Investimentos Estrangeiros: Novo texto da economista Virene Matesco sobre os investimentos estrangeiros. Umas empresas partem, outras perseveram.

 

Os fluxos mundiais de investimentos diretos estrangeiros (IDE) caíram 42%, de US$ 1,5 trilhão em 2019 para US$ 859 bilhões em 2020. Segundo o relatório anual da UNCTAD nos países desenvolvidos a queda foi intensa (-69%) com destaque para os EUA, em -49%.

As economias em desenvolvimento absorveram 72% dos fluxos totais de IDE (US$ 616 bilhões) e a queda foi de apenas -12%. Em termos regionais a redução dos investimentos estrangeiros foi bem desigual. Na America Latina e Caribe a queda foi bem forte, de -37%, ante -18% na África e de apenas -4% na Ásia. No ano passado, a China foi o maior absorvedor mundial de IDE, com fluxos positivos de US$ 163 bilhões, o que representou acréscimo de 4%, em relação ao ano anterior.

Em 2020, o Brasil registrou queda de 43% nos fluxos de entrada, perfazendo US$ 34 bilhões, comparados a 2019. Somos tradicionalmente o maior receptor de IDE da América Latina, contudo, o país vem perdendo posições no ranking mundial. Em 2017 com US$ 63 bilhões ingressados o país ficou na 4ª posição, caindo para 7ª no último ano.

Além do forte recuo nos fluxos ingressados, nos últimos trimestres o Brasil vem sofrendo saídas significativas de empresas estrangeiras instaladas em seu território. O capital mais cobiçado do mundo está desistindo de permanecer entre nós e rumando para outros países. Vários ramos setoriais vêm sentindo a saída das estrangeiras. Destaco: automobilístico, eletrônico, celulares, farmacêutico e cimenteiro.

A decisão empresarial de deixar um país é bem significativa e altamente complexa, representando em última instância falta de oportunidades e de baixo potencial de retorno de longo prazo. Para nós, tais decisões representam perdas inestimáveis na geração de riqueza, absorção e difusão de tecnologias, capacidade exportadora e de manutenção e criação de excelentes postos de trabalho.

Para não concluir de maneira sombria em nosso território temos empresas que não desistem, perseveram e que vêem os tempos difíceis como “mais uma de muitas crises já enfrentadas”. Marcus Lopes no Valor Econômico de 14 de maio último denominou-as de “Navegantes da Turbulência”. Para as centenárias Laticínios Aviação (1920), Droga Raia (1905) – hoje RaiaDrogasil -, Granado Pharmácias (1870) e Lupo (1921) e, talvez, algumas outras a longevidade exige capacidade de se reinventar, apostar na inovação e diversificação, desenvolver memória institucional para escolher as melhores estratégias de sobrevivência com crescimento. Isto denota que coragem e esperança devem ser as aliadas de pessoas físicas e jurídicas.

VIRENE MATESCO

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EMPRESÁRIA E INVESTIDORA-ANJO. DIRETORA-PRESIDENTE DA MATESCO & LOPES CONSULTORIA. PROFESSORA DA FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS (FGV-MANAGEMENT), DESDE 1997. ELEITA, POR TRES ANOS CONSECUTIVOS A MELHOR PROFESSORA DE ECONOMIA DO FGV/MANAGEMENT E TOP 16 NO RANKING NACIONAL. GANHADORA DE QUARENTA E UM (41) PRÊMIOS DE DESTAQUE ACADÊMICO PELA FGV.

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