Uma dica para aqueles que forem assistir a “Batman“, que estreou nesta semana nos cinemas brasileiros: não compare esse novo filme com outras obras cinematográficas já feitas sobre o Cavaleiro das Trevas.
Essa nova adaptação, comandada por Matt Reeves (“Cloverfield: Monstro” & “Planeta dos Macacos: A Guerra”), tem um estilo bem diferente do que já foi feito no passado sobre o personagem, trazendo um filme bem investigativo, utilizando diversos elementos do gênero Noir: a voz in off do protagonista utilizada no início do filme, o tom obscuro e sombrio que domina o ambiente, a fotografia escura, com luzes em néon, tudo combina perfeitamente com a proposta do diretor nessa nova adaptação, que utiliza diversas referências a várias HQs do Batman, como “O Longo Dia das Bruxas” e até mesmo “Flashpoint”.
Quem consome as histórias do morcego nessas mídias vai captar melhor as referências colocadas no filme. Mas mesmo aqueles que nunca leram alguma HQ do personagem da DC Comic não terão a experiência de acompanhar essa nova história do Batman comprometida em nada.
Entretanto, esse novo estilo que o diretor trouxe das HQs para o cinema pode fazer o público estranhar no início, pois, apesar da abordagem combinar perfeitamente com o personagem e a forma como ele é desenvolvido, o ritmo é bem suave e sem muita agitação. Mas, quando a história precisa de um pouco mais de ação, o diretor não decepciona, trazendo ótimas cenas de perseguição, com destaque à perseguição empolgante e frenética do Bat-Movel, um dos momentos mais marcantes do filme.
A parte técnica, como citado antes, contribui para a criação não só do tom do filme, mas, também, para dar mais identidade visual e memorável para que essa nova história do Batman se diferencie de outros filmes feitos anteriormente, como os de Tim Burton ou até mesmo de Christopher Nolan, tornando esse novo filme uma obra única desse universo até então. Em diversos momentos, a fotografia consegue criar um visual que magnifica a presença do Batman.
Outro recurso técnico que merece ser destacado é a trilha sonora composta por Michael Giacchino, que ajuda a enaltecer e a realçar o clima tenso, frenético e sombrio em várias cenas, ou até mesmo provocar algo mais dramático, auxiliando muito a criar um clímax que cada cena precisa.
Os figurinos resultam de um trabalho bem minucioso: trajes que combinam exatamente com a funcionalidade e necessidades de cada personagem. Batman usa uma vestimenta pesada e resistente a balas, porém dá certa agilidade para combates corpo a corpo. O figurino da Mulher-Gato utiliza algo bem mais leve e prático para que ela mantenha total movimentação e flexibilidade de seu corpo. O visual do Charada é composto por uma roupa que cobre totalmente seu corpo e rosto, para esconder sua identidade, além de provocar medo por sua aparência única e misteriosa, claramente inspirada no assassino do zodíaco.
A maquiagem é funcional, sem grandes exageros, em boa parte dos personagens, com exceção do Pinguim, que deixou o ator Colin Farrell irreconhecível, mantendo boa parte das características físicas do icônico vilão, mas sem deixá-lo extravagante demais como o Pinguim de Danny DeVito de “Batman o Retorno”, dirigido por Tim Burton.
O roteiro é muito bem desenvolvido, a trama envolve um grande esquema de corrupção e mentiras que domina Gotham e que, aos poucos, é colocado à tona, através das atitudes psicopáticas do Charada. A cada nova vítima, a cada nova charada criada, ele envolve mais e mais o protagonista, chegando a um ponto que faz Bruce Wayne se questionar sobre o que realmente o motiva a ser o Batman.
Uma das poucas falhas do roteiro é o modo como certas situações são criadas para avançar a história no primeiro ato, como o caso de decifrar os códigos deixados pelo Charada, facilmente resolvidos num período curto de tempo em tela, sem aprofundar-se demais como os personagens chegaram a essa conclusão.
Apesar de apresentar três vilões, o roteiro não faz com que se juntem por uma causa única, como dominar a cidade e destruir o Batman, como visto várias vezes em diversos outros filmes de super-heróis. Cada um deles tem suas próprias motivações e seguem seus próprios caminhos. Mesmo assim, querendo ou não, suas trajetórias acabam se cruzando.
O grande vilão, entretanto, é o Charada (Paul Dano) que, por conta de suas atitudes, ao querer desmascarar as mentiras que envolvem os políticos e a polícia de Gotham, espalha o terror e a anarquia pela cidade. E algo o motiva, de fato, a querer expor essa rede de mentiras envolvendo os grandes magnatas poderosos de Gotham.
Sobre os outros antagonistas, Pinguim é apenas um grande nome conhecido da máfia de Gotham City, com os negócios afetados por essa rede de mentiras, e a Mulher-Gato (Zoë Kravitz) é colocada mais como uma anti-heroína do que como uma vilã de fato, já que sua motivação é mais simples e compreensível, estando disposta a fazer o que for preciso para ter o que quer.
Finalmente sobre o Batman em si, Robert Pattinson tem uma ótima performance interpretando o morcego de uma forma mais violenta e vingativa, que funciona e acaba combinando com o estilo de detetive vigilante da noite. Porém, como Bruce Wayne, não tem aquele carisma de rico filantropo que esbanja sua reputação de grande magnata somente através de sua pose e vestimenta. É frio e sem muitas expressões; praticamente o Batman sem o uniforme de morcego. Mas, raramente, vê-se Pattinson como Bruce no filme.
A forma como a direção apresenta o Batman de Pattinson é brilhante, mostrando o grande número de atos criminosos e violentos que dominam as ruas de Gotham. Além disso, sempre é mostrado algum canto escuro habitado somente por sombras, junto com o bat-sinal nos céus, sugerindo que Batman pode estar em algum desses lugares, não se sabendo onde nem quando ele poderá surgir dessas sombras, estabelecendo sua presença, mesmo ele não estando lá, o que provoca medo nos criminosos.
Confira o Trailer
“Batman“, assim como o filme “Coringa”, traz uma nova perspectiva ao personagem, apostando menos na ação e mais na investigação. Mesmo tendo um ritmo um pouco mais devagar em comparação às obras passadas, tem um timing perfeito, que não apressa ou alonga demais, com a direção sempre sabendo o momento exato de encaixar cada peça para montar essa história complexa, porém compreensível.
NOTA: 9
BRUNO MARTUCI
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