AC RETRÔ: A doce infância de antigamente

A DOCE INFÂNCIA DE ANTIGAMENTE

Por: Jorge Ventura

 

A garotada que, hoje em dia, saboreia o lanchinho da tarde com guloseimas açucaradas, cheias de calorias, gordura saturada e glúten, não imagina que a infância de antigamente – eu me refiro à da gurizada dos anos 1960, 70 e 80 – também consumia produtos tão ou mais adocicados quanto, muito gostosos, mas prejudiciais à boa saúde. E ninguém se preocupava com isso! Porque a hora da merenda escolar era sagrada: uma lancheira estampada com algum motivo de super-herói ou personagem de desenho animado vinha abastecida de pão com mortadela (ou presunto) envolto por um guardanapo, uma garrafa térmica da marca Aladdim contendo laranjada ou limonada e um doce de sobremesa. Pronto! Pra que mais? Para mencionar alguns doces que marcaram época, não poderia deixar de lado o drops sortido Dulcora, “a delícia que o paladar adora”, o pirulito Zorro (em homenagem à série televisiva da Disney), as balas Banda e Mentex, a última, geralmente, vendida nas portas de cinema de rua por algum ambulante que costumava circular com o seu tabuleiro colorido e variado. E as jujubas? Até hoje, um sucesso! E o que dizer dos Delicados multicoloridos e não menos açucarados? Esses eram mais durinhos e grudavam nos dentes quando mastigávamos. Na minha opinião, o Delicado mais saboroso era o de anis, o da cor azul.

Eu me lembro também das gomas de mascar. A da marca Chiclete ficou tão popular que se tornou sinônimo do produto. Ping-Pong era outra marca que virou moda e fez história entre os jovens que disputavam quem fazia a maior bola da goma. Nos anos 1980, Trident e Bubbaloo (pronuncia-se Babalu) chegaram ao Brasil para aumentar a concorrência. A propaganda da TV ajudava a difundir uma gama de produtos, como a linha de refrescos, biscoitos, chocolates, achocolatados, milk-shakes e cereais nutritivos. Havia o suco em pó Q-suco (que, depois, passou a se chamar Ki-suco), o Muki, o Nescau, o Toddy, o Ovomaltine, o mingau Cremogema, o creme de amendoim Amendocrem e os sucrilhos Kellogg’s. Como eu já escrevi no primeiro artigo da coluna Retrô, a maioria dava brindes para atrair ainda mais o público infantil e infantojuvenil.

 

Lembro-me bem da campanha publicitária de lançamento do Novo Muki vitaminado, com direito a comerciais de TV, outdoors, cartazetes, displays de pontos de venda e anúncios em revistas de HQs. Quem comprasse o novo produto e achasse o vale-brinde, ganharia uma super bat-cleta, ou seja, a bicicleta do Batman! A produção desse comercial foi cuidadosa. Os atores fantasiados de Cruzado Embuçado, Menino Prodígio e do vilão Pinguim foram dublados pelos próprios dubladores da cult-série de 66, estrelada por Adam West e Burt Ward: respectivamente, Gervásio Marques, Rodney Gomes e Borges de Barros.

A Cremogena do antigo jingle cujo refrão era “cre-cremogema, cremogema, cremogema, cremoge-má” dava times de futebol de botão, feitos de acrílico transparente com escudos dos clubes e da seleção brasileira. Ah, e as mariolas, bananadas, pés-de-moleque e cocadas? E os saquinhos de confetes de chocolate coloridos, o caramelo e as caixas de bombons Nestlé? Os chocolates Garoto (leia-se Prestígio, Kri, Baton…Huumm…) e Lacta (Diamante Negro, Bis… Huuummm!) e as geleias de mocotó em copo da Inbasa e Colombo?

Além dos biscoitos Maria, Goiabinha, Maizena e Mirabel, adorávamos o rocambole com recheio de goiaba e o bolo de fubá Pullman, sem contar as gelatinas, iogurtes e o leite fermentado Yakult (com lactobacilos vivos).

Nas praças públicas, portas de cinemas e entradas de circos, encontrávamos sempre um pipoqueiro que nos perguntava: sal ou doce? Nos parquinhos de diversão, o algodão doce e a maçã do amor eram imprescindíveis. Nas areias das praias, o biscoito Globo, doce ou salgado, era também muito disputado. No estádio do Maracanã, o cachorro-quente da Geneal e o mate-limonada, às vezes, eram mais sedutores do que as partidas de futebol.

