[Parte 2. Veja a primeira matéria sobre a origem do Mangá clicando aqui]
Mangaká – Osamu Tezuka
É na década de 1940 que surge o mangaká mais famoso do mundo, Osamu Tezuka. Ele foi responsável por criar o estilo utilizado pelos mangakás até hoje. Tezuka modificou a estrutura física do traço do mangá, as questões narrativas e principalmente o método de produção. Ele dedicou 40 anos de vida a essa arte. As principais marcas do o que é conhecido atualmente como estilo mangá, foi criado pelo artista.
Tezuka sofreu grande influência das obras de Walt Disney e do cinema francês e alemão. Essas referências resultaram: nos efeitos cinematográficos, no enquadramento das imagens, proporção caucasiana dos personagens, além de corpos altos e esguios.
As personagens femininas de Tezuka possuíam olhos grandes e expressivos. Esses olhos grandes foram influência do teatro Takarazuka. Companhia de teatro composto apenas por mulheres. Durante a peça, por causa holofotes e também da forte maquiagem os olhos das atrizes parecem maiores e brilhantes.
A importância de Osamu Tezuka não se restringe a arte, pois ele criou o sistema de produção utilizado pelos mangakás até hoje. O sistema consiste em contratar assistentes para auxiliar nas partes práticas como colar retículas, adicionar os detalhes, como cenários e escurecimento das partes necessárias. Com os assistentes o mangaká se concentra na parte criativa, a criação da história, a distribuição por página, além de desenhar as partes principais, personagens e a parte central da cena.
A produção dos mangás, pode ser comparado ao sistema industrial fordista onde cada empregado possui uma função pré-determinada para a produção de um produto final. O Mangaká funciona como criador e líder e cada assistente fica responsável por uma etapa do projeto.
Seu primeiro trabalho foi à obra Shintakarajima (A nova ilha do tesouro) numa revista de Osaka em 1941. Após o lançamento dessa obra, Tezuka foi contratado para trabalhar simultaneamente na Manga Shonnem e a Shonnem onde publicou novas histórias.
Por esses feitos que ele foi reconhecido em vida como manga no Kamisama (Deus do mangá). Esse “deus” criou personagens que ficaram conhecidos no mundo inteiro, como: Kimba, o leão branco – Jungle Taitel. A princesa e o cavalheiro – Ribbon no Kishi, Astro boy– Atomu Taishou.
Público jovem feminino
Uma de suas grandes contribuições para os mangás está ligada a sua obra Ribbon no Kishi. Essa foi à primeira obra que vira série para o público jovem feminino. Antes os mangás voltados para garotas eram compostos apenas de histórias curtas. Essa obra traz todos os traços que se tornariam clássico dos shojos. Além de ser o mangá, mas antigo com o tema de gender blender (é quando um homem ou mulher passa-se pelo sexo oposto. Nessa história vemos a protagonista Safire, uma princesa que para manter o trono e a paz em seu reino precisa passar por homem. Graças a essa obra Tezuka também é reconhecido entre os fãs como “pai” do mangá shojo. As obras do gênero gender blender são muito comuns até hoje.
Um mangá nesse estilo é Ouran koukou host club de Bisco Hattori.
Esse grande artista também criou seu próprio estúdio de animações o Mushi Produções, transformando a maioria de seus mangás em animações (animes). Com isso cria a relação mangá/anime que mantém-se até a atualidade. O anime é utilizado até hoje para expandir a popularização dos mangás e aumentar a tiragem de venda das revistas. O estúdio chegou a ir à falência, ressurgindo como Tezuka production que atua até hoje.
Pequenas editoras de mangás – As mulheres chegam as redações
Durante a década de 1950 as pequenas editoras de mangás que estavam espalhadas pelo país, começaram a se concentrar em Tóquio. Assim, em 1960, a maioria das editoras encontrava-se em Tóquio. A cidade ficou conhecida como “A Meca dos mangás”. A imigração das editoras ocorre por causa do crescimento da tiragem dos mangás ainda na década de 1950. Nessa época já existia as grossas revistas de mangás com várias histórias. Elas eram todas em preto e branco, com a popularização do mangá essas revistas começaram a ganhar artigos extras e páginas coloridas. É nessa época que surgem também, as revistas quinzenais e semanais.
