Analógico Lógico: A Trip

A Olympus Trip 35. Foto: Reprodução Internet

“Viajar é lei do mundo! Viajar é lei do universo! Então viaja amigo(a) querido(a), pois foi viajando que fiz esse verso!”

Expropriando para o povo esse singelo versinho de porta de botequim levemente adulterado (o versinho, não o botequim), eis que inicio essa minha viagem semanal (sem trocadilhos) vagando e divagando sobre uma das câmeras mais icônicas dos áureos anos 1970 e uns trocados: a Olympus Trip 35.

Quando me perguntam o que penso da máquina, eis que respondo que a odeio, embora a ame. Antes que vosmecês pensem que estou viajando (com trocadilhos), responder-vos-ei que, dois pontos: a odeio por ser limitada para o meu estilo de fotografia, em que gosto de ter controle absoluto sobre a máquina e a lente, algo que nem nos sonhos mais lascivos a Trip 35 é capaz de oferecer pois, sendo ela basicamente uma point n’ shoot, controlada por uma célula de selênio temperamental e malvada que, gerenciando a abertura e as duas únicas velocidades possíveis de 1/40seg OU 1/200seg (uau!), decide o quê E se irá bater (ou não). Ou seja, o inferno na Terra para o fotógrafo analógico curtidor de suas habilidades que muito se parecem a uma seita secreta aos adeptos das facilidades digitais. Enfim…

Eis que por outro lado a amo de paixão, pois, deixando minhas preferências de lado, é uma câmera compacta e leve, porém, extremamente sólida nas mãos, muito bem projetada e que serviu maravilhosamente bem para famílias desprovidas de fotógrafos ou pessoas comuns que apenas queriam uma câmera para sair por aí e… Fotografar! Fosse o batizado do herdeiro, o aniversário de papi e mami, as férias em Lambari, a primeira comunhão do filho do meio ou o passeio de domingo num Aterro sem árvores ou grama e repleto de buracos, quem lembra? Quem teve uma Olympus Trip 35 se lembra! E quando tira de dentro do armário seus antigos álbuns Kasuga, ao virar as páginas, se recorda de quando era feliz e não sabia.

Então esse é o motivo dessa minha bipolaridade em relação à Trip 35 (a outra eu resolvo com Prozac). Ao mesmo tempo em que era, de fato, uma câmera extremamente básica para fotógrafos que procuravam ou precisavam de um “quê” a mais, para pessoas que apenas queriam registrar o momento era uma excelente opção, pois vindo com lentes Zuiko de 40mm e f/2.8, razoavelmente amplas e claras para a maior parte das situações cotidianas, usando-se filmes de ASA 400 se podia ter uma determinada certeza de que sairia a foto da festa das crianças ou aquele piquenique em Paquetá, já que o fotômetro de célula de selênio conseguia ser irritantemente bom nesse aspecto, devendo-se, entretanto, tomar o cuidado de sempre deixar a lente tampada pois o selênio se desgasta com a exposição prolongada à luz, como aquelas bolinhas de naftalina, que evaporam, saca? E se isso acontecesse a câmera não funcionaria corretamente.

Então, dessa forma, não sei qual é a trip de vocês mas, salvo propina em dinheiro, ameaças de morte, chantagem política, favorecimento pessoal ou propostas amorosas eu não mudo minha opinião por NADA! E digo e repito: A Trip 35?! Odeio! Amo! Odeio! Amo! Odeio! Amo! Odeio!…

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Author

Vitor Oliveira é dono de uma visão poética sobre a vida e o mundo que o permeia. Fotógrafo experiente e autodidata, fotografa desde os 10 anos de idade influenciado por seu avô, o pintor paisagista Altamiro Oliveira, de quem, além da pintura clássica, o influenciou no desenho e na literatura, arte que exerce escrevendo romances ambientados no submundo de uma São Sebastião do Rio de Janeiro do final do Séc XIX e começo do Séc XX que não mais existe. Pesquisador de métodos, técnicas e equipamentos fotográficos e colecionador, Vitor Oliveira fotografa principalmente em película, por considerar que, após quase 200 anos de evolução desta forma de arte, esta ainda oferece os melhores resultados, ao depurar a técnica artística, quase que alquimicamente. Sendo um dos únicos fotógrafos de nível mundial a participar, usando filme, no maior concurso fotográfico do mundo, o Sony World Photography Awards, da World Photography Organization, Vitor Oliveira inaugura seu Canal Analógico Lógico!, no YouTube, através do qual procura compartilhar um pouco de uma aprendizagem que nunca finda. Hare Hare! Canal Analógico Lógico! : https://youtube.com/channel/UCom1NVVBUDI2AMxfk3q8CpA Video de abertura: https://youtu.be/N_cuYPi6b4M

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