Capitão Fantástico, dirigido por Matt Ross e protagonizado por Viggo Mortensen, é um drama encantador que traz em seu bojo a história de uma família não convencional, pelo menos aos padrões comportamentais comumente aceitos em uma sociedade liberal capitalista, conduzida por Ben (Viggo Mortensen) e Leslie (sua esposa), que buscam proporcionar a seus 06 (seis) filhos uma vida mais conectada à natureza e desprendida dos hábitos consumeristas inerentes à vida urbana. Frente a esta proposta, nos é apresentado o cotidiano deste grupo familiar, virtuosa em suas práticas de sobrevivência, cuidados com a saúde, senso de coletividade e minimalismo, bem como o zelo com a educação, sempre de maneira a realçar conhecimentos basilares de inúmeros setores da vida, a exemplo da filosofia e da arte.
A conotação política é prontamente perceptível no longa, que destaca as incongruências da vida conduzida pelo instinto capitalista, geralmente associado a depreciação da natureza, a concentração de capital e doenças típicas do mundo atual, como a obesidade. O longa muda de perspectiva no momento em que Leslie (progenitora) falece, sucumbindo a uma enfermidade que a assolava a algum tempo. Neste ponto, o antagonismo político se evidencia, uma vez que os pais da falecida representam a tão cobiçada família conservadora/burguesa, criando impactos culturais irremediáveis, palpáveis nas distintas crenças religiosas, no uso de medicação laboratorial e presente até na escolha do rito fúnebre a ser adotado a favor da finada.
Nessa perspectiva, Ben e suas proles caem na estrada, em um típico filme road movie, a fim de defenderem as escolhas construídas e estimuladas por Leslie, deslocando-se para a cidade, sendo, para estes, uma verdadeira “selva”. Neste ponto, o telespectador é alimentado com vários prós e contras, evidenciando a fragilidade de cada uma das filosofias de vida. Observe-se que reflexos dessa dicotomia proposta no filme encontram-se presentes no seio da sociedade brasileira, podendo ser citado aqui a defesa ou não do Homeschooling (ensino domiciliar). Adverte-se que nos Estados Unidos da América é legal o ensino doméstico, não existindo qualquer irregularidade na opção de educação adotada pela família de Ben.
Nesse ponto, no ano de 2018, nossa Suprema Corte (STF) posicionou-se pela constitucionalidade desta modalidade de ensino, contudo, a torna ilegal apenas por falta de regulamentação. Ou seja, enquanto não se aprove uma legislação que regule o ensino doméstico, ele continuará sendo coibida pelo Estado Brasileiro. Inclusive, o Código Penal Brasileiro incrimina o ato de pais que não matriculam seus filhos em escola, sem um justo motivo para isso, definindo tal omissão como abandonado intelectual, podendo ensejar a condenação por detenção de 15 dias a 1 mês ou multa – art.246, do CP.
Muitos são os projetos de lei que tramitam no Congresso Nacional, existindo inúmeros pontos a serem abordados e discutidos, haja vista a complexidade da matéria. Como fonte de pesquisa, aconselha-se a leitura da matéria https://www.camara.leg.br/noticias/694872-deputados-defendem-regulamentacao-do-ensino-domiciliar-no-pais-com-apoio-do-governo/ que aponta a existência de 07 (sete) projetos de lei relacionados a este tema e que estão sendo analisados pelos parlamentares.
Assim, Capitão Fantástico é um longa rico em sua proposta de discussão, que traz em sua narrativa um humor leve e sarcástico, abordando as afetuosas, mas também tortuosas, relações familiares, fato esse vivenciado por qualquer indivíduo. A trilha sonora também é uma marca do filme, guardando cenas belíssimas, que tocam e harpejam nossos corações. Que possamos emanar amor e que nossas famílias sejam um desses propulsores!
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Fonte: Agência Câmara de Notícias
DENI FILHO – CINE & LAW