ser uma questão histórica do Brasil. A história do Brasil me interessa muito, falar sobre o país me interessa. Meu personagem, por exemplo, é conservador, critica o comunismo e acaba sendo morto pelas mãos do Estado. Aquelas pessoas estavam ali para lutar pelo direito do trabalhador, pelo direito de viver melhor, de trabalhar em condições melhores. Então, durante as gravações, tudo isso bateu na minha cabeça de forma muito emocionante. Eu acho que é importante falar disso na TV brasileira para que os que são contra as pessoas que lutam pelos pobres consigam entender melhor essa luta e enxergar todos os lados. Eu espero que, com as cenas, as pessoas reflitam bastante. Fico feliz de participar disso, um debate que considero fundamental.”
Como foi gravar as cenas do hospital, quando Carlos conversa com os irmãos, com quem recentemente tinha brigado e se despede de Lola?
“Essas cenas do hospital foram muito emocionantes também. Como comentei, nunca tinha feito cenas de morte. Eu me emocionei muito pessoalmente, foi um dia difícil, um dia pesado, procurei me concentrar bastante. Fiquei muito emocionado inclusive nas cenas em que eu já tinha morrido e que acontecem os diálogos enquanto eu estou na cama. Tive que me controlar muito para não chorar porque eu não podia me mexer. Eu ainda não vi as cenas, não vi o resultado final, quero ver com todos, quando passar na TV, mas foi bastante emocionante gravar isso. Queria, inclusive, mandar um beijo especial para Giullia Buscacio, Simone Spoladore, Nicolas Prattes e a Gloria Pires que estavam na cena. Espero que as pessoas gostem. É uma experiência que eu vou guardar para sempre.”
É difícil não se envolver com a história? Como isso acontece para você?
“É muito difícil não se envolver com a história. A gente acha que não vai se envolver tanto, acha que vai chegar ali, fazer o trabalho, fazer o máximo que der, mas quando chega na hora e você se vê naquela situação vulnerável, você vê sua família na trama, todo mundo chorando… O nosso trabalho é muito encantador por isso, você sabe que é mentira, mas seu corpo não sabe. Você da informação para o seu cérebro de que você está morrendo, de que você está triste. Por mais que você saiba que é mentira, seu corpo não sabe e começa a te levar para uns cantos que você tem que respirar de vez em quando e lembrar que aquilo é faz de conta. É muito difícil não se envolver nesse sentido.”
Pouco antes de sua morte, Alfredo diz a Carlos que ele deve viver mais sua vida, e menos a dos outros. O que você pensa sobre essa reflexão?
“Uma das coisas mais bonitas da relação deles é neste momento, quando Alfredo diz a ele que é importante viver sua vida, ser feliz. O Carlos realmente nunca conseguiu ser feliz. Essa reflexão que o Alfredo faz o Carlos ter é fundamental para eles. O Alfredo e o Carlos são pessoas completamente diferentes, de mundo diferentes, de formas de pensar diferentes. E eles vão se entender muito pouco nesse processo. Eu acho que o Alfredo é um personagem maravilhoso. Ao mesmo tempo que ele tem um lado irresponsável, que comete alguns equívocos (que ele acredita estar fazendo para ajudar), nunca tem maldade. Ele não é mau-caráter, é um personagem muito interessante, é um personagem muito bom, um cara que se solidariza pela luta do outro, que se solidariza pela luta dos menos favorecidos.”
“É a mesma coisa com o Carlos. Ele tem um lado conservador, mais chato, mais cricri, mas tem o lado da parceria, tudo que ele fala é realmente por amor, para que as pessoas se escutem, isso é fundamental. Então, se o Alfredo ouvisse um pouquinho o Carlos, no sentido de ter mais tranquilidade, dar mais atenção para certas coisas, poderia ser bom para ele. E se o Carlos ouvisse o Alfredo em milhões de coisas, como viver a vida, viver a vida dele próprio, entender esse lugar da luta política, ele também poderia ser um pouco melhor. Infelizmente, não tiveram tempo para isso, mas são personagens muito diferentes, que teriam sim questionamentos a vida inteira, mas um poderia ajudar o outro de forma muito bonita. Um tinha coisas para dizer para o outro.”
Uma das pessoas com quem você mais gravou foi Gloria Pires. Uma vez, você mencionou que prestava atenção em tudo que ela e Antonio Calloni faziam, para aprender com eles. Conseguiria destacar algo, seja em cena, seja nos bastidores, que tenha aprendido com cada um deles neste período?
“Eu tive essa sorte de trabalhar com a Gloria e com o Calloni, que são craques dentro do que a gente faz, pessoas por quem eu tenho uma admiração gigantesca. A coisa que eu mais aprendi com eles é que como foi minha primeira novela de época longa, esse era um personagem muito duro, retraído, diferente de mim, eu tive que tirar essa minha expansão. E ao tirar isso eu perdi um pouco do frescor, da espontaneidade de estar em cena, eu estava muito preocupado com texto, sotaque, milhões de coisas e estava experimentando pouco a cena, vivendo pouco a cena. Estava preocupado com coisas que eu não deveria estar.”
“É claro, começo de trabalho, eu cheguei muito em cima, é natural que tudo demorasse um pouco para acontecer. Mas olhando Gloria e Calloni eu entendi a forma como eles pegavam a cena e contavam aquela história. A maneira como eles transformavam o texto de forma fresca, cotidiana, espontânea. Quando começamos a gravar, eu tinha encontrado poucas vezes com a Gloria e quando a gente começou, a forma como ela me olhava, com esse olhar da mãe, o sentimento, a energia… O Calloni também, eu fui pegando essa vontade que eles já têm — claro, pela experiência, por tudo que viveram, toda essa experiência que eles já têm de chegar no set e fazer com que aquilo venha para o lado deles, que aquilo não atrapalhe eles. Mas a questão é que eles pegam a cena e fazem o que eles querem, como eles querem. E eu acho isso muito bonito. Aos poucos fui entrando nesse jogo, tentando entrar, de estar mais fresco, mais espontâneo, parar de me preocupar com tudo. Preparação é isso, você vai montando coisas, entendendo coisas, pensando coisas, só que chega na hora de fazer isso e tem que estar no campo não do pensamento, mas da execução, do natural. Eles me ensinaram muito isso. Vou contar paras todo mundo, para os meus netos, que eu trabalhei com esses atores, porque eles são incríveis.”
Como foi gravar com Carlinhos Araújo?
“Gravar com o Carlinhos foi muito legal porque ele foi o diretor geral da minha primeira novela, ‘I Love Paraisópolis’. Eu cheguei chegando e cheio de vontade, sem experiência nenhuma, querendo aprender, pagar minhas contas. E a gente se encontrar agora, numa novela difícil e bonita, eu mais maduro, foi muito legal esse reencontro. O Carlinhos é um diretor que deixa o ator pensar, deixa o ator fazer, ele vai te direcionando, vai te encaminhando para as coisas, mas te deixa à vontade para jogar, propor coisas com seu parceiro de cena. É um diretor muito aberto nesse sentido e isso é fundamental.”
As cenas vão ao ar a partir desta sexta-feira (7 de fevereiro). ‘Éramos Seis’ é escrita por Angela Chaves, baseada na novela original escrita por Silvio de Abreu e Rubens Ewald Filho, livremente inspirada no livro de Maria José Dupré. A direção artística é de Carlos Araújo e a obra conta ainda no elenco com Eduardo Sterblitch, Maria Eduarda de Carvalho, Werner Schünemann, Camilla Amado, Denise Weimberh, Virgínia Rosa, entre outros.