 

 

Também era muito comum as crianças e jovens, a caminho da escola, levarem no bolso as balas Juquinha, Bhering, Soft ou os cigarrinhos de chocolate ao leite Pan. No Dia de São Cosme e São Damião ou no Dia das Crianças, então, a variedade deliciosa que vinha nos saquinhos de papel deixava a garotada com água na boca: maria mole, suspiro, peitinho de moça, doce de abóbora, cocô de rato…

 

Se eu for falar dos sorvetes da Kibon e da Yopa, não terei mais espaço. Vou precisar escrever outro artigo para descrever as maravilhas geladas e refrescantes.

Porém, se eu pudesse resumir a minha doce infância, período bem distante da chegada do Kinder Ovo no mercado brasileiro, teria destaque a figura de um vendedor que passava pela vila onde eu morava. Ele tinha uma matraca na mão que chamava a atenção da molecada para a venda de doces. Para quem não sabe, matraca é uma peça de madeira com argolas de ferro móveis que se agitam para fazer barulho. Quando ouvíamos o som da matraca, corríamos na direção dele para comprar o biscoito Biju (uma casquinha em forma de canudo, crocante, feita de farinha de trigo, polvilho, araruta, amido de milho e fubá) ou a chupeta doce, um tipo de pirulito da cor vermelha. As crianças mais gulosas queriam comprar os dois, o que – com o perdão da brincadeira – “salgava” o orçamento dos pais.

 

Ah, tempos bons! Quem se lembra?

 

*Todas as imagens (fotos e vídeos) respeitam os seus respectivos direitos autorais e são utilizados aqui apenas para efeito de pesquisa e resenha jornalística.

 

 

SOBRE JORGE VENTURA

Jorge Ventura é escritor, roteirista, editor, ator, jornalista e publicitário. Tem 13 livros publicados e participa de dezenas de coletâneas nacionais e estrangeiras. É presidente da APPERJ (Associação Profissional de Poetas no Estado do Rio de Janeiro), titular do Pen Clube do Brasil, membro da UBE – RJ (União Brasileira de Escritores) e um dos integrantes do grupo Poesia Simplesmente. Recebeu diversos prêmios, nacionais e internacionais, como autor e intérprete. Tem poemas vertidos para os idiomas inglês, francês, espanhol, italiano e grego. É também sócio-proprietário da Ventura Editora, CQI Editora e da Editora Iniciatta. Jorge é colunista do ArteCult e é responsável pelo AC RETRÔ.

Instagram @jorgeventura4758

SOBRE O AC RETRÔ

Prepare-se para embarcar em uma viagem no tempo! O AC RETRÔ é um espaço dedicado à nostalgia, à memorabilia, ao colecionismo, relembrando também aquelas propagandas icônicas da TV, telenovelas, anúncios inesquecíveis das revistas e jornais, programas que marcaram época e filmes que nos transportam diretamente para tempos dourados! ️

Aqui, cada post será um convite para reviver memórias, despertar emoções e compartilhar as lembranças que moldaram gerações.

Se você sente saudade de jingles que não saíam da cabeça, comerciais que viraram clássicos, seriados que marcaram a infância ou até mesmo daquele filme que você alugava na videolocadora todo fim de semana, então o AC RETRÔ será o seu novo ponto de encontro. Afinal, recordar é mais do que viver: é reconectar-se com o que nos fez sorrir, sonhar e se emocionar. Fique ligado, porque essa viagem ao passado JÁ COMEÇOU! ✨

 

 

Author

Jorge Ventura é escritor, roteirista, editor, ator, jornalista e publicitário. Tem 13 livros publicados e participa de dezenas de coletâneas nacionais e estrangeiras. É presidente da APPERJ (Associação Profissional de Poetas no Estado do Rio de Janeiro), titular do Pen Clube do Brasil, membro da UBE – RJ (União Brasileira de Escritores) e um dos integrantes do grupo Poesia Simplesmente. Recebeu diversos prêmios, nacionais e internacionais, como autor e intérprete. Tem poemas vertidos para os idiomas inglês, francês, espanhol, italiano e grego. É também sócio-proprietário da Ventura Editora, CQI Editora e da Editora Iniciatta. Jorge é colunista do ArteCult, responsável pelo AC RETRÔ. E, agora vocês já sabem... Uma das maiores referências no Brasil sobre o universo Batman. Instagram @jorgeventura4758

25 comments

  • Do fundo do baú veio esse açucarado artigo! Me fez lembrar das balas Soft, que diziam que faziam as crianças engasgarem de tão escorregadias que ficavam na boca. Mas eu gostava mesmo era dos pirulitos de caramelo Zorro. E nas festas de aniversário dos amiguinhos, não poderia deixar de haver aquelas “sacolinhas” cheias dessas guloseimas e um brinquedinho para levarmos para casa. Jorge, seu artigo me fez lembrar dos bons tempos da infância. Doce nostalgia. Grato! Abs!

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    • Muito obrigado pela leitura, comentário e prestígio, Rodolfo. Daqui a 15 dias, um novo tema será abordado. Fique ligado!

