“Os Indomáveis“, live action baseada na novel chinesa BL (Boys Lovers) Mo dao Zu Shi e dirigida por Chen Jialin, que devido sua visibilidade teve seus direitos comprados pela Netflix, ganhou não só atenção da grande fandom, como também se destaca pelo roteiro sólido e elenco com atuações dignas de Oscars. No decorrer da primeira temporada estipulada com 50 episódios, mostra um incrível trabalho de produção e trilha sonora impecável..
A história se passa na China imperial, onde há mestres do cultivo, que dominam artes remanescentes através do seu núcleo dourado, isto é, esse núcleo é capaz de não apenas ajudá-los a empunhar suas espadas, como sobrevoar nos ares, lançar feitiços e dominar utensílios mágicos. Nesse mundo místico existem os mestres do cultivo, que tem suas respectivas culturas e rituais que provém de suas seitas através dos clãs principais: GusuLan (Clã Lan), LanlingJin (Clã Jin), QishanWen (Clã Wen), QuigheNie (Clã Nie) e YunmengJiang (Clã Jiang). As 4 seitas em questão são dominadas pela grande seita esmagadora Wen, conhecida por seus atos ditatoriais e cruéis.
O romance foca nos personagens Wei WuXian (Xiao Zhan), um jovem muito descontraído, inteligente e bastante indisciplinado, que quando criança ficou órfão e assim foi adotado pelo melhor amigo de seu pai, o líder da seita Jiang. Criado como filho legítimo, cresceu e logo é enviado junto ao seu irmão para estudar o cultivo na Seita GusuLan, já que o Lider Quiren era famoso por criar grandes mestres do mundo da cultivação, dentre esses Lan Xinchen e Lan Wangji, nomeados as duas Jades de Lan. O ator Xiao Zhan no papel de Wei Wuxian teve uma performance tão energética e transparente, desde suas coreografias de lutas tão quanto as cenas em que se desmanchava em lágrimas mostrando as camadas emotivas de seu personagem, essa entrega fez com que não ocorre-se um estranhamento por cenas mais intimas de seu parceiro de cena.
Lan Wangji (Wang Yibo), nosso segundo personagem principal, é a segunda Jade de Lan. O belo homem de traços finos e feição estática, tem sua personalidade meio introspectiva, bastante íntegro, imaculado e um completo seguidor das inúmeras normas da seita que é extremamente regrada. Um prodígio e orgulho de seu clã, que sequer esperava pela ilustre presença de Wei Ying e que no momento que tivesse o primeiro contato com ele, sua vida dentre suas emoções tornaram-se cada vez mais vulneráveis e até mais significativas. Wang Yibo, o rapper e dançarino principal da banda de C-pop Uniq, destacou-se em seu papel com plena ternura enquanto contracenava. A sua atuação foi corporal, reclusa e intimista. Olhares, gestos, suspiros e lágrimas. Não há ninguém que pudesse dar vida a esse personagem de poucas palavras que carrega uma grande carga emocional. Não foi necessário um beijo ou uma grande cena romântica para que ficasse nítido, o amor que o Lan Zhan sentia para com sua alma gêmea Wei Ying!
Wang Zhuocheng, como Jiang Cheng teve seu destaque em entregar toda a complexidade do personagem, isto é, as camadas emocionais do personagem, essas eram expostas em cada cena no qual ele aparecia. Era aparente seu complexo de inferioridade, rivalidade, fúria, medo, transtornos compulsivos e também uma certa necessidade de autocontrole. Essa bipolaridade é entregue, e é muito bom assistir a evolução do personagem no decorrer dos episódios tornando cada cena de dualidade emocional com Wei WuXian impactante e muito emotiva.
Meng Ziyi, como Wen Qing ganhou mais visibilidade no dorama por participar efetivamente de cenas que são cruciais para o desenvolvimento na trama. Na novel a personalidade dela é bem pedante, o que causou um estranhamento para o fandom quando se depararam com a frágil e submissa senhorita Wen, que nos foi apresentada.
Xuan Lu, como Jiang Yanli na live action, assumiu cenas que em comparação a novel, eram para serem entre WangJi e A-Xian. Ou seja, as cenas mais íntimas, onde o WuXian mostrava sua fragilidade, medos, amores e prazeres eram ao lado de sua irmã. (Tudo isso de forma menos romântica possível).
Há destaque no personagen Wang Haoxuan como Xue Xang, seu personagem é um tanto problemático, o típico bad boy facil de se apaixonar, mas capaz de roubar completamente os olhares. E toda a história passa a ser contada na perspectiva dele, tornando-se o típico vilão que é impossível odiar.