Nesse mesmo período as mulheres chegam às redações. Tanto como Mangakás como na equipe de editoração. Com isso as revistas femininas passam a ser na grande maioria feita e consumidas por mulheres. Antes de 1960 a equipe editorial era quase toda masculina, mesmo nas revistas femininas. O crescimento dessas revistas femininas faz surgir um “universo feminino” nos mangás shojos. Assim, cria-se a segregação Shojo X Shonen , onde meninos não deveriam ler as mesma revistas das menina e visse e versa. Hoje em dia com as modificações de comportamento, movimentos sociais e o mais importante, para melhorar a tiragem de vendas (lembrando que o mangá é uma indústria que rende milhões ao PIB japonês), essa segregação está se extinguindo, tornando-se mais uma separação de enredo e temática das histórias.
Essa separação de universo distinto por gênero ocorre desde a antiguidade. Essa separação começou durante o período Nara em 710 a 794 D.C. quando os homens sobem ao poder de imperador e o confucionismo começa ganhar força no Japão. As mulheres vão perdendo a sua força política gradativamente até tornarem-se apenas donas do lar, e serem totalmente segregada da política e da economia japonesa. Com isso elas começam a criar seus próprios hábitos e artes, seus próprios costumes, regras e até vocabulário, criando inclusive sua própria escrita, o Hiragana. Essa forma de agir foi passada para as revistas femininas.
Relação anime/mangá
Nos anos 1990 há um incremento da relação anime/mangá criada por Tezuka. Os mangás e animes são fortemente vinculadas a outras mídias. São essas: filmes; dramas, novelas asiáticas; live – action, séries baseadas em mangás e animes; vomix, animes promocionais vendidos juntos com os mangás da série, entre muitas outras formas.
Produtos – Cadernos, alimentos, action figures, etc.
As action figures, escultura e bonecos articulados, e brinquedos são os ainda mais populares, assim sendo vendidos em várias partes do mundo, inclusive no Brasil. Com isso fortalece a indústria dos mangás, que saem das páginas de papel para outros produtos, sendo produzidos alimentos, cadernos e outros objetos vinculados ao mangás. O Licenciamento de produtos torna-se intrínseco a indústria dos mangás.
Amantes da cultura japonesa
Através desses vários meios que os mangás e animes ganham uma grande projeção no mundo. Fazendo surgir tribos de amantes da cultura japonesa em várias partes do globo. Editoras pelo mundo todo compram os direitos autorais e publicam em seus respectivos países. Assim, eles começam a trazerem os títulos antigos e os novos sucessos como Blood Lad, Kimi ni Todoke entre outros.
Como exposto a cima a segmentação dos magás por faixa etária e gênero foram construídos para facilitar a vendagem, além de determinar os assuntos e abordagens que poderiam ser feitos em cada segmento.
O segmento Kodomo (voltado para crianças de 6 a 12 anos) é um dos que está mais ligado ao licenciamento de produtos, desde alimentícios a brinquedos. Uma das empresas japonesas especializadas nesse segmento é a Bandai e a Toei animation. Responsável pela a produção de mangás, animes, livros e brinquedos. A empresa o responsável pela popularização de mangás pelo mundo como Sailor Moon, Dragon Ball e Pokemon.
Assim, mangá é uma manifestação artística de seus criadores, mas também é um dos principais produtos e produção de empregos no Japão. A geração de rendas produzidas pela indústria do mangá, é um dos principais responsáveis pelo PIB japonês.
Sendo fonte de entretenimento e geração de empregos.
Até a próxima matéria pessoal !!!
Fontes :
- CARLOS, Giovana Santana. Dissertação: O(s) Fã(s) da cultura pop japonesa e a prática de Scalation no Brasil:Paraná: Uni. Tuiti do Paraná, 2011.
- GRAVETT, Paul. Mangá: como o Japão reinventou os quadrinhos. São Paulo: Conrad Editora, 2006.
- LUYTEN, Sônia Bibe (org.), Cultura pop japonesa: Mangá e Anime, São Paulo: Hedra, 2005.
- _________. Panorama do mangá no Brasil. ELÍSIO DOS SANTOS, Roberto; VERGUEIRO, Waldomiro (org.). A história em quadrinhos no Brasil: Análise, Evolução e Mercado. São Paulo: editora Laços, 2011.
- ______. Mangá: O poder dos quadrinhos japoneses. São Paulo: Hedra,2011. (a)
- ______. O panorama do mangá no Brasil. In: VERGUEIRO, Waldomiro; SANTOS, Roberto Elísio dos.(org.) A história em Quadrinhos no Brasil: Análise, evolução e Mercado. São Paulo: Laços, 2011.(b)
- _________, Identidade(s) no consumo da cultura pop japonesa. Universidade Federal de Juiz de fora/ UFJF, Revista do programa de pós-graduação em comunicação: LUMINA.