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  • Nossa…
    Acordei e deparei com essa coluna do nosso poeta Jorge Ventura fiquei tão absorvido que pensei que não tinha acordado e que era mais um sonho.rs
    Muito bom recordar dessa delicia que foi nossa infância e relembrar de guloseimas q nem existem mais..
    Meu Deus! ..Parece q foi ontem
    tudo isso.
    Nossas lancheiras com sucos e ki- sucos
    Sinceramente Jorge vc além de remeter me ao um passado tão distante q foi ontem,
    …as delicias,….
    Como pode tudo isso vir pro hoje tão vivo e tão bem contado, pois senti o sabor e até o cheirinho dessa infancia tão genuína que ainda vive convosco e vc abriu muito bem esse baú.
    P A R AB E N S Querido!

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  • Gente, que delícia de matéria!
    É isso mesmo. Recordar é mais do que viver: é reconectar-se com o que nos fez sorrir, sonhar e se emocionar. Adorei!

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  • Que texto maravilhoso, lembrei da minha infância soft, as balas que não podiam engolir.
    Eu ia com minha tia no Disco 8, em Botafogo, minha infância foi muito boa e ainda é.

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  • Biscoito Globo até hoje está aí e é quase um Patrimônio Cultural do Rio de Janeiro kkkk
    Adorava a chupetinha, os cigarrilha e Mirabel…
    Bala de anis eu odiava kkkkk
    Boas lembranças.

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    • Também adorava (e ainda adoro) o biscoito Globo. Mas somente o salgado. Grato, amiga, pela leitura e o prestígio de sempre.

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  • Adorei o texto do Jorge Ventura “A doce infância de antigamente “ ! Vivi uma imersão , um mergulho em espiral com suas lembranças por alguns instantes… fui lá na minha infância também, revivendo as guloseimas e as marcas da época… no quesito sorvetes ( meu ponto fraco de longa data) me lembrei dos picolés cilíndricos, que eram vendidos numa carrocinha, que continha uma forma cheia de tubinhos verticais, imersa em gelo seco ( aquela fumaça do gelo seco já tornava aquele momento em algo mágico)… quando o vendedor abria aquela tampa… um mistério acontecia na minha cabeça… respondia a pergunta que ele fazia … quero o de groselha (adorava a cor e o sabor) … e ele girava e puxava com delicadeza o picolé roliço, que surgia daquele tubo… sem embalagem nenhuma… envolto naquela fumaça do gelo seco, que parecia fazer daquele momento algo mágico…
    Obrigada, Jorge Ventura, por resgatar nas minhas memórias esse picolé, que embora sem marca alguma, ficou registrado em algum cantinho …

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    • Ah, Shirley, eu me lembro bem desse sorvete. Era delicioso! Mas ainda dedicarei um artigo para falar, especialmente, das maravilhas geladas de nossa geração. Muito obrigado pela leitura e comentário. Bjs!

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  • Ahhhh….. viajei no tempo ao ler esse texto do Jorge Ventura. Me vi indo pro colégio, de lancheirinha e tudo, com lanchinhos preparados com todo
    carinho pela minha mãe. Que saudades!
    Cheguei a sentir o gostinho dos caramelos da Nestlé, que eu adorava, mas que grudavam nos dentes….rsss. E os chocolates croquetes da Nestlé? Eram embalados em papel alumínio dourado: pareciam moedas de ouro. E também tinha um produto bem semelhante da Lakta; só que o chocolate era embalado em papel alumínio prateado, parecendo moedas de prata. O texto me fez lembrar das balas Banda, que adorava. Canto até hoje o jingle dessas balas…rsss.
    E os saquinhos de Cosme e Damião? Pena que não os recebo mais…
    Valeu, Jorge, por ter me colocado numa máquina do tempo. Belo texto! Parabéns!

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    • Patrícia, nós éramos felizes e não sabíamos.rsrs Também tenho muita saudade da nossa doce infância.

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  • Jorge Ventura, com essas guloseimas da infância, você nos levou a um passado cheio de cores e sabores. Como eu me recordo do picolé de creme holandês, era o que eu mais gostava. Não era da Kibom e sim de uma sorveteria que havia na minha cidade, em Minas Gerais. As cigarrilhas de chocolate que era um luxo. As chupetinhas coloridas eram puro deleite. Como é bom poder recordar, um passado rico em pequenos detalhes. Gratidão, querido pela viagem❤️
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    • Show, Maria Célia! Eu devo destinar um artigo para falar, exclusivamente, dos sorvetes de antigamente. Sempre uma delícia! Grato pela leitura e comentário! Beijos!

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    • Querido Dougie, valeu pela leitura e comentário! Dia 31 de maio, fique atento para mais um artigo. Tenho certeza de que irá gostar! Abraços!

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