No ano em que se celebra 120 anos do nascimento do artista, galeria reúne quase uma centena de obras, algumas nunca antes exibidas ao público
A partir de 25 de março, será possível ver mais de noventa obras do grande artista brasileiro Candido Portinari (1903 – 1962). Com a mostra Candido Portinari – No círculo de luz. Na asa do Sol e sob a curadoria de Jacob Klintowitz, a Galeria Frente trará ao público, após mais de sete anos da última mostra sobre o artista em galeria – as mais recentes foram no CCBB do Rio de Janeiro com a mostra “Raros” em 2022 e a exposição “Portinari para Todos” também em 2022 no MIS Experience em São Paulo –, uma série de importantes trabalhos de Portinari, que pintou mais de cinco mil obras ao longo de sua produção artística. Para a exposição, uma seleção minuciosa de criações, algumas nunca antes exibidas, e outras que participaram de exposições no mundo todo, além de estudos dos painéis do Palácio Gustavo Capanema no Rio de Janeiro e outros que foram feitos para o gigantesco painel “Guerra e Paz” que está na ONU, em Nova York.
Jacob Klintowitz conta que a escolha das obras para essa mostra, partiu de dois pontos relevantes.
“O primeiro é a qualidade estética, formal, significativa do ponto de vista da linguagem e do ponto de vista social. O pioneirismo histórico na representação do negro e do mulato na vida do país. O segundo ponto, sem esquecer o cuidado formal, é a importância da obra no percurso do artista, o que ela representa de marco no desenvolvimento do seu trabalho e, também, o que ela representa na história social do país, com a interpretação de acontecimentos importantes. Não podemos esquecer que Portinari refez a interpretação visual da história pátria.”
Jacob destaca que como todo artista de grande porte, como Portinari assim o é, há uma produção “complexa e multiforme” e pontua que “cada uma das obras escolhidas é, em si mesmo, significativa.”
Confira algumas das obras da exposição
Entre os trabalhos que serão apresentados, o curador destaca alguns.
“A tela ‘Menino’, por sua exemplaridade, é uma pintura extraordinária. Os seus contrastes cromáticos são sinfônicos. A figuração é comovente, pois a figura de primeiro plano dialoga com o fundo, de natureza vertical. Ele é solitário, único, mas está integrado no universo. É obra de um mestre. A obra ‘Bailarina Carajá’, uma pintura sobre madeira de 165 x 114 cm, com a sua estrutura geométrica de formas que se expandem, com o desenho recorrente da geometria indígena, antecipa o tempo histórico. Hoje o cuidado com a cultura dos povos originários é uma preocupação universal. Portinari nos antecipa. A pintura é de um impacto visual extraordinário e de uma beleza oculta que se revela ao olhar que se demora. É um diálogo com a nossa alma. É uma pintura que reverbera como um clássico, alguma coisa que vem do mundo das ideias perfeitas”, pontua Jacob.
Retirado, com uma pequena modificação, de um poema escrito pelo artista em 1 de novembro de 1961, pouco antes de seu falecimento em 6 de fevereiro de 1962, o título da mostra é revelador, segundo o curador.
“Este poema é extraordinário, talvez o melhor que Portinari escreveu e, isto em minha opinião é certo, o mais revelador. Portinari narra a sua frustração em não ter conseguido ver o ‘Cristo’, de Grünewald, em Colma, França. O museu estava fechando e ele contemplou o ‘Cristo’ por uma porta que se fechava. Conta de seu amor ao artista, descreve que estava morrendo e seria, portanto, uma despedida. E ao contar da sua contemplação, do seu diálogo com o artista ausente, ele descreve a sua própria percepção, descreve o seu indomável espírito diante das dificuldades. Ao se despedir do artista-símbolo, ele, na verdade, revela o seu modo de apreensão do mundo. Ele nos diz, sem ter essa pretensão, como o artista Portinari se relaciona com o mundo, o ser e a luz do mundo. E ele nos diz que de um buraco de luz observa a obra magna do artista e como a vê, numa asa do sol, como a percebe luminosa. Este título é um retrato do Portinari secreto.”
João Candido Portinari, filho do artista, fundador e Diretor-Geral do Projeto Portinari, cujas principais atribuições estão em fazer um resgate sistemático e minucioso sobre a vida e obra do pintor, bem como da época em que viveu, exibe sua gratidão ao momento. Em suas palavras:
“Tenho certeza de que será um dos pontos altos das ações e eventos comemorativos dos 120 anos do nascimento de Portinari.” O Projeto Portinari, além de colocar a obra do artista a serviço da tarefa maior de busca da nossa identidade cultural e preservação da memória nacional, busca contribuir para uma ação sociocultural ampla, pensada para uma melhor compreensão do processo histórico-cultural brasileiro.
Nascido numa fazenda de café na cidade de Brodowski, interior de São Paulo, o filho de imigrantes italianos, Candido Portinari, é um dos artistas brasileiros mais importantes e emblemáticos no cenário das artes no Brasil. Para Acácio Lisboa, à frente da galeria, “é uma chance para quem conhece rever e para quem não conhece ter a experiência pela primeira vez e, além disso, é a grande oportunidade em poder oferecer no mercado obras que não estavam disponíveis há muitos anos.” Jacob Klintowitz, faz coro à fala de Acácio.
“É o momento de novamente pensar em Candido Portinari, na grandeza da arte e na sua capacidade de nos tornar mais humanos, de conformar o nosso psiquismo. E refletir no mistério da cultura e de sua capacidade de nos elevar ao prazer da forma, nos elevar na sublimidade do conceito, nos elevar e alargar a nossa imaginação, mas a minha expectativa é maior do que tudo isto: é viver plenamente doces dias dourados, pois em contato com o magnífico, a arte que o ser humano é capaz de inventar.”
Obras em destaque
Além da obra “O Menino” já citada pelo curador como um dos grandes destaques, vale ainda ressaltar que se trata de um desdobramento do painel Guerra, parte do projeto “Guerra e Paz”. Composta por dois grandes painéis, com aproximadamente 14×10 metros cada um, foram pintados entre 1952 e 1956: uma encomenda do então Presidente da República, Juscelino Kubitschek para presentear a sede das Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York.
Outra obra que faz parte dessa mostra na Galeria Frente e merece atenção, é “Roda Infantil” (1932). Com 40 x 47 cm, a obra – um óleo sobre tela – participou das exposições individuais: Portinari, Palace Hotel, Rio de Janeiro, 1932. Portinari, Palace Hotel, Rio de Janeiro, 1933. Um pintor, um tempo, uma nação. Câmara dos Deputados. Brasília, 2001. No ateliê de Portinari: 1920-1945. MAM-SP, 2011. Portinari Popular, MASP, 2016.
SERVIÇO
Exposição CANDIDO PORTINARI: NO CÍRCULO DE LUZ. NA ASA DO SOL.
- Abertura: 25 de março
- Horário da abertura: das 10h às 18h
- Local: Galeria Frente
- Endereço: R. Dr. Melo Alves, 400 – Cerqueira César, São Paulo – SP
- Período expositivo: 25 de março a 06 de maio de 2023
- Horário de funcionamento: segunda à sexta-feira das 10 às 18h e aos sábados das 10 às 14h | Fecha aos domingos e feriados