A vida artística de Hilma af Klint (1862-1944) deveria dar um filme. Não por uma vida cheia de aventuras ou peripécias, muito pelo contrário. O que a torna fascinante é principalmente, a maneira como seus trabalhos chegaram até nós, viventes do séc. XXI e a temática deles, que ainda intriga os amantes das artes visuais.
Ao falecer, Hilma deixou instruções a seu sobrinho Eric af Klint para que as pinturas fossem vistas somente depois de 20 anos de sua morte. Somente no final dos anos 60 as obras foram desencaixotadas (elas estavam em um sótão que recebia temperaturas de 30ºC no verão a –15ºC no inverno !!!! ) pela família. Hoje estas obras estão sob os auspícios da Fundação Hilma af Klint, criada em 1972 na Suécia, e viajam o mundo. No começo do mês, chegou a vez de São Paulo admirar a pintora e seu trabalho. “Hilma af Klint: Mundos Possíveis” está sendo exibida na Pinacoteca e vai até julho deste ano.
A artista sueca está sendo descoberta aos poucos. A primeira aparição pública das pinturas foi em 1986 no County Museum of Art de Los Angeles. A partir de 2005, seus trabalhos foram mostrados em vários museus ao redor do mundo, como o George Pompidou em Paris e em exposições de arte a exemplo da Bienal de Veneza. Ela tem sido apresentada como pintora precursora da arte abstrata, anos antes (1906) dos ícones abstracionistas Kandinsky e Mondrian.
Ao entrar nas primeiras salas de exposições da Pinacoteca e ver pela 1ª vez a obra de Hilma – no caso, as dez enormes telas da série “As 10 Maiores” – tem-se a impressão que estamos entrando em lugar estranho. E é exatamente este estranhamento que nos coloca diante das tela (medem em torno de 3m x 2 m) e passamos um bom tempo tentando compreender o sentido da obra. São, essencialmente, desenhos orgânicos nesta primeira fase do trabalho da artista: formas florais que se encadeiam dentro de círculos e espirais que parecem letras. O mesmo estranhamento nos acompanha nas outras salas onde outros trabalhos – desenhos, aquarelas, pinturas – estão expostos. Vai-se percebendo que existem mudanças nas técnicas de execução. Os trabalhos vão se tornando mais geométricos e as cores, mais contrastantes e escuras, aparecem mais no lugar daquelas mais suaves e harmoniosas mostradas no início. Parece que há uma evolução na arte de Hilma, traduzindo seu amadurecimento. A temática, apesar de variações, permeia sempre a sua obra: o místico.
Além de pintura e desenhos, a artista sueca deixou 125 cadernos de anotações, onde registrava pensamentos, ideias e impressões sobre o que fazia. Graças a este sistemático registro, o mundo acadêmico vem se debruçando sobre ele e estudos estão sendo feitos para entender a complexidade do trabalho de Hilma.
A exposição conta com informações em inglês e brevemente lançará um catálogo das obras expostas. São Paulo é a primeira cidade latino-americana a receber a arte de Hilma. Depois, a exposição segue para o Guggenheim em Nova York.
SERVIÇO
- Onde ? Pina Luz – Praça da Luz, 02 – estação Luz da CPTM e do metrô (linha 1, azul e linha 4, amarela)
- Quando ? até 16.03.2018, de 4ª. a 2ª. das 10h00 às 17h30 – com permanência até às 18h00
- Quanto ? R$ 6 (inteira) e R$ 3 (meia); sáb.: entrada gratuita
- Site: pode-se ver mais obras da artista em (inglês): https://www.hilmaafklint.se/hilma-af-klint-foundation/