“Na gaveta” surgiu de uma sobreposição de sentimentos e percepções, daqueles interstícios nos quais a racionalização não consegue alcançar algo compreensível. Inclusive, talvez, excluir a racionalização seja uma etapa crucial para que esses laços intersticiais sejam plenos. A balança entre o racional e aquilo que não é tende, na vida ordinária, a uma ilusão trivial de conhecimento, enquanto o que nos move fica retido, armazenado até que seja de fato percebido, enquanto toma o controle silenciosamente do que é possível.
A balança, como metáfora de si mesma, tem dois lados dinâmicos e isso é o que a define, assim como na canção. Quem ousar abrir as próprias gavetas e perceber, sentirá a intenção da canção. Há muitas histórias para serem contadas. A letra de “Na gaveta” não é um relato, mas vários, uma sobreposição deliberadamente desconstruída sobre a própria ausência de sentido naquilo que não se propõe a ser racional.
A instrumentação traz essa atmosfera de imprevisibilidade, tão típica da vida, mas tão ignorada. O peso da existência no plano da realidade se impõe em alguns momentos, até que não seja mais possível evitá-lo e a música se transforma em uma manifestação sonora daquilo que é para concluir não como uma metáfora, mas como uma observação crua. Como um hábito que não é regra, não há uma leitura direta de “Na gaveta”. Na canção há inúmeros relatos e sensações que nos são comuns, porém explorados de uma forma única, sob uma perspectiva que beira a isenção do racionalismo.
Uma perplexidade inerente às percepções sensoriais surge de uma interpretação mais profunda, enquanto na superfície podem ser lidas trivialidades. Como a própria realidade (se é que existe tal coisa), a canção se abre em camadas e interpretações pessoais.
SOBRE A BANDA
O Baudolino foi criado no final de 2020, a partir da amizade de 30 anos e uma grande vontade de realizar música de forma inovadora, autêntica, misturando suas influências, do rock clássico ao psicodélico e progressivo, jazz e brasilidades diversas. Os dois membros fundadores do Baudolino (Robson Pacheco e Márcio Pombo) montaram sua primeira banda na época do ensino fundamental, no início dos anos 90.
Sua liberdade artística se manifesta através das letras provocativas e dos arranjos inusitados, em canções que, ao mesmo tempo, são fortes e sensíveis. O Baudolino tem na sua formação atual Robson Pacheco (guitarra, violão e voz), Márcio Pombo (piano e sintetizadores), Denis Lopes (contrabaixo) e Rodrigo Veiga (bateria).
A banda costuma dizer que:
“Baudolino é nossa liberdade poética, é a nossa forma de comunicar sentimentos e percepções em forma de arte. O nome Baudolino foi escolhido em referência ao personagem homônimo de Umberto Eco, o qual é um contador de histórias, muitas das quais, tão fantásticas que se tornam inacreditáveis. Mas é exatamente essa ponderação sobre o que é incrível que nos dá a liberdade de contar, com o nosso olhar poético, aquilo que nos toca. Assim como para o Baudolino de Eco, o que sentimos é mais do que sabemos.”
A canção trazida ao público foi “Alheia”, lançada em fevereiro de 2021. No mesmo ano, houve o lançamento de outras canções, reorganizadas em 2022 no álbum Baudolino, além do EP “O Poeta e a Bailarina”. Em 2021 teve uma Studio Session, relançado em EP em 2022 e em vídeo no YouTube. Participaram do Festival PoêTerê, em 2021, e do especial “Beba da Música” no Kanton Beer, ambos em Teresópolis/RJ. Iniciaram o ano de 2023 com um show no Sesc Bistrô Teresópolis, apresentando o show “Improvável, mas tão real”, na noite de abertura do Festival ChocoSerra, no Sesc Alpina, também em Teresópolis.