A coreógrafa Deborah Colker estava, desde 2017, estudando e preparando o novo espetáculo de sua companhia de dança, “Cura”, que estrearia em 2020, em Londres. Por conta da pandemia, o projeto precisou ser adiado e acabou ganhando mais um ano de pesquisas, transformações e reflexões. Agora, “Cura” estreia hoje, 06/10, na Cidades das Artes, no Rio de Janeiro, onde fica em temporada até 31 de outubro, e depois segue para São Paulo.
O trabalho nasceu a partir da angústia vivida por Deborah na busca por uma cura para a doença genética de seu neto, a epidermólise bolhosa. Além disso, outro fato ajudou na concepção da obra: a morte de Stephen Hawking. Embora acometido por uma doença degenerativa, a ELA (Esclerose lateral amiotrófica), o cientista britânico viveu até os 76 anos e se tornou um dos nomes mais importantes da história da física. Deborah percebeu que há outras formas de cura além das que a medicina possibilita.
“Quando foi diagnosticado, os médicos deram a Hawking três anos de vida. Ele viveu mais 50, criativos e iluminados. Entendi o que é a cura do que não tem cura”, conta.
“Cura” trata de ciência, fé, da luta para superar e aceitar nossos limites, do enfrentamento da discriminação e do preconceito. A dramaturgia é do rabino Nilton Bonder e a trilha original é de Carlinhos Brown.
No palco, são retratadas algumas dores, mas há esperança no final. Ela diz que procurou preservar a alegria necessária à vida. Um ingrediente para isso foi a semana que passou em Moçambique durante a preparação, quando conheceu pessoas que não perdiam a vontade de viver, apesar das muitas dificuldades:
“Fui procurar a cura e encontrei a alegria”.
Deborah incorporou ao espetáculo referências das três religiões monoteístas e elementos de culturas africanas, indígenas e orientais. Logo no início, conta-se a história de Obaluaê, orixá das doenças e das curas.
“A ponte entre fé e ciência me ajudou muito. Fui experimentar o invisível, a sabedoria do invisível”, diz.
Carlinhos Brown foi convidado, inicialmente, para compor apenas o tema de Obaluê. Acabou criando praticamente toda a trilha, inclusive a canção inicial, dos versos “Traga meu sorriso para dentro” e “Sou mais forte do que a minha dor”.
“A música veio na minha cabeça logo depois da primeira conversa com Deborah. Eu pensei: ‘Isso é um chamado, não é uma trilha normal’. É um trabalho muito mais profundo do que ‘Carlinhos está fazendo uma trilha’ “, revela o músico.
Ele canta em português, ioruba e até em aramaico. Os 13 bailarinos também cantam, em hebraico e em línguas africanas. É algo que acontece pela primeira vez nos 27 anos de história da companhia.
CONFIRA ALGUMAS IMAGENS DO ESPETÁCULO:
Fundador da companhia ao lado de Deborah, o diretor executivo João Elias vê em “Cura” um passo ainda maior que o dado pela coreógrafa no trabalho anterior, “Cão sem plumas” (2017), baseado no poema de João Cabral de Melo Neto. “Quando começou a coreografar, Deborah era mais abstrata, formal. Depois, passou a contar histórias, aprimorar dramaturgias. “Cão sem plumas” já era um espetáculo visceral, emocionante. “Cura” é ainda mais, mostra um grande amadurecimento” – analisa ele.
SERVIÇO
‘CURA’
Cidade das Artes, de 06 a 31 de outubro
Av das Américas, 5.300 – Barra da Tijuca
Quarta, quinta, sexta e sábado às 21h. Domingo 18h
Duração 75 minutos
Classificação Livre
BILHETERIA
*Os ingressos também são vendidos on-line pelo site/app da Sympla ou pelo totem que se encontra no teatro.
Telefone: (21) 3325-0102
Plateia – R$ 180,00
Camarote 1 e 2 – R$ 140,00
Frisa Lateral 3, Camarotes 7 e 8 e Galeria Baixa– R$ 120,00
Frisa Lateral 1 e 2, Camarote 6 e Galeria Alta – R$ 50,00