Bem, de fato é uma longa introdução, e mesmo longa, ainda é considerável incompleta devido à complexidade da obra. Sua autora, a escritora Mo Xiang Tong Xiu, teve sua vida completamente transformada depois desse grande sucesso. A live action por sinal, teve inúmeros problemas antes mesmo de suas gravações, em vista que a novel tratava explicitamente os personagens Wei WuXian e Lan WangJi como um casal homoafetivo. E devido a censura do país, a produção decidiu adaptar a obra entregando os personagens com um casal hetero. Devido à enorme repercussão e renúncia da própria escritora, voltaram atrás… Com isso, o roteiro teve um grande destaque devido a sua inteligência de trabalhar com subtexto, não deixando o “Ship” acabar como também demonstrando um ato romântico através de gestos simplórios, porém muito significativos.
O figurino de alta costura, teve um grande cuidado de explicitar o detalhamento, além dos acessórios essenciais de cada personagem. Com essa caracterização, mostra o quanto a produção se preocupa em fazer tudo de forma minuciosa, não deixando de lado nenhum acessório crucial para trama. Agregando para a ambientação, já que cada clã teve seu cenário próprio e cada característica também estava lá, com um detalhe diferencial desde as flores de lótus, as lâminas das espadas, as cachoeiras em que gravaram, os mares em que nadaram, o peixe cru que tiveram que comer no decorrer das cenas. Tudo foi feito para trazer uma afinidade com o fandom.
Já a trilha sonora, foi feita originalmente para cada personagem e suas respectivas ações perante as cenas mais dinâmicas. Foi magnífica! A música tema ganhou inúmeras premiações na Ásia como música do ano: Wu Ji, interpretada por Xiao Zhan e Wang Yibo e originalmente conhecida como WangXian. Essa música estabeleceu a identidade desse lindo dorama, trazendo consigo uma instrumentalidade única.
No momento que havia necessidade de instrumentalizar o CGI, deixa muito a desejar em vista do diferenciamento sociocultural. Em breve comparativo, quando a pauta torna-se nuances fílmicas, a China tem uma amplo olhar para os grandes palcos teatrais, e o cinema gira em torno da dramaturgia, fantasia e misticismo. Então, utilizar um CGI consideravelmente imaturo, tornou-se uma tradição irrevogável. Que não prejudica a obra, porém haveria uma possibilidade considerável de ser melhor. É um mero detalhe se comparado com tudo que é apresentado no decorrer desse dorama.
Por fim, muito foi cobrado para o enredo do dorama, sobre como ele iria se encaminharia no decorrer dos 50 episódios, pois, de fato, a natureza da novel é bem mais intimista expondo os personagens principais como um casal. Já na live action são “amigos íntimos”, que dentre essa intimidade partilham: história, cicatrizes idênticas sobre seus corpos, desejos, carinhos, zelo, entrega, suporte, lealdade… Realmente seria tão necessário um beijo para tornar esse suposto relacionamento legítimo? Seria necessário mais um clichê dentre tantos outros sobre o romance homoafetivo tornando ainda mais o assunto do beijo polarizado criando uma cena ainda mais genérica? É claro que não!
Com Os Indomáveis, vemos um ato revolucionário na TV chinesa, que ousa adaptar a novel que é reconhecida por obter tamanha complexidade e simbolismos. O trabalho dos roteiristas foi trazer algumas alternâncias e criar novos elementos para a fluidez da trama, afinal, o relacionamento entre os dois homens está lá. Todas as referências por trás da roupagem e gestos, até mesmo pela faixa de Lan WangJi que obtém tanta significância no aspecto sentimental. É para além do romance entre dois belos homens, que lutam contra o mal junto a suas espadas. É um convite para você, cinéfilo conhecer a China com todo seu misticismo, com sua paleta de cores muito vivaz, os grandes bosques, seus pratos picantes e vinhos fortes. Sua língua e caligrafia, sua fotografia como um retrato de uma geração atual fundamentada numa cultura milenar.
Critica por: Vitoria Rapallo
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Eu amei do fundo do meu coração essa crítica, você conseguiu transmitir todo o sentimento que tive ao ver essa belíssima obra, Espero um dia que obras orientais como essa tenham mais visibilidade e recebam seus devidos reconhecimento.
Sou a Camila da Silva, e quero parabenizar você pelo seu artigo escrito, muito bom vou acompanhar o seus artigos.
Muito obrigado, pelos comentários Camila e Ana Carolina!