Com 10 obras inéditas, exposição itinerante fica em cartaz de 22 de junho a 03 de setembro no Sesc Paraty e depois roda o Brasil
“Retratos Relatos: Subvertendo a Dor” é a nova exposição da artista visual Panmela Castro, criada como ferramenta de enfrentamento à violência contra a mulher através do processo de escuta e da criação artística. Com abertura marcada para o dia 22 de junho, no Sesc Paraty, a mostra, composta por 10 obras inéditas, além de uma websérie educativa e outras ações artísticas, fica em cartaz até 03 de setembro para depois rodar as unidades Sesc Brasil. Todos os retratos serão pintados ao vivo, entre os dias 04 e 18 de junho, durante uma residência artística aberta ao público, na galeria do Sesc.
Vítima de violência doméstica, Panmela se dedica à promoção da Lei Maria da Penha há cerca de 15 anos. Por este seu ativismo, tornou-se mundialmente conhecida como símbolo da luta contra a violência à mulher e desde então passou a receber mensagens, depoimentos e relatos de mulheres de todo o Brasil que queriam contar suas histórias, como forma de fazer algo com essa dor. Até que em 2019, a artista decidiu transformá-las em obras de arte, como em um processo curativo para elas.
Após um caso de abuso que veio a público, Panmela convidou mulheres a compartilhar seus relatos por email acompanhadas por uma selfie e, a partir deste material, deu vida a mais de cinquenta obras, que trazem o retrato das vítimas acompanhado pelos textos na íntegra. Em 2020, a série intitulada “Retratos Relatos” foi exposta pela primeira vez no Museu da República, no Rio, passando depois pelo Parque das Ruínas, Galeria de Vidro da CEFET (ambas no Rio) e Vila Cultural Cora Coralina em Goiânia.
Agora, com novo formato, a série, que ganhou o nome “Retratos Relatos: Subvertendo a Dor”, chega a Paraty, através do Sesc, onde todos os 10 retratos serão pintados ao vivo com a presença do público. Os relatos, contados por mulheres de diferentes regiões do país, foram selecionados previamente e divididos por temas: A História das Mulheres, A construção do gênero, Machismo estrutural, Violência física, Violência psicológica, Violência moral, Violência patrimonial, Violência sexual e A Lei Maria da Penha. “Em cada relato narrado encontramos uma história de dor, mas, principalmente, de superação e resiliência, que representa as diversas formas de violência que as mulheres enfrentam há décadas, cotidianamente”, diz Panmela.
É o caso de Laura de Jesus Braga, 64, a primeira retratada da série, escolhida para abordar a História das Mulheres. Responsável pela criação de diversos projetos educacionais e culturais para crianças e adolescentes nas favelas do Rio de Janeiro desde a década de 1980, atualmente D. Laura é uma liderança do Quilombo do Campinho da Independência, onde realiza práticas de turismo de base comunitária, agroecologia, atividades culturais e luta pela educação diferenciada. Sua história representa o processo e o esforço coletivo de diversas mulheres na conquista de direitos para todas nós.
Já Marta Leiro, 55, mãe, ativista feminista, moradora do Calafate, região da periferia de Salvador, BA, conta que viveu um relacionamento abusivo longo, onde passou por todo tipo de violência, principalmente física, psicológica, moral e patrimonial. A maioria das agressões começava porque o agressor não aceitava sua atuação no Coletivo de Mulheres do Calafate, que mobiliza mulheres moradoras da comunidade para a luta pela garantia dos direitos humanos, com foco no combate à discriminação por gênero, raça, etnia, orientação sexual e condição econômica. Hoje, livre da violência e da dependência emocional que viveu, Marta conta sua história como uma forma de informar e acolher outras mulheres que passam pelos mesmos problemas e dificuldades.
Para falar de violência sexual, a curadoria traz a história de Wescla, 27, uma jovem travesti cearense, atriz e pedagoga, mestranda em Cultura e Territorialidades pela UFF. Aos 11 anos, Wescla percebeu-se como uma criança trans e, desde então, enfrentou inúmeras violências em sua vida, incluindo violência sexual cometida até mesmo por homens que eram seus familiares. Com o apoio e amor de sua mãe e seus irmãos, Wescla nunca desistiu de estudar e se formou pedagoga pela Universidade Estadual Vale do Acaraú, de Sobral. Em 2018, numa entrevista, quando perguntada sobre seu grande sonho, Wescla foi enfática: “eu acredito que meu grande sonho é sobreviver”.
OUTRAS ATRAÇÕES – Todo o processo de pintura se desdobrará numa websérie educativa, dividida em 10 capítulos, cada um dedicado a um Retrato Relato, acompanhado por depoimentos de especialistas sobre os temas que a exposição traz no enfrentamento à violência doméstica. Os vídeos serão exibidos na Sala Educativa e ao fim será proposta uma atividade de arte dos participantes.
A exposição conta ainda com a Sala dos Espelhos, onde o público é convidado a escrever livremente na superfície espelhada, como num ato de alteridade e empatia. “Ao escrever diante de seu reflexo, você deixa uma mensagem para o outro e para si mesmo”, reflete a artista. Já na Sala de Cinema, quem quiser pode também escrever um relato, que ficará como material futuro para a série Retratos Relatos.
SERVIÇO RETRATOS RELATOS
Local: Sesc Santa Rita – Rua Dona Geralda, 320. Centro Histórico, Paraty, RJ.
Data: Pinturas ao vivo de 4 a 18 de Junho e Exposição de 22 de Junho a 3 de Setembro
Horário: Terça a sexta de 10 às 19h. Sábados, domingos e feriados de 14h às 19h.
Entrada Franca