A música “Pesadelo” faz parte do novo álbum, Samba de Guerrilha, que chegará repleto de clássicos da MPB na quarta-feira de cinzas
Depois do sucesso do clipe de animação Almirante Negro (O Mestre-Sala dos Mares), o cantor e compositor Luca Argel segue com mais um lançamento antes da chegada do novo álbum Samba de Guerrilha. Desta vez, o videoclipe, gravado na Espanha, ilustra a canção Pesadelo.
Imagens do clipe
A música é um clássico de Paulo César Pinheiro e Maurício Tapajós, que tornou-se o hino da Guerrilha do Araguaia, durante a ditadura da década de 70. O lançamento será no dia 15 de janeiro, no Canal do Luca Argel no Youtube.com.
Durante os anos sombrios da ditadura militar brasileira, a censura era prática comum, na tentativa de amordaçar qualquer expressão de pensamento contrário ao regime.
“Um dos compositores mais visados pelos censores era Paulo César Pinheiro, cujas letras eram constantemente vetadas”, explica Luca, contando a história sobre a criação da música. “Um dia ele cansou e resolveu ‘chutar o balde’. Sendo assim, propôs a Maurício Tapajós que criassem uma canção em que pudessem dizer exatamente o que pensavam, sem rodeios”.
Assim surgiu Pesadelo, gravada originalmente pelo MPB-4. Mesmo tendo tido a sorte de escapar do corte dos censores, por pura distração, num primeiro momento, poucas rádios tiveram a coragem de tocá-la. Isso porque o teor era claramente desafiador à ditadura. No entanto, o breve acesso que se teve à música, na época, foi o suficiente para que ela chegasse aos confins do país e se tornasse o hino da Guerrilha do Araguaia, em plena selva amazônica.
Os poucos guerrilheiros que sobreviveram a essa tentativa de revolução socialista a partir do interior do Brasil contam que costumavam cantar essa música para levantar os ânimos.
Videoclipe foi gravado na Espanha
Pesadelo é a segunda revelação do novo álbum de Luca Argel, um projeto que visa a recuperar um repertório de sambas que contam histórias de resistência política. O clima de clandestinidade, linguagem de códigos e mensagens cifradas, que se infiltra secretamente por uma sociedade em constante vigilância, é a tônica do videoclipe. As imagens, que remetem a códigos gestuais secretos, acompanham esta regravação, em roupagem completamente diferente da original.
O videoclipe tem direção da cineaste Bea Saiáns, e foi gravado inteiramente na Galícia (Espanha). O novo álbum de Luca Argel, que trará mais histórias e mais sambas, tem previsão de lançamento para o dia 17 de fevereiro, e irá se chamar Samba de Guerrilha.
“O objetivo é mostrar o samba como um elemento de resistência, de registro histórico e como um fio, que une várias culturas existentes no Brasil” diz Luca, que vive de música, em Portugal, há oito anos. “Sendo assim, a partir do samba é possível contar muitas histórias e resgatar personagens míticos como o Almirante Negro João Cândido, que se tornou um bravo representante da resistência negra”.
Sobre Luca Argel
Cantor e compositor brasileiro, carioca da gema e formado em música pela UNIRIO. É mestre em Literatura pela Universidade do Porto, em Portugal. Migrou para além mar em 2012, para estudar, e por lá ficou.
É vocalista e compositor dos grupos Samba Sem Fronteiras e Orquestra Bamba Social, com quem divide a alegria de difundir a sonoridade e poesia da música brasileira em Portugal.
No rádio, é roteirista e apresentador do programa diário Boi Com Abóbora na Rádio Nova FM (Porto), dedicado exclusivamente à música brasileira.
Tem livros de poesia publicados no Brasil, Espanha e em Portugal. Um deles foi semifinalista do Prêmio Oceanos 2017, considerado um dos prêmios literários mais importantes entre os países de língua portuguesa.
Discos solo:
Tipos que tendem para o silêncio (2016)
Bandeira (2017), considerado pelo site Embrulhador um dos melhores lançamentos da MPB
Conversa de Fila (2019), o último trabalho, aprofunda ainda mais a linha de trabalho focada na linguagem do samba.
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