No palco do Teatro Futuros, no centro cultural Futuros – Arte e Tecnologia, no Flamengo, dia 20 de abril (sábado), estreia A História de Kafka e a Boneca Viajante, espetáculo infantil dirigido pelo premiado ator e diretor Isaac Bernat. Em cartaz até 09 de junho, a nova montagem narra o inspirador episódio que teria ocorrido entre um dos maiores escritores do século XX, Franz Kafka (1883-1924), e a menina Elsi, no parque de Steglitz, em Berlim (Alemanha).
A dramaturgia, assinada pela atriz e pesquisadora Julia Bernat, é baseada no livro “Kafka e a Boneca Viajante” (2006), escrito pelo catalão Jordi Sierra i Fabra – a obra, premiada diversas vezes, recebeu o Prêmio Nacional de Literatura Infantil y Juvenil (Espanha), em 2007.
Na trama, ao encontrar a jovem Elsi aos prantos por ter perdido sua boneca Brígida, o escritor se apresenta como um “carteiro de bonecas” e convence a menina de que, na verdade, ela estaria apenas viajando. Ele passa a escrever belas cartas em nome de Brígida contando suas aventuras. Durante semanas, marca uma série de encontros com a garota para ler as cartas.
A história é uma linda alegoria sobre o crescimento infantil e a superação de perdas, além de ressaltar sentimentos como amor, amizade e confiança. As múltiplas camadas de significado fazem com que a peça seja indicada tanto para as crianças quanto para adultos.
Conversamos com o diretor da peça Isaac Bernat. Ele é carioca, tem 63 anos, e também é ator, professor de interpretação da Faculdade Cal de Artes Cênicas, doutor em Teatro pela UNIRIO e autor do livro “Encontros com o griot Sotigui Kouyaté“.
Isaac atualmente está no ar como ator na série Justiça 2 (Globoplay), interpretando o psiquiatra corrupto que cuida de Silvana (Maria Padilha). Além da nova montagem baseada na obra de Kafka, ele também assina a direção de “Cora do Rio Vermelho” (homenagem a Cora Coralina), que está em cartaz no Theatro Municipal de Niterói, e do monólogo “Maldito Coração“, que acaba de ser apresentado em Lisboa, (06 de abril) pela atriz Stela Celano.
Nesta breve entrevista, ele conta como conheceu o livro de Sierra e Fabra, porque decidiu levar a história para o palco e fala mais detalhes sobre sua visão do teatro na atualidade.
ENTREVISTA COM ISAAC BERNAT
Como foi o seu primeiro contato com o livro que inspirou a peça e por que você decidiu focar a peça no público infantil?
Em 2018, eu estava num jantar na casa de um amigo, o escritor Ricardo Hofstetter, e o produtor de cinema Tuinho Schwartz mencionou a história e falou sobre o livro, Kafka e a Boneca Viajante, do autor espanhol Jordi Sierra I Fabra. No dia seguinte, comprei o livro e li de uma tacada só. Fiquei encantado, atravessado pelo livro, então decidi que queria contar esta história no teatro. Com o tempo veio a certeza que a peça seria focada no público infantil, mas com abertura e participação dos adultos também. Afinal, a criança não vai sozinha ao teatro. Assim a peça quer emocionar e divertir todas as pessoas que forem ao Teatro.
O que você destaca nesta montagem?
Além da beleza e da originalidade da história, acredito que o maior destaque é o coletivo envolvido nesta montagem. É impressionante a qualidade e o entusiasmo das artistas e dos artistas que participam da criação desta peça. Cada artista consegue colocar sua autoria em comunhão com a encenação. Tudo foi criado e pensado para tocar o público, despertar a solidariedade e a empatia para com as outras pessoas. Assim, o segredo está na dramaturgia poética e delicada de Julia Bernat (adaptada da obra de Jordi Sierra I Fabra), nas músicas originais do incrível Pedro Luis, no trabalho minucioso de direção de movimento e preparação vocal de Soraya Ravenle, na cenografia elegante e essencial de Doris Rollemberg, nos figurinos artesanais e charmosos de Margo Margot, na fotografia apurada de Dalton Valério, na identidade visual delicada de Bianca Oliveira, no trabalho criativo com as mídias de Lucas Furtado e na assessoria de imprensa impecável de Cristiana Lobo. Tudo isto, coroado com a iluminação requintada dos mestre Aurélio de Simoni. Impossível não mencionar a excelente produção de Aninha Barros que faz tudo acontecer com leveza e a parceria perfeita com minha assistente de direção Paula Furtado.
Você participou do processo da adaptação do texto?
