Bará, de Gustavo Nazareno, é uma série com cerca de 400 desenhos em carvão que, juntos, criam uma dança, uma cerimônia em homenagem a Exu, em sua qualidade de “senhor do corpo”. Este é o cerne do primeiro livro de Nazareno, lançado pela Act. Editora, com apoio da Portas Vilaseca Galeria. Com acabamentos requintados e design cuidadosamente pensado para reverenciar o Orixá que guia e protege o artista, a publicação homônima reúne por volta de 120 trabalhos da série.
Nazareno destaca a dedicação e o envolvimento com a obra:
“É toda a entrega de uma oferenda para Exu, algo muito importante para mim. Este livro é minha vida no momento, estou entregue a ele, meu coração está entregue”.
O livro bilíngue (português e inglês) será lançado na quinta-feira, 3 de agosto, às 19h, na Livraria Megafauna, localizada no térreo do Edifício Copan. O evento contará com uma conversa entre o artista e o curador e pesquisador alagoano Deri Andrade, autor de um ensaio que integra a publicação. Andrade também é responsável pela curadoria da primeira individual do artista em uma instituição paulistana. Em cartaz no Museu Afro Brasil até novembro, a mostra reúne cerca de 48 obras, entre pinturas e desenhos.
Autodidata, Nazareno vem desenvolvendo uma produção guiada pela pintura a óleo e pelo desenho em carvão, cuja prática é influenciada pelo panteão iorubá afro-brasileiro. Exu, em sua qualidade de Bará, é uma das entidades centrais para o artista mineiro de Três Pontas. Partindo de um minucioso estudo da anatomia humana e de investigações em torno das poéticas e políticas do corpo, ele articula também referências que transitam pela iconografia renascentista e barroca, bem como pela história da moda e seus desdobramentos contemporâneos.
“Quando utilizado com certa intuição, o carvão é uma extensão da mão do artista. Seu gesto confunde-se com o do próprio lápis. Segundo Nazareno, o material surge quase como um chamamento, o que ratifica o fato de a série ser uma encomenda, produzida em transe. São nesses contatos que ele encontra conforto para estar próximo a Exu, inebriado pelas histórias que escuta do orixá e por sua proximidade com este”, escreve Andrade.
Espécie de mentor de Nazareno, o curador estadunidense Danny Dunson, diretor de assuntos curatoriais do The DuSable Black History Museum and Education Center, em Chicago, também contribuiu para a publicação: “Ousado, lírico, envolvente. Foram as palavras que surgiram em minha mente quando me deparei com o trabalho de Gustavo Nazareno. As primeiras imagens que vi foram da série Bará, obras criadas com as pontas dos dedos do artista, com pó de carvão sobre papel. As camadas de profundo contraste entre preto e branco, dando corpo a espaços de sombra e luz, positivo e negativo, tinham uma aparência ao mesmo tempo fotográfica e pictórica.”
Bará é a segunda publicação de artista da Act. Editora, focada em livros de arte contemporânea e design. “O trabalho de Gustavo Nazareno me pegou pela vertical quando visitei seu ateliê. Uma miríade de referências tão variadas quanto improváveis e um universo plástico repleto de muitas camadas que desafiam noções temporais, mesclando técnicas e revisitando ismos da história da arte de maneira única. Esses são apenas alguns dos aspectos que fazem dele um dos mais interessantes jovens artistas da atualidade”, conta João Paulo Siqueira Lopes, diretor da Act. Editora.
O livro conta ainda com fotografias de Anna Carolina Bueno, projeto gráfico de Felipe Chodin e edição de Marina Dias Teixeira e Yasmin Abdalla.
Ficha técnica
BARÁ
- ISBN: 978-85-471-0729-1
- Edição: 1º
- Ano: 2023
- Act. Editora
- Área de Interesse: Arte; Artes visuais; Religiões de matriz africana; Exu; Bará
- Encadernação: Capa dura
- Formato: 23,5 cm x 30 cm x 3 cm
- Nº de páginas: 232 p.
- Peso: 1,3 kg
- Idiomas: Português | Inglês
- Preço: R$ 240,00
Lançamento
Livraria Megafauna
Av. Ipiranga, 200 – loja 53 – República, São Paulo/SP, 01046-010
Quinta-feira, dia 3 agosto, às 19h
Conversa entre o artista Gustavo Nazareno e Deri Andrade
Gustavo Nazareno
Autodidata, o artista mineiro vem desenvolvendo uma prática guiada pela pintura a óleo e pelo desenho em carvão. Sua pesquisa é influenciada pelo panteão iorubá afro-brasileiro, que se manifesta com toda a sua força mítica no campo pictórico. A obra de Nazareno parte de um minucioso estudo da anatomia humana e de investigações em torno das poéticas e políticas do corpo. As referências que articula transitam pela iconografia renascentista e barroca, bem como pela história da moda e seus desdobramentos contemporâneos.
Deri Andrade
É pesquisador, curador e jornalista. Mestrando em Estética e História da Arte e graduado em Jornalismo, possui especialização em Cultura, Educação e Relações Étnico-raciais pela Universidade de São Paulo. É criador do Projeto Afro, plataforma virtual que mapeia a atuação de artistas negros em todo o território nacional. Com passagens pelo Museu de Arte Moderna de São Paulo, Unibes Cultural e Instituto Brincante (São Paulo), atua desde 2021 como curador assistente do Instituto Inhotim (Brumadinho).
Danny Dunson
É historiador da arte, curador e escritor. Formado em História da Arte pela Universidade de Illinois (Chicago), recebeu a bolsa Fulbright (Gana, 2016-2017). É fundador do Legacy Brothers Lab, uma consultoria de desenvolvimento artístico que visa preparar artistas emergentes de comunidades desprivilegiadas a entrar no mundo da arte, por meio de bolsas destinadas a custear estúdios, materiais e despesas de subsistência. É diretor de assuntos curatoriais do The DuSable Black History Museum and Education Center (Chicago).
Act. Editora
Criada pela Act., consultoria que preenche diversas lacunas do mundo da arte, a Act. Editora tem como missão fomentar o debate contemporâneo em torno das artes e do design por meio de publicações com projetos gráficos e conteúdos de excelência, sempre disponíveis em mais de um idioma. Desde 2018, a casa editorial conduz pesquisas de fôlego em torno da teoria e da prática de artistas emergentes e estabelecidos, bem como de instituições do Brasil e do mundo, sobretudo no contexto latino-americano. Para compor um conjunto de títulos diversos, a Act. Editora desenvolve projetos em estreita colaboração com renomados curadores, artistas, galerias, pesquisadores e instituições nacionais e internacionais.
Portas Vilaseca Galeria
Fundada por Jaime Portas Vilaseca em 2012, no Rio de Janeiro. Até 2018, funcionou no bairro do Leblon para, em seguida, ocupar um edifício de três andares em Botafogo, onde promove uma agenda dinâmica de exposições e projetos artísticos especiais. Atualmente, a galeria representa 24 artistas que compõem um importante recorte da produção da arte contemporânea brasileira recente em seus múltiplos contextos. Nascidos em diferentes gerações e oriundos de diversas regiões do Brasil, os artistas representados desenvolvem suas pesquisas em várias linguagens – pintura, desenho, escultura, gravura, fotografia, vídeo, instalação e performance. Portas Vilaseca Galeria tem como valores a divulgação e a institucionalização da produção de seus artistas representados no Brasil e no mundo, assim como o fomento da pesquisa e prática artísticas de forma livre e experimental.