Sim, em 2019, antes da pandemia, começamos a trabalhar na sala de ensaio, com Laura e João, sob o olhar atento e assíduo da dramaturga Julia Bernat. É importante ressaltar também a importância do dramaturgo e produtor Elissandro de Aquino, que participou da pré-produção da peça, e que foi inclusive, quem fez o contato inicial com Jordi, o autor do livro para o acerto com os direitos autorais. Este processo continua até hoje nos ensaios, com Julia ainda trabalhando o texto a partir do que os ensaios apontam como mais interessante e necessário para contar bem esta história.
Como cativar o público na forma de contar uma história no teatro nesses tempos de redes sociais e atenção fragmentada?
Acredito que invertendo o jogo, apostando na calma, na delicadeza, na relação direta com o público, buscando o tempo todo estar em contato com a audiência. Jamais subestimar a inteligência e a imaginação das crianças e do público. O Teatro tem hoje uma verdadeira missão: apontar horizontes, caminhos e olhares que as outras mídias sociais não têm como oferecer de forma tão plena, ou seja, o contato direto e presencial sem a intermediação de uma tela. Existem três palavras magicas no Teatro: aqui, agora e de verdade. São nossos guias. Além disso, como diz Ailton Krenak, “a gente só precisa pôr a cabeça na altura do coração, pensar com o coração”. Acho que estamos seguindo este conselho na peça.
As cartas e a menina nunca foram encontradas, mas a história continua sendo encantadora. Você acha que os encontros entre eles aconteceram? Porque?
Até este momento, não temos como saber se esta história aconteceu realmente, não há provas. Há o relato de Dora Diamante, a amorosa companheira de Kafka nos seus últimos momentos, mas estas cartas podem ter se perdido para sempre. Também há a possibilidade de ser uma breve novela que Kafka estava escrevendo e ter sido queimada pela Gestapo que invadiu sua casa. No entanto, a história é tão bela e edificante que, como dizemos na peça, isto não é tão importante assim. O que fica é o desejo de abrir o coração das pessoas e a importância de prestar atenção na dor alheia e se importar com ela.
SOBRE ISAAC BERNAT
Ao longo da carreira já recebeu diversos prêmios: Botequim Cultural, pela atuação em “Incêndios” (Wajdi Mouawad); Zilka Salaberry, pela Direção de “Lili, uma história de circo” (Lícia Manzo); Zilka Salaberry de Melhor Texto com “Rosa e a Semente” com o grupo Pedras, além do Prêmio Coca Cola como Ator em “As Aventuras de Pedro Malazartes”. Já participou de mais de 100 montagens durante sua trajetória. Entre as peças que dirigiu, destacam-se: “Cora do Rio Vermelho” de Leonardo Simões; “Tenho quebrado copos” de Ana Martins Marques; “ O Encontro entre Malcolm X & Martin Luter King Jr” de Jeff Stetson; “Carolina Maria de Jesus – EU AMARELO”, de Elissandro de Aquino; “Deixa Clarear” e “Por Amor ao Mundo – Um Encontro com Hanna Arendt”, ambas de Marcia Zanelatto, e “Calango Deu”, de Suzana Nascimento. Entre as peças que participou como ator, destacam-se: “Pá De Cal” , de Jô Bilac; “Agosto”, de Tracy Letts, além de “Incêndios” e “Céus”, de Wajdi Mouawad, com direção de Aderbal Freire Filho.
@isaacbernat
SERVIÇO
“A História de Kafka e a Boneca Viajante”
- Teatro: Futuros – Arte e Tecnologia
- Endereço: Rua Dois de Dezembro, 63, Flamengo, Rio de Janeiro.
- Temporada: de 20 de abril a 09 de junho, sábados e domingos
- Horário: 16h
- Classificação: Livre
- Duração: 50 minutos
- Ingressos: R$ 40 (inteira) | R$ 20 (meia) pelo site SYMPLA
FICHA TÉCNICA
- Autor: Jordi Sierra i Fabra
- Dramaturgia: Julia Bernat
- Direção: Isaac Bernat
- Elenco: João Lucas Romero e Laura Becker
- Direção Musical: Pedro Luís
- Assistente de direção: Paula Furtado
- Preparação Vocal: Soraya Ravenle
- Direção de movimento: Soraya Ravenle
- Iluminação: Aurélio De Simoni
- Figurino: Margo Margot
- Cenário: Doris Rollemberg
- Direção de Produção: Aninha Barros
- Pré-produção: Elissandro Aquino
- Produção executiva: Aninha Barros e Paula Furtado
- Fotos: Dalton Valério
- Mídias: Lucas Furtado
- Assessoria de Imprensa: Cristiana Lobo
- Identidade Visual: Bianca Oliveira
- Idealização: Isaac Bernat
- Realização: Vaca Amarela educação e arte